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Aerolíneas faz promoção para brasileiros, enquanto Argentina tenta atrair turista disposto a gastar

Companhia aérea anunciou um pacote com valor de ida e volta que parte de US$ 150, incluindo bagagem despachada

Aerolíneas Argentinas - anúncio faz parte de uma série de ações do governo de Javier Milei para tentar conter a queda no turismo no país - Reprodução

A Aerolíneas Argentinas anunciou nesta quarta-feira um pacote de promoções para atrair os turistas brasileiros, com valor de ida e volta que partem de US$ 150, incluindo bagagem despachada.

O anúncio faz parte de uma série de ações do governo de Javier Milei para tentar conter a queda no turismo no país, agravada pelo êxodo de viajantes brasileiros.

O discurso de autoridades é de que a Argentina não é cara, mas “valiosa”, e que oferece experiências de alto padrão. Apesar das promoções, o país indica quer reposicionar sua imagem para atrair um perfil de turista disposto a gastar mais.

A estratégia envolve ações de comunicação para mudar a percepção da Argentina somente como um destino que vale a pena pelo preço.

Os voos promocionais estão disponíveis para compras ao longo de todo o mês de julho e embarques entre 1º de agosto e 20 de novembro, com retorno até 30 de novembro. Os trechos que partem de São Paulo e Curitiba para Buenos Aires, por exemplo, saem por US$ 160 ida e volta.

De Porto Alegre, o valor é US$ 150; de Salvador, US$ 280; e do Rio de Janeiro, US$ 200. Os bilhetes podem ser parcelados em até doze vezes sem juros e incluem, além da bagagem despachada, uma mala ou mochila de mão com até 10kg.

A campanha também dá a possibilidade do turista que vai para Buenos Aires incluir um segundo destino na Argentina por até US$ 100 extra. Com isso, o passageiro pode, por exemplo, voar de São Paulo a Córdoba com escala em Buenos Aires por US$ 210 no total.

O objetivo da companhia aérea é promover novos pacotes de descontos nos próximos meses.

"Turismo oportunista não está mais acontecendo"
Principal destino internacional de brasileiros, a Argentina tem visto o fluxo de turistas reduzir há mais de um ano, como um dos reflexos da política econômica de Javier Milei que elevou o valor do peso em relação ao real, com preços mais altos no país. Em maio, o volume de visitantes estrangeiros caiu 10,1% em relação ao ano passado. No primeiro quadrimestre deste ano, 3,3 milhões de estrangeiros visitaram o país, uma queda de 25% em relação a 2024, segundo dados do Indec, o instituto de estatísticas do país.

Apesar da promoção com voos baratos, autoridades argentinas adotam o discurso de que o país quer inaugurar uma nova fase para o turismo, buscando viajantes mais exigentes e não só em busca de pechinchas.

O secretário de Turismo, Esporte e Meio Ambiente da Argentina, Daniel Scioli, chegou a citar a visita “exploratória” de brasileiros que iam ao país para comprar vinhos com descontos:

— Víamos nas fronteiras pessoas cruzando para o lado argentino, comprando seis garrafas de vinho e voltando para revender no Brasil. Esse turismo oportunista, especulativo não está mais acontecendo — afirmou o secretário de Turismo ao Globo.

Ele menciona que houve desregulamentação de agências de turismo e redução de custos operacionais para hotéis (como taxas por TV nos quartos), como parte de uma agenda para tornar o setor mais competitivo de forma orgânica, sem subsídios diretos.

O secretário de Milei, que já foi embaixador no Brasil, participou em São Paulo de evento com jornalistas, influenciadores e empresas que vendem pacotes turísticos para a Argentina para mostrar as atratividades do país.

— Não estamos apenas esperando que nos visitem, viemos aqui para convidar, motivar, inspirar vocês a viverem uma experiência maravilhosa. — afirmou Scioli ao abrir o evento.

Sobre os custos elevados para alimentação, hospedagem e compras, o que afastou o brasileiro do país, o secretário diz que espera do setor privado “preços amigáveis, razoáveis e justos”. Mas reforça que o principal objetivo do governo é mostrar para o Brasil que há um “salto de qualidade” no turismo local.

Scioli cita que a meta do país é atrair mais de 10 milhões de turistas para a Argentina, o que vai envolver a promoção de eventos e ações de comunicação para demonstrar as atrações do país e tentar fisgar quem pode pagar por preços mais altos — apesar das passagens mais em conta. Para a temporada de inverno, os destinos mais procurados costumam ser Ushuaia, Mendoza e Bariloche.

— A Argentina sempre foi considerada um destino barato, mas agora buscamos quem venha não pelo preço, e sim pela gastronomia, pelos vinhos, pelas paisagens e pela infraestrutura. Queremos um turista que aprecie o valor da experiência — afirmou Ana García Allievi, secretária executiva do Instituto Nacional de Promoção Turística (Inprotur).

O secretário de Milei evita dizer que quer o turista mais rico, mas fala que o país pode ser atrativo para um perfil “mais exigente”.

Segundo ele, os EUA se tornaram, pela primeira vez, o país que mais envia turistas para a cidade de Buenos Aires, o que seria um indicador importante, porque o “turista americano exige muito”. A previsão do país é inaugurar 60 novos hotéis ainda em 2025 e aumentar o número de agências parceiras que oferecem rotas.