Defesa de Zambelli quer que Câmara ouça hacker Delgatti antes de votar cassação de seu mandato
Em pronunciamento junto com advogado de Zambelli, líder do PL da Casa negou que partido abandonou a deputada
A defesa da deputada Carla Zambelli (PL-SP) decidiu pedir à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara que ouça o hacker Walter Delgatti. A parlamentar tem um pedido de perda do mandato em tramitação na comissão da Casa após ter saído do Brasil.
– O Walter Delgatti, o famoso hacker, foi chamado pela Polícia Federal de mentiroso contumaz, mudou seu depoimento mais de seis vezes. É isso que a gente coloca e pede a acareação aqui na CCJ, que sejam ouvidas as pessoas que não foram ouvidas de forma constitucional nas outras esferas – disse o advogado Fábio Pagnozzi, que faz parte da defesa da deputada.
A solicitação ainda precisa ser analisada pelo colegiado, que é presidido pelo deputado Paulo Azi (União-BA). O relator do pedido de cassação de Zambelli na CCJ é o deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), que ainda não divulgou seu parecer.
A declaração do advogado foi dada junto com o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), e outros deputados da oposição. Na ocasião, Sóstenes negou que o PL tenha abandonado a deputada.
– Diferentemente do que em alguns momentos alguns pensaram, o nosso partido tem estado ao lado da nossa guerreira e soldado Carla Zambelli nesse momento que ela atravessa.
No entanto, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, não fez ainda nenhuma manifestação pública sobre o caso da deputada e o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a falar que “não tem nada a ver” com o caso da parlamentar no começo de junho.
Também no início de junho, o PL fez um evento voltado para as mulheres da legenda, que contou com a participação de Bolsonaro, Valdemar e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e nenhum deles citou a deputada.
O líder do partido também disse que vai procurar outros deputados para impedir a perda do mandato de Zambelli.
– Nós vamos conversar com os líderes e vamos estar ao lado da nossa soldada ferida e guerreira Carla Zambelli em todos os passos que lhe são garantidos pelo regimento interno da Casa e vamos lutar pelo mandato de uma mulher, a mais votada na última eleição no Brasil.
O deputado do PL também comentou uma declaração feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em uma conversa feita em um podcast em março, que Zambelli teria prejudicado a tentativa de reeleição do ex-presidente. Bolsonaro citou o episódio em que a deputada se envolveu em uma briga com um militante da esquerda e foi vista o perseguindo e empunhando uma arma.
– É a questão da opinião do presidente Bolsonaro com relação a sua eleição e comprometimento do ato, a questão da arma. É a opinião dele, tem o direito de fazer. Todo mundo vê isso com muita naturalidade. O que seria estranho é que se o presidente visse o julgamento injusto que ela teve e concordar.
Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal pela invasão, com ajuda de do hacker, aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com objetivo de adulterar documentos, como a emissão falsa de mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
Antes de ter o pedido de cassação feito pelo STF, a deputada pediu licença de 127 dias do mandato, que foi concedido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Em seu lugar está o deputado Coronel Tadeu (PL-SP).
Zambelli está foragida e se encontra hoje na Itália. Depois de sair do Brasil, ela teve a prisão pedida pelo STF e também a cassação de seu mandato como deputada.
Em maio, a deputada foi condenada por unanimidade pela Primeira Turma do STF a prisão por seu envolvimento em invasões ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Moraes observou na decisão que, após a sua condenação, Zambelli declarou que "pretende insistir nas condutas criminosas, para tentar descredibilizar as instituições brasileiras e atacar o próprio Estado Democrático de Direito, o que justifica, plenamente, a decretação de sua prisão preventiva".
Na decisão, Moraes afirmou que o "intuito criminoso" da parlamentar "permanece ativo e reiterado" e apontou que Zambelli insiste, "mesmo que de modo atabalhoado e confuso", em divulgar notícias falsas e atacar o Poder Judiciário.
Além de decretar a prisão da deputada, Moraes determinou o bloqueio de bens, ativos e contas bancárias no nome dela, repasses da Câmara a todo o gabinete dela e redes sociais.