MÚSICA

Zé Ibarra muda de rota em segundo álbum solo: "Sou muito mais produtor musical e diretor artístico"

Em 'AFIM', o integrante do Bala Desejo busca o maximalismo e a "safadeza íntima"

Zé Ibarra, integrante do grupo Bala Desejo, lança seu segundo projeto solo - Reprodução/Redes Sociais

Um futuro entre a nobre estirpe da MPB estava diante de Zé Ibarra, cantor e compositor que, aos 28 anos de idade, já gravou com Gal Costa, excursionou com Milton Nascimento e ganhou Grammy Latino com o grupo Bala Desejo. Com um álbum solo lançado em 2023, o quieto e acústico “Marquês, 256”, as expectativas de muitos eram por um disco que reafirmasse sua marca. Mas ele simplesmente não estava a fim.

Ou melhor: estava em “AFIM”, o tal segundo álbum, lançado no streaming no último dia 5 (e dos quais faz show dia 18/7 em São Paulo, no Sesc Pompeia, e 6/8 no Rio, no Teatro Riachuelo). A capa já entrega a sua nova postura: ele está escovando os dentes com um braço que não é seu.

— Qual é a cena mais brutalmente íntima que alguém vê de outra pessoa? É a daquela manhã em que acordou e vai escovar o dente junto! Quis me mostrar cru, me mostrar aberto, de cara totalmente nua. É ali também tem alguma coisa que é meio uma safadeza íntima, só que escovando o dente — explica ele, que na contracapa de “AFIM” exibe sem pudor a fartura de pelos. — Eu sou assim, não arranco meus pelos, gosto deles. Eles são uma almofada deliciosa no meu peito!

O homem que não queria ser rei (apesar de os amigos o chamarem de “príncipe”) ri da ironia de “Marquês, 256” (longe de aspirar a nobreza, o título apenas se referia ao endereço, na Rua Marquês de São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio, onde ele morou). Na direção contrária da contenção espartana daquele disco, “AFIM” se revela maximalista, mais próximo da sua natureza artística, com muitos músicos, instrumentos e cores sonoras.

— O “Marquês” é um ponto fora da curva, porque antes de ser cantor, eu sou músico, sou instrumentista. Quer dizer, eu sou instrumentista na minha cabeça. Não toco nada muito bem, mas me junto com pessoas geniais que tocam as coisas e aí é maravilhoso — divaga. — Acho que o “Marquês” mostrou um lado que eu ainda não tinha mostrado, puramente cantor. E agora eu precisava mostrar outro, porque não sou só isso. Na verdade, sou muito mais produtor musical e diretor artístico do que cantor.

“AFIM”, Zé Ibarra diz, era um disco no qual “queria falar sobre outras coisas”.

— E eu precisava dançar no palco, eu precisava de uma banda tocando comigo, eu precisava me expressar de formas um pouco diferentes, não tão introspectivas — diz. — Porque eu fiquei muito atrás dessa imagem do cantor, do violão e voz, da coisa com o Milton, eu comecei a cantar sobre temas muitos grandiosos. “Marquês” tem músicas para Deus, tem músicas sobre amor... mas não o amor carnal, um amor melancólico, platônico. Esses temas que me deixavam meio solene. Uma coisa assim... nobre!

‘Tocando sem parar’
Antes de gravar o novo disco, Zé diz ter ficado três anos “tocando sem parar” e o resultado foi que acabou “confundindo um pouco a música com o trabalho”:

— Claro que a música é o meu trabalho, mas deu aquela hiper-saturada da música. Aí eu falei: “Não, vou fazer um álbum que me faça ficar a fim de novo!”. Isso tudo, tentando trazer um pouco menos do discurso do príncipe e mais do cara mundano, que fala besteira, que até se arrepende depois, mas fala mesmo assim.

A nova energia do artista em “AFIM” pode ser sentida logo na sua recriação de “Segredo”, hit do grupo paulistano Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo.

— Acho que tenho alguma habilidade para olhar as canções e falar: “Isso pode ser diferente!” Essa música tem um lado meio safado, meio dançante, meio Banda Black Rio um balanço que não tem na original, porque é outra coisa, ela é rock e é genial — diz. — E ela tem esses versos como “mas se você quiser eu viro um segredo seu / não faço barulho e nem chamo a atenção” que eu não conseguiria escrever, pelo menos não agora na minha vida. Talvez daqui a um tempo eu consigo escrever com esse peito aberto.

Já nas suas composições, “Infinito em nós”, “Essa confusão” e “Transe”, Zé Ibarra fala, respectivamente, “do amor do passado, que foi tão bom”, “do amor do presente, do ‘eu quero, te quero agora, vem aqui’” e “do amor doente, que faz a gente ficar louco”. Ao longo das gravações de “AFIM”, ele tocou teclado, guitarra, violão e até bateria, mas contou com músicos de primeira (o baixista Alberto Continentino, o baterista Thomas Harres, o pianista Chico Lira) e até arranjo de Jaques Morelenbaum (justamente em “Transe”).

— Eu ouço cada canção e ouço ela e tento fazer o que ela me pede. Por isso que esse disco é meio louco, cada uma é diferente da outra. Tem uma que é sambalanço, tem outra que é violão e voz, tem outra que é Moacir Santos, tem outra que é Marina Lima, tem outra que é Beach Boys... e tem “Transe”, que eu não