Luto

Morre Elyanna Caldas, referência da música erudita em Pernambuco e membro da APL

Artista construiu trajetória internacional e teve papel decisivo na formação musical no estado

Elyanna Caldas - Site da APL

A pianista, professora e acadêmica Elyanna Caldas faleceu nesta quinta-feira (12), aos 88 anos, no Recife. Reconhecida como uma das mais expressivas representantes da música clássica em Pernambuco, Elyanna ocupava a Cadeira nº 14 da Academia Pernambucana de Letras (APL) e teve papel central na estruturação do ensino musical no estado. Sua morte foi comunicada com pesar por instituições como a APL e o Conservatório Pernambucano de Música, do qual foi diretora em duas ocasiões.

A morte da artista gerou grande comoção no meio cultural. O presidente da APL, Lourival de Holanda, afirmou que Elyanna “era uma pessoa muito importante para nós, porque fazia a ligação entre a Academia e a música, algo que a gente vinha tentando fazer há muito tempo”. Ele destacou ainda sua relevância nacional e internacional, mencionando as premiações recebidas no Brasil e no exterior. “Nossos sábados e até domingos musicais tinham a marca dela. Então, perdemos muito com a partida de Elyanna, que foi exemplar como musicista e como amiga”, afirmou.

A diretora da Academia, Margarida Cantarelli, também prestou homenagem.

“Elyanna foi uma grande pianista, uma grande intérprete. E a música, não só de Pernambuco, mas do Brasil, perde muito com o falecimento dela. Na Academia, era uma acadêmica sempre presente, apoiando os programas culturais — ela mesma, pessoalmente, coordenava os projetos de música da Academia durante vários anos. Eu, pessoalmente, perco uma grande amiga, uma amiga de muitos anos”, disse.

O Conservatório Pernambucano de Música também divulgou nota, enaltecendo sua atuação como docente, diretora e difusora da música clássica no estado. “Seu legado é imenso, sua ausência irreparável”, diz o comunicado. “Sua vida foi dedicada à arte, ao ensino e à beleza. Que sua memória continue a inspirar e a ressoar nos corações de todos que fazem a música em Pernambuco”.

Trajetória
Natural do Recife, Elyanna iniciou os estudos ao piano ainda na infância. Aos dez anos, realizou seu primeiro recital, e aos 17 representou o Brasil no V Concurso Internacional Frederic Chopin, em Varsóvia, na Polônia. Em 1957, conquistou o primeiro lugar no Concurso Magda Tagliaferro, no Rio de Janeiro, o que a levou a cursar a École Normale de Musique de Paris com bolsa de estudos. Em sua formação, também constam passagens por Viena e Varsóvia, com participações nos Festivais de Salzburg em 1957, 1958 e 1967.

De volta ao Brasil, a pianista optou por priorizar o ensino e a difusão da música erudita em seu estado natal. Foi uma das fundadoras do curso de Música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde lecionou entre 1960 e 1986. No Conservatório Pernambucano de Música, que dirigiu de 1987 a 1991 e entre 1995 e 1999, implantou iniciativas como o Quartas Musicais, as Estações Musicais e os concertos explicativos em espaços públicos, ampliando o acesso à música instrumental.

Além da atuação como docente e concertista, Elyanna esteve à frente de projetos relevantes para a cena cultural local. Em 1983, fundou o Movimento Arte e Cultura do Nordeste, com o objetivo de integrar diferentes áreas artísticas e incentivar jovens talentos. Também idealizou e coordenou festivais no Recife, como os dedicados a Schumann e Chopin (2010), Liszt e Mendelssohn (2011) e Debussy e Albéniz (2012).

Sua discografia inclui cinco álbuns, entre eles Simplesmente Capiba e O Piano em Pernambuco, com foco na obra de compositores locais. Em 2019, foi eleita para a Academia Pernambucana de Letras, sendo autora do livro "Caminhos de uma Pianista".