RISCO

Quão perto o Irã estava de obter a bomba atômica? Fontes americanas falam em até 3 anos de distância

Avaliação sobre a produção de um arsenal atômico passa por dois fatores: a vontade iraniana em produzi-lo e a capacidade técnica para fazê-lo

Bandeira do Irã - Arquivo/AFP

Quando Israel anunciou um amplo ataque contra o Irã nas primeiras horas da sexta-feira (quinta-feira em Brasília), o governo israelense apontou para Teerã como uma ameaça existencial ao Estado judeu, mencionando especificamente o programa nuclear iraniano como uma ameaça — embora o país do Golfo Pérsico insista que o desenvolvimento desta tecnologia é usado para atingir fins pacíficos.

Observadores internacionais apontam que os iranianos aumentaram significativamente a produção de urânio enriquecido nos últimos anos, classificando a situação como preocupante, mas, apesar disso, avaliações de inteligência dos EUA apontavam que o país provavelmente não conseguiria produzir uma bomba atômica de forma imediata.

Israel acusou o Irã no sábado de estar determinado a desenvolver armas nucleares após um relatório da ONU apontar que a República Islâmica havia intensificado a produção de urânio enriquecido em um patamar elevado — no que foi apontado pelo premier israelense, Benjamin Netanyahu, como um "claro sinal de alerta", sob a justificativa de que o nível de enriquecimento apontado existe apenas em países que "buscam ativamente armas nucleares e não tem qualquer justificativa civil".

A conclusão israelense é diferente daquela apresentada recentemente pela diretora de Inteligência Nacional dos EUA, Tulsi Gabbard. Em depoimento a uma comissão da Câmara dos Deputados, em março, Gabbard afirmou que a avaliação da comunidade de inteligência era de que o Irã não estava construindo nenhuma arma nuclear, e que o aiatolá Ali Khamenei não havia autorizado qualquer programa de fabricação de armas atômicas — que o próprio suspendeu em 2003.

A avaliação sobre a produção de um arsenal atômico passa por dois fatores: a vontade iraniana em produzi-lo e a capacidade técnica para fazê-lo. Fontes de inteligência americanas ouvidas pela CNN afirmaram recentemente que não havia indício de mudança no comportamento do Irã, e que o país estava a até três anos de distância de conseguir fabricar uma arma capaz de atingir um alvo pré-definido.

Outras previsões indicam um tempo mais curto. O Iran Watch, um monitor do desenvolvimento do arsenal iraniano com base nos EUA, estimou em março que o país teria capacidade de produzir urânio enriquecido para até cinco bombas de fissão nuclear em questão de uma semana. Contudo, o processo de transformá-lo em arma poderia durar de 4 meses a 1 ano e oito meses.

Fontes citadas pelo New York Times em fevereiro afirmaram que autoridades americanas estimavam que a transformação de urânio enriquecido em uma ogiva sofisticada capaz de ser montada em um míssil balístico demoraria de um ano a um ano e meio. Algumas estimativas israelenses, segundo o jornal americano, eram ainda mais longas: de dois anos ou mais.

Mas se a capacidade técnica ainda cobraria um tempo para que o Irã pudesse de fato construir uma arma nuclear, o sinal de alerta mencionado por Netanyahu pode ter relação com o ânimo dentro do regime para a produção da bomba atômica — embora a obsessão do premier com o programa nuclear não seja nova.

Em dezembro de 2005, menos de dois meses após o então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad fazer um apelo para "varrer Israel do mapa", Netanyahu, então na oposição, declarou que o programa nuclear iraniano "representa um grave perigo para o futuro" de seu país. Na época, ele afirmou que Israel "deve fazer todo o possível para impedir que o Irã" obtenha a bomba atômica, o que já levantava a possibilidade de ataques militares.

Netanyahu tornou-se primeiro-ministro em 2009, cargo que ocupa desde então, exceto por um hiato de um ano e meio em 2021-2022. Ao longo desses anos, o líder afirmou repetidamente que não acredita nas negações da República Islâmica sobre seu programa nuclear civil e frequentemente ameaçou usar a "opção militar" contra Teerã.

Em 2015, ele descreveu o acordo internacional assinado em Viena entre diversas potências e Teerã para aliviar as sanções internacionais em troca de garantias destinadas a impedir o Irã de adquirir armas nucleares como um "erro histórico".

Três anos depois, ele aplaudiu a decisão de Trump de retirar Washington do pacto. Em resposta, Teerã deixou de cumprir seus compromissos até enriquecer urânio a níveis próximos ao necessário para a produção de armas.

Durante esse período, o Mossad, o serviço secreto israelense, atuou no Irã e realizou diversas operações de grande escala contra o programa nuclear iraniano. Israel, que nunca confirmou ou negou possuir armas atômicas, possui 90 ogivas nucleares, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI).

Nesta sexta, à bordo do Air Force One nesta terça-feira, Trump, fez pouco caso da conclusão da chefe de inteligência do país apresentada à Câmara em março.

— Não me importa o que ela disse. Acho que eles estavam muito perto de obtê-la — afirmou.

Gabbard rapidamente saiu a público e afirmou que não havia diferença entre a avaliação de Trump e a sua, e culpou a mídia por uma suposta interpretação errônea de sua fala no Congresso.