Paolla Oliveira mergulha na complexa construção de Helena Roitman no remake de "Vale Tudo"
Atriz dá nova versão ao papel que, inicialmente, foi interpretado por Renata Sorrah
Papéis de destaque e inúmeras protagonistas nunca distorceram a visão de Paolla Oliveira sobre sua profissão. Por mais reconhecimento que tenha, a atriz de 43 anos sabe que uma série de movimentos são necessários para conquistar certos papéis.
No elenco de “Vale Tudo”, Paolla não se fez de rogada ao pedir para a autora Manuela Dias e o diretor Paulo Silvestrini a chance de um teste para viver a dramática Heleninha Roitman.
“Nada caiu no meu colo na minha vida. Tudo foi a partir de um movimento feito por mim. Poderia dar certo ou não. Mas deu e estou muito feliz de estar vivendo esse papel tão importante na dramaturgia”, afirma.
Na novela das nove, Heleninha é filha da temida Odete Roitman, papel de Debora Bloch. Artista plástica reconhecida, ela passou a fazer uso do álcool como catalisador social, o que se tornou um vício.
Quando bebe, a artista de elite, tímida, se transforma em uma mulher que fala alto e com escárnio, desafiando qualquer estrutura de poder, inclusive sua mãe.
“A Heleninha é uma personagem bastante complexa que faz parte dessa família disfuncional que são os Roitman. A relação dela com a mãe é conturbada. A Odete é rígida, tem um amor frio. E a Heleninha tenta preencher isso nas artes, no amor pelo filho, amando tudo em volta com muita intensidade. E, por ser alcoolista, todos os problemas dela giram em torno disso”, defende.
P – A oportunidade em “Vale Tudo” chegou até você logo após o fim do seu contrato de quase 20 anos com a Globo. Como surgiu o convite para viver a Heleninha?
R – Eu pedi para fazer um teste. Sei que há uma adequação de personagem, né? Uma espécie de teste. Algumas pessoas não gostam de chamar assim. Mas acho uma maneira honrada e válida para se entrar num trabalho. Acho que algo muito justo.
P – Por quê?
R – É justo que um diretor ou autor possam ver você naquele personagem pelo menos por um dia. E fico muito feliz que minha entrada na novela tenha sido assim. Foi cara-de-pau da minha parte fazer esse pedido (risos).
Mas acredito que nada na minha vida tenha caído no meu colo. Nunca foi assim. Sempre há um movimento por trás e dessa vez não foi diferente. Podia não ter dado certo, mas deu e estou bem feliz.
P – Antes mesmo da estreia, “Vale Tudo” foi um projeto cercado de críticas e expectativas. Como tem sido lidar com todas os comentários que envolvem o folhetim das nove?
R – Desde o início, eu entendo que “Vale Tudo” seria um projeto cheio de expectativas. Eu entendo que expectativas só servem para frustrar a gente.
Então, grande parte do meu trabalho tem sido não pensar nessas expectativas todas. Eu tenho focado no meu trabalho mesmo. Grande parte do meu trabalho, na verdade, tem sido não pensar nisso e focar apenas na caminhada da Heleninha. Estou feliz porque estou vivendo uma personagem que eu queria muito fazer.
P – Como assim?
R – Eu queria muito esse papel e estou me dedicando a isso. Quando eu recebi sim e deu certo, eu fui por todos os caminhos. Essa personagem é tão grandiosa que merecia essa dedicação gigantesca e minuciosa. Fui em busca de diversas literaturas, reuniões do AA e busquei referências em outros trabalhos que tivessem essa temática.
P – Chegou a assistir a versão original?
R – Vi um pouco da versão original, sim. Não tem como não ver a Renata (Sorrah) trabalhando. Mas, por respeito ao trabalho dela, eu tentei fazer algo novo para essa Heleninha após 30 anos. Trago um olhar renovado para ela. Consigo entender a Heleninha muito mais a partir do texto da Manuela. São muitas questões que vão além do transtorno por uso de álcool.
P – De que forma?
R – O tema do alcoolismo é importante, mas qual é a batalha dessa mulher para existir além dessa doença? As relações dela com a mãe, a tia e o Marco Aurélio, por exemplo, são fundamentais também. Participei de reuniões do AA mistas, mas também reuniões só de mulheres.
O estigma sobre as mulheres é mais pesado. A moral pesa mais, né? Tudo é mais pesado para mulher. Nas brechas da doença, eu quero que o público veja a Heleninha artística plástica, mãe, filha...
P – Considerada a novela das novelas, “Vale Tudo” é um grande marco na história da dramaturgia brasileira. Como tem sido encarar a responsabilidade que cerca esse remake?
R – Eu não nego para ninguém que sigo com meu frio na barriga intacto. Aliás, se for sem frio na barriga, a gente nem vai (risos).
Não saberia trabalhar sem outra motivação. Sempre arrumei algo para me motivar, mas em “Vale Tudo” nem precisei, né? Só de saber que viveria a Heleninha já fiquei motivada.