Para voltar a liderar: o desafio da educação em Pernambuco
Durante anos, Pernambuco figurou entre os principais laboratórios de inovação educacional do Brasil. A liderança no Ideb do Ensino Médio, a implantação em larga escala de escolas em tempo integral e a valorização da gestão escolar deram ao estado um papel de destaque no debate nacional sobre políticas públicas na área. Pernambuco era sinônimo de avanço educacional.
Os resultados da última edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados pelo INEP, revelam que o estado mantém desempenho consistente na rede estadual, com nota 4,5 no Ensino Médio, acima da média nacional (4,3).
Mas os dados, no entanto, lidos em perspectiva histórica e comparada, acendem um forte sinal de alerta. Pernambuco já liderou o país no Ideb do Ensino Médio. Hoje, partilha a liderança no Nordeste. O Piauí também alcançou 4,5 pontos no Ensino Médio, enquanto o Ceará obteve 4,3.
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, Pernambuco obteve 5,7 pontos, enquanto o Ceará alcançou 6,6 e o Piauí 5,9. Nos anos finais, Pernambuco registrou 5,0, contra 5,5 do Ceará e 5,2 do Piauí. Os dados deixam claro que, na base do sistema, a diferença já está estabelecida, a favor do Piauí e do Ceará.
O avanço expressivo do Ceará é atribuído, sobretudo, à combinação entre regime de colaboração com os municípios e a consolidação de um modelo pedagógico apoiado em material estruturado, avaliações regulares e formação continuada de professores, ancorados no Programa de Aprendizagem na Idade Certa (PAIC), que se tornou referência nacional de política pública com foco na aprendizagem real.
Nesse ritmo, portanto, a tendência é clara: Pernambuco, muito provavelmente, perderá até mesmo a dianteira regional na próxima edição do índice, caso não inicie um novo ciclo de ações estratégicas.
Trata-se de um necessário e grande desafio. O Ensino Médio reúne a maior complexidade pedagógica, o maior índice de evasão e uma das menores taxas de aprendizagem efetiva do país. Pernambuco, que já esteve na vanguarda nacional com seu modelo de tempo integral, agora precisa retomar esse protagonismo.
Como demonstram Michael Barber, Mona Mourshed e Chinezi Chijioke, no estudo global How the World’s Most Improved School Systems Keep Getting Better (McKinsey & Company, 2010), as redes que progridem sustentadamente são aquelas que renovam suas estratégias, avaliam seus resultados com rigor e promovem ciclos contínuos de formação e apoio técnico às escolas.
Essa é também uma das ideias centrais do educador português Nuno Crato, ex-ministro da Educação de Portugal. Em sua defesa de uma política educacional com base científica, Crato sustenta que bons resultados não são um destino permanente, mas uma construção constante, exigindo metas claras, foco no essencial e liderança técnica com visão de longo prazo. Mais do que expansão, ele defende profundidade: atenção à qualidade da aprendizagem, ao domínio progressivo das disciplinas-chave e à eficácia do ensino.
Nesta direção, Pernambuco precisa investir em um sistema contínuo de diagnósticos de aprendizagem, com devolutivas práticas e orientadas à ação pedagógica; lançar um programa estadual de formação docente contínua, baseado em evidências e alinhado às reais necessidades das escolas; e aprimorar sua política de tempo integral, incorporando metodologias mais eficazes, instrumentos de avaliação e acompanhamento, com foco real em aprendizagem. Além, claro, na infraestrutura das escolas.
Na honrada condição de Presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Pernambuco, reafirmo meu compromisso com o futuro da escola pública.
Nosso papel é contribuir com o debate qualificado, apresentar sugestões viáveis e construir, por meio da legislação, instrumentos que estimulem a inovação. Nesse sentido, atuaremos com um Observatório Educacional capaz de monitorar políticas públicas, articular boas práticas e colaborar com gestores e profissionais