MUNDO

Consumo global de drogas atinge 316 milhões de pessoas, alerta ONU; facção brasileira é citada

Relatório aponta que consumo e produção de drogas ilícitas alcançaram níveis historicamente elevados

Cocaína - Freepik/Reprodução

No Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, celebrado nesta quarta-feira, a Organização das Nações Unidas ( ONU) divulgou um relatório alarmante: entre 2023 e 2024, cerca de 316 milhões de pessoas consumiram algum tipo de substância entorpecente — o equivalente a 6% da população mundial.

O número representa um aumento de 28% na última década.

O Relatório Mundial sobre Drogas 2025, elaborado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), aponta que o consumo e a produção de drogas ilícitas alcançaram níveis historicamente elevados.

Segundo o documento, o crescimento está ligado à instabilidade global e ao aumento de populações em situação de vulnerabilidade.

Cannabis lidera consumo; mulheres são 25% dos usuários
A droga mais consumida no mundo continua sendo a cannabis, com 244 milhões de usuários.

Em seguida, aparecem os opioides (61 milhões), a cocaína (31 milhões), o ecstasy (25 milhões) e as anfetaminas (21 milhões). Ainda segundo o relatório, as mulheres representaram um quarto do total de usuários.

Um dos dados mais impactantes diz respeito à produção de cocaína, que ultrapassou 3.700 toneladas em 2023 — um crescimento de 34% em relação ao ano anterior e quatro vezes maior do que em 2014. O aumento é atribuído à expansão dos cultivos de folha de coca na Colômbia e à maior eficiência dos laboratórios clandestinos.

Em contrapartida, a produção de ópio no Afeganistão sofreu uma queda abrupta de 93% desde 2022, o que provocou um aumento no preço da droga e favoreceu o consumo de opioides sintéticos, como os nitazenos — alguns deles até 500 vezes mais potentes que a heroína. Apenas o fentanil foi responsável por mais de 48 mil mortes nos Estados Unidos em 2024.

Drogas sintéticas ganham espaço com produção mais fácil
A ONU também alertou para um aumento na apreensão de metanfetaminas e no surgimento de novas substâncias psicoativas. Por não dependerem de clima ou terras agrícolas, essas drogas são produzidas com maior facilidade em laboratórios clandestinos.

Segundo o relatório, América do Norte e Ásia Oriental e Sudeste Asiático seguem como os maiores mercados consumidores de metanfetamina, respondendo por cerca de 80% das 482 toneladas apreendidas globalmente em 2023. A produção, embora concentrada na Ásia, já tem sido registrada também em países da América Latina e da Europa.

Cresce tráfico de medicamentos e falsificação
O relatório também aponta o avanço do tráfico ilegal de medicamentos entre 2015 e 2023, incluindo substâncias como codeína, tramadol, ketamina, fentanil e metadona — muitas vezes falsificadas, o que representa riscos sérios à saúde pública. Os mercados mais afetados estão em Ásia e África.

O narcotráfico é hoje uma das atividades mais lucrativas do crime organizado no mundo, movimentando centenas de bilhões de dólares — valores superiores ao Produto Interno Bruto (PIB) de muitos países. Apenas nos Estados Unidos, o mercado varejista de drogas movimentou US$ 146 bilhões em 2016 (0,8% do PIB). Na União Europeia, foram € 31 bilhões em 2021 (cerca de R$ 199 bilhões), 0,3% do PIB do bloco.

Segundo a ONU, os lucros dessas economias ilegais sustentam organizações criminosas com poder para desafiar o Estado, corromper instituições e exercer controle territorial. Exemplos citados incluem o Cartel de Sinaloa, no México; a Camorra napolitana, na Itália; e o Primeiro Comando da Capital (PCC), no Brasil. Esses grupos impõem regras próprias, controlam áreas inteiras e fazem uso sistemático da violência para manter suas operações e influência.