Tênis

'Rara' e 'traiçoeira': como a grama de Wimbledon muda a forma de jogar dos tenistas

Torneio é o terceiro Grand Slam da temporada; no masculino, espanhol Carlos Alcaraz tenta o tricampeonato

A grama é considerada um desafio para boa parte dos tenistas - Divulgação/Wimbledon

Alguns a temem, outros a adoram, e todos concordam ao descrevê-la como uma superfície "traiçoeira": a grama, protagonista a partir desta segunda-feira e pelas próximas duas semanas em Wimbledon, convida os tenistas a se reinventarem e também modificam sua tática e forma de jogar.

Especialidade britânica, as quadras de grama são raras no restante do mundo e, na Europa, os especialistas se sentem desamparados após as cinco semanas anuais de torneios disputados nessa superfície.

"Poucos países têm torneios na grama porque é necessário um cuidado considerável para manter as quadras em boas condições", explica o francês Lucas Pouille, ex-número 10 do mundo, em entrevista à AFP.

"Todos os jogadores só descobrem essa superfície muito tarde, a não ser que tenham disputado torneios juvenis", acrescenta Pouille, que chegou às quartas de final em Wimbledon em 2016.

Sua compatriota Loïs Boisson foi a sensação em Roland Garros há menos de três semanas, ao chegar às semifinais mesmo sendo então a número 361 do mundo, mas perdeu na primeira rodada do qualificatório em Wimbledon.

Muitos tenistas passam por esse processo e acabam jogando bem na grama com o tempo: "Não diria que de repente tudo é perfeito, porque a superfície é difícil e traiçoeira, mas simplesmente tenho mais anos de experiência", admitiu a polonesa Iga Świątek (atual número 4 do mundo), após perder no sábado sua primeira final em grama, em Bad Homburg.

Outro fator-chave para o sucesso é um bom saque, responder com agressividade e ser muito eficiente na rede. Também é necessário mudar a movimentação, favorecendo passos curtos em vez de grandes passadas. Para se adaptar, os tenistas têm apenas alguns dias, já que a temporada de grama começa imediatamente após Roland Garros, que encerra o ciclo de torneios no saibro.

Após dois meses jogando no piso de terra batida, "chegamos à grama e temos 13 dias para mudar tudo, não completamente porque você ainda tem o seu tênis, mas é preciso mudar um pouco a maneira de jogar", revelou a tenista Coco Gauff, número 2 do mundo e campeã do último Roland Garros.

Preparo físico
O francês Arthur Rinderknech, que joga nesta segunda contra o número 3 do mundo, o alemão Alexander Zverev, destaca outra diferença em relação ao saibro: "Exige menos preparo cardiovascular, mas mais força muscular, o esforço é mais curto".

Por isso, os rallys tendem a ser mais curtos e a duração das partidas costuma ser menor do que no saibro, mas a concentração exigida é intensa. O espanhol Carlos Alcaraz é um dos poucos tenistas capazes de dominar o tênis na grama desde cedo. Quando era juvenil, jogou o torneio de Roehampton, perto de Londres. "Me surpreendi um pouco comigo mesmo porque joguei boas partidas", lembrou neste sábado diante da imprensa.

Atual bicampeão de Wimbledon, ele adora tudo relacionado ao tênis na grama: "O estilo dos jogadores em quadra, o som da bola, os movimentos. Não é simples, mas uma vez que você sabe como se mover, é como se estivesse voando. Realmente é uma superfície feita para mim", garante o Alacaraz, que no piso pode "deslizar, fazer deixadinhas, subir à rede o tempo todo, ser agressivo".