"Precisa desenterrar um Einstein?", ironiza André Esteves sobre crise fiscal
Para banqueiro do BTG Pactual, mesmo Congresso que derrubou decreto do IOF pode aprovar ajuste fiscal se tiver 'liderança na direção certa'
Para André Esteves, chairman do BTG Pactual, o Brasil já sabe o que precisa fazer para equilibrar as contas públicas e o Congresso tem capacidade de aprovar o ajuste, desde que sob uma liderança que vá "na direção certa". Em um debate nesta quinta-feira com o economista-chefe do banco, Mansueto Almeida, o banqueiro ironizou a ideia de que seriam necessárias soluções mirabolantes para conter a trajetória de gastos públicos.
— É uma coisa nunca antes vista? Precisa trazer ou desenterrar o Einstein para ele ver qual é a ideia mais brilhante que pode ser feita? — questionou Esteves ao ex-secretário do Tesouro, após citar que esse não é um problema somente “da esquerda, da direita ou do centro”.
Mansueto sugeriu que uma saída seria “uma medida que parece simples” e que teria efeito imediato, que é a fim da política de valorização do salário mínimo. Ele reforçou que o problema não está na arrecadação, mas na contenção da trajetória de subida das despesas.
— Por alguns anos, talvez nós não tenhamos espaço para ter aumento real do salário mínimo. — defendeu Mansueto, citando que o governo poderia continuar investindo em segurança, educação, saúde e programas sociais como alternativa. — Porque se a gente continuar com a política de aumento do salário mínimo real, de 2,5%, 3% ao ano, isso impacta muito o crescimento do gasto, nos leva a um cenário de inflação e juros maiores, e prejudica especialmente os mais pobres.
Mansueto destacou que mais de 90% do orçamento está comprometido com gastos obrigatórios e que a política de valorização tem forte nos gastos sobre a Previdência, já que o salário mínimo é a base para ajustes dos benefícios previdenciários. A análise foi feita nesta quinta-feira durante mesa de abertura do Global Managers Conference 2025, evento que reuniu executivos do BTG Pactual e gestores do mercado de capitais.
As falas aconteceram um dia após o Congresso Nacional derrubar, por ampla maioria, o decreto presidencial que aumentava as alíquotas do IOF em operações como crédito, câmbio e cartão internacional. A medida previa aumentar em R$ 61 bilhões em dois anos a arrecadação do governo.
Um 'Plano Real' para ajuste fiscal
André Esteves disse que discorda que a decisão do Congresso de derrubar o decreto signifique que “qualquer tipo de ajuste” seja inviável. Segundo ele, a decisão gerou uma sensação equivocada de “é tudo impossível de aprovar”.
— A gente discorda completamente disso. Como o Mansueto falou, está clara a direção que tem que ser feita e se você tiver liderança na direção certa, esse mesmo Congresso que aprovou as reformas vai fazer o ajuste fiscal necessário […]. É perfeitamente possível, viável, factível e o que precisa ser feito está muito claro — avaliou o banqueiro.
O tema do ajuste fiscal encerrou a mesa de cerca de 45 minutos em que os dois analisaram o cenário brasileiro e global para o mercado de capitais. O chairman do BTG destacou que o Brasil vem colhendo os frutos de uma agenda de reformas que atravessou diferentes governos. Para ele, essa sequência de mudanças estruturais ajuda a explicar o crescimento acima do esperado nos últimos anos.
Para ambos, há hoje uma janela para reequilibrar as contas públicas que passa por desacelerar o crescimento dos gastos obrigatórios. Mansueto Almeida afirmou que o debate fiscal amadureceu nos últimos anos. Esteves reforçou a ideia ao comparar o momento atual com o período pré-Plano Real.
— A gente demorou mais de uma década para resolver o problema de hiperinflação no Brasil. Não é porque as pessoas eram estúpidas, é porque não havia o consenso na sociedade do tamanho desse problema. Quando ele aconteceu, a gente resolveu isso com o lançamento do Plano Real. Então, você entender e identificar o problema é um enorme avanço — afirmou, citando que “parece” existir um consenso hoje sobre o problema fiscal.