ABIN PARALELA

O que é a Abin, agência de inteligência que foi usada para espionar adversários de Bolsonaro?

Fundada em 1999, tem como função fornecer informações estratégicas ao presidente da República e seus ministros

Abin - Antonio Cruz/Agência Brasil

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está no centro do maior escândalo de espionagem do país, com provas do uso de sua estrutura e servidores para levantar informações sobre políticos, jornalistas, servidores públicos, advogados e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um grupo, sob a chefia do deputado federal Alexandre Ramagem, então diretor da Abin, utilizava uma ferramenta chamada FirstMile para monitorar a localização de alvos pré-determinados por meio dos aparelhos celulares. O uso da ferramenta revelado pelo GLOBO em março de 2023.

A Abin foi fundada em 1999 e tem como função fornecer informações estratégicas ao presidente da República e seus ministros. A agência também levanta dados e faz análises sobre temas como proteção das fronteiras, segurança de infraestruturas, contraespionagem e terrorismo, e demais questões que possam ameaçar o Estado Democrático de Direito e a soberania nacional.

A Abin é vinculada à Casa Civil, mas de 2016 a 2023 o órgão integrou a estrutura do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que no governo Bolsonaro era chefiado pelo general Augusto Heleno.

Desde que o caso da Abin paralela foi revelado, foram identificados alvos como membros da cúpula do Judiciário, da Câmara dos Deputados, além de jornalistas. Conforme O GLOBO revelou em março do ano passado, os dados dos alvos eram coletados por meio da troca de informações entre os celulares e antenas para conseguir identificar o último local conhecido da pessoa que portava o aparelho.

O programa FirstMile é desenvolvido pela empresa israelense Cognyte. A agência adquiriu o sistema por meio de um processo de dispensa de licitação por R$ 5,7 milhões no fim de 2018, ainda no governo do ex-presidente Michel Temer. A ferramenta foi usada ao longo do governo Bolsonaro até meados de 2021.

O programa rastreia onde está uma pessoa a partir dos dados do seu celular. Para levantar essas informações, os envolvidos no grupo apenas digitavam o número do celular no programa e obtinham essas informações sem decisão judicial. É possível fazer a consulta de até 10 mil donos de celulares a cada 12 meses.

A PF identificou ao longo da investigação que a Abin paralela produziu dossiês de forma ilegal e atuou para disseminar notícias falsas sobre integrantes da cúpula do Judiciário e do Legislativo, servidores públicos, políticos e jornalistas A investigação aponta que o esquema, montado também para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso da “rachadinha”, funcionava a mando do então diretor-geral do órgão, Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL e aliado do ex-presidente.

A Abin paralela também atuou, segundo a PF, livrar outro filho do ex-presidente, o agora vereador eleito em Balneário Camboriú Jair Renan Bolsonaro (PL), de uma investigação envolvendo suspeitas de tráfico de influência no governo. Posteriormente, a apuração foi arquivada.

O caso envolve a abertura de um escritório no estádio Mané Garrincha, em Brasília, por Renan e seu então personal trainer para angariar patrocinadores dispostos a investir no novo negócio do filho do presidente. Renan teria ganhado um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil por um empresário do Espírito Santo que estava interessado em ter acesso ao governo. Quando a PF começou a investigar o caso, a Abin passou a seguir os passos do ex-personal.

A ação de espionagem foi flagrada pela Polícia Militar do Distrito Federal, que abordou um integrante da Abin dentro do estacionamento do ex-sócio do filho do presidente. Ao prestar esclarecimentos na PF, o agente da Abin envolvido na ação disse que havia recebido a missão de um auxiliar de Ramagem de levantar informações sobre o carro.