Oriente Médio

Irã x Israel: especialistas avaliam pós-conflito

Especialistas já começam a avaliar os possíveis próximos passos e o futuro da geopolítica pós-guerra

Irã x Israel: especialistas avaliam pós-conflito - John Wessels/AFP

Diante das disputas de narrativa pela vitória e do novo cenário que se desenha no oriente médio, depois de 12 dias de conflito entre Israel e Irã, especialistas já começam a avaliar os possíveis próximos passos e o futuro da geopolítica pós-guerra. O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e colunista da Folha de Pernambuco, Luiz Otávio Cavalcanti, acredita que a paz irá se consolidar no Oriente Médio a partir do fim das hostilidades entre Israel e Irã.

Ele avaliou que a região vem passando por mudanças significativas nos últimos anos na busca por modernização e pelo alcance de um estilo de vida mais parecido com o do Ocidente, e cita o crescimento turístico da cidade de Dubai como um símbolo dessas transformações. Para o especialista, a paz será mais predominante no futuro.

“Fazendo a avaliação dessa transformação profunda que existe nos últimos 40 anos, nos próximos nós vamos ter um outro cenário: de mais paz, mais prosperidade e de mais usufruto social pela população daqueles países”, apostou o professor.

A justificativa de Israel para o ataque que iniciou a guerra há mais de uma semana foi a ameaça de criação de uma arma nuclear pelo Irã. Apesar da destruição das usinas de desenvolvimento nuclear, Luiz Otávio ponderou que o risco de armas nucleares só diminuirá se a relação entre os dois países entrar num clima ameno.

“Se o termômetro da exaltação política baixar, então, efetivamente vai se resolver a questão do Irã com relação à questão nuclear. Só passou a sair de um padrão aceitável depois que a temperatura política aumentou. De modo que o pós belicismo que nós vamos, se Deus quiser, viver agora, acho que a tendência é diminuir a temperatura política e diminuir, portanto, a questão do risco nuclear no Irã”, estimou.

Fragilidade 
Por outro lado, o professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antônio Henrique Lucena, avaliou como “frágil” o cessar-fogo entre Irã e Israel. 

“Sobre a perspectiva do cessar-fogo, e o que as autoridades israelenses têm falado, especialmente o ministro da Defesa, o Katz, é que agora o Irão vai virar uma espécie de Líbano. Israel vai continuar monitorando o Irã e, a depender da necessidade de segurança, vai fazer ataques pontuais. Em um primeiro momento, a gente vai ter uma trégua frágil que deve perdurar por um certo tempo, até porque o golpe que Israel e Estados Unidos deram no Irã foi muito forte, mas que em um futuro pode romper ciclos também de violência”, afirmou. 

Ainda de acordo com Lucena, com o fim do conflito, Israel continuará focando no Hamas e na Faixa de Gaza, porém o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, terá “um trunfo para apresentar ao povo israelense”. 

“Netanyahu não tinha uma foto da vitória, e agora ele tem uma que pode apresentar. Há uma demanda muito grande dentro da sociedade israelense para que haja o retorno dos reféns. Quando eu estive em Israel e também na Cisjordânia, no ano passado, tive um breve contato com a família dos reféns, e isso era muito forte entre eles. E também, majoritariamente, a população de Israel queria, de fato, uma volta das pessoas que estavam sequestradas pelos terroristas do Hamas. Então essa pressão para a volta dos reféns vai continuar”, disse.