BRASÍLIA

Fusão do PSDB ao Podemos sobe no telhado

As divergências nos estados e a disposição dos executivos das duas legendas comandar a nova sigla são a principal causa do impasse

Marconi Perillo (PSDB) e Renata Abreu (Podemos) - Júnior Soares/Arquivo Folha e Mário Agra/Câmara dos Deputados

Estava escrito nas estrelas que a fusão do PSDB ao Podemos não daria certo e a confirmação se deu no fim de semana com o anúncio formal da direção nacional tucana. Inicialmente, as divergências nos estados já pareciam como principais barreiras. A nota oficial do PSDB informa que a desistência se deu porque os presidentes dos dois partidos não abriram mão de comandar a nova legenda.

É o chamado olho grande. Marconi Perillo, presidente tucano, e Renata Abreu, a cacique-mor do Podemos, travaram uma briga que ninguém conseguiu apartar pela presidência da nova legenda, fruto da fusão dos dois partidos. O engraçado é que o PSDB havia confirmado a fusão uma semana antes numa concorrida convenção em Brasília.

Pela proposta dos tucanos, o comando do partido seria exercido em sistema de rodízio, com mudanças a cada seis meses em um primeiro momento e depois como alternância a cada ano. A sugestão não foi aceita pelo Podemos e as duas siglas resolveram encerrar as tratativas.

As duas siglas têm hoje tamanho parecido no Congresso. Na Câmara são 13 deputados do PSDB e 15 do Podemos, enquanto no Senado são três senadores tucanos e quatro do Podemos. A tentativa de fusão aconteceu em meio a um processo de desidratação do PSDB, que já comandou a Presidência da República por dois mandatos com Fernando Henrique Cardoso e polarizou a política nacional com o PT por cerca de 20 anos, mas que hoje tem uma bancada diminuta no Congresso, de governadores e de líderes nacionais.

Nas perdas mais recentes, os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de Pernambuco, Raquel Lyra, saíram do PSDB e se filiaram ao PSD. Agora, a estratégia do PSDB passa por apostar em uma federação, que diferente da fusão pode ser desfeita após quatro anos e mantém a estrutura e autonomia dos comandos internos de cada partido, ainda que seja preciso que as legendas tenham as mesmas posições nas eleições e no Congresso.

Em busca de parceiros

Uma federação permite somar os resultados nas eleições para deputados federais de todos os partidos que a compõem, o que facilita ao grupo cumprir os requisitos da cláusula de desempenho, que limita quem pode ter fundo partidário e tempo de propaganda. O PSDB hoje está em uma federação com o Cidadania, mas por discordâncias nos estados ela será desfeita quando perder a validade no começo de 2026. Agora, os tucanos miram uma nova federação com partidos como Republicanos, MDB, Solidariedade e até o Podemos, já que, diferente de uma fusão, haveria menos necessidade de disputa para o comando da nova estrutura.

Briga feia em Pernambuco

As desavenças para o controle do novo partido, resultado da fusão do PSDB ao Podemos, se acentuaram também fortemente em Pernambuco. A queda de braço ocorreu entre o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB), e o presidente do Podemos, Marcelo Gouveia. Após o anúncio da iniciativa pelas direções nacionais de ambas as legendas, eles partiram para o tudo ou nada em busca do controle. Aliado de João Campos, Porto queria o novo partido apoiando a candidatura do socialista a governador, enquanto Marcelo insistia em levar para a aliança de reeleição da governadora Raquel Lyra (PSD).