Drag queen do Recife critica excesso de gogoboys nos trios da Parada

Sasha Candy defende que as pessoas fora da comunidade LGBT conheçam as diferenças

Drag queen Sasha Candy - Thaísa Jatobá/Portal FolhaPE

Para a drag queen Safira Blue, a representação do universo feminino deveria ser maior nas paradas da diversidade do Nordeste. Safira e outros cinco amigos - sendo quatro drags - do Recife autorizaram a reportagem do Portal FolhaPE acompanhar, neste domingo (17), a "montagem" delas para ir à Parada da Diversidade no Recife.

"Enquanto no Sudeste muitas são convidadas para participar da Parada, aqui ainda preferiam 'gogoboys', que colocam novamente o homem no centro das coisas", reclama Safira. O gogoboy, para quem não está habituado aos termos, é aquele estereótipo de homem musculoso que faz apresentações eróticas, geralmente em troca de dinheiro. 

"Drag queen é uma expressão artística. Para ser drag você pode ser hétero, gay, transsexual, mulher...", explica Sasha Candy.

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"A gente pode representar muito melhor, pode trazer o que o LGBT é de maneira muito mais verossímil do que o Gogoboy, que está simplesmente exibindo ali um corpo padrão. O que a gente quer é valorização e espaço, para mostrar de verdade toda a dor e felicidade que o LGBT tem para o mundo", defende Safira Blue.

Para Sasha Candy, a visibilidade de uma drag na televisão é importante porque as pessoas acham "que tudo se resume a gay". "É legal que as pessoas fora da comunidade (LGBT) conheçam as diferenças, até porque quem assiste novela normalmente não está no meio", afirma ela.

Montagem
A casa é um primeiro andar amplo no bairro de Jardim São Paulo, na Zona Sul do Recife, moradia dividida por três amigos. Enquanto se aprontam, Sasha Candy, Mahalla, Safira Blue e Catarina Crux deixam seus nomes convencionais para trás. Safira deixa de ser design gráfico para tocar na noite, Mahalla esquece o curso de biomedicina para fazer perfomances. A única que está quase inteiramente na "vida drag" é Sasha, que pretende levar a carreira de maquiagem para outros patamares após fazer um curso profissionalizante.

Enquanto se montam, o pronome utilizado é apenas o feminino, como realmente um artista que encara uma personagem. Isso não é motivo de estresse para elas: "é só perguntar que a gente explica", esclarece Sasha.

A produção começou por volta das 9h. Em seu segundo ano desfilando no trio da Parada no Recife, Sasha Candy carrega na maquiagem para destacar os olhos e maximizar a expressão - são suas são marcas registradas. De acordo com ela, só a maquiagem demora cerca de duas horas para ficar pronta. 

As perucas começaram a ser adquiridas pouco depois das primeiras montagens, importadas por meio de um site. Custam em média R$ 180 mas, se compradas no Brasil, o valor passaria de R$ 300. Os looks são produzidos por uma delas, Mahalla, que produz o material em uma máquina de costura em casa. 

As conversas variavam entre as baladas que frequentam e as expectativas para o dia de hoje - a parada é considerada um palco onde elas desfilam de cabeça erguida e maquiagem impecável.

Inspiração
Sasha apareceu há três anos, quando uma amiga apresentou a ela a série de TV RuPaul's Drag Race. Já a inspiração para o rosto começou através das maquiagens da mãe mesmo. O nome escolhido é uma homenagem às "divas" Beyonce e Lady Gaga, que têm como pseudônimo Sasha Fierce e Candy Warhol.

A relação com a família delas é de aceitação mas o medo da violência ainda preocupa, especialmente no Recife. "Toda vez que ela [a mãe] escuta uma história de lgbtfobia ela se preocupa por mim" diz Sasha.