"Mãe!", filme com Jennifer Lawrence, apresenta excessos que não fazem sentido
Produção, que também tem o ator Javier Barden, estreia nesta quinta-feira (21) nas salas de cinema
"Mãe!" é um filme que se abre para metáforas sobre a existência, o começo e o fim, as relações entre as pessoas, as forças que regem o mundo. É o tipo de obra em que nada é exatamente o que aparenta; a história que se desenvolve na tela não é inteiramente real num sentido concreto, ocupando a mente e gerando diferentes significações além do entendimento imediato. É a nova experiência do cineasta norte-americano Darren Aronofsky, que estreia nesta quinta-feira (21) no circuito nacional.
Os personagens não são apresentados através de nomes. Jennifer Lawrence interpreta Mãe, mulher que reconstrói a casa onde seu marido, Ele (Javier Bardem), morou. Em determinado momento, Ele recebe visitas. No começo um homem, depois uma mulher, a certa altura a casa fica tomada por uma quantidade insuportável de pessoas. Todos o admiram, por sua poesia e carisma: textos fascinantes, palavras que inspiram pelo que carregam de emotivo e universal.
Até certo ponto o filme parece manter algum pacto com a realidade: os personagens reagem ao que é estranho, falam e discutem sobre aquilo que os emocionam. Mãe se incomoda com a grande quantidade de pessoas, que desrespeitam a casa e a ela de um jeito incisivo. Depois de certa tragédia de proporções aparentemente épicas, tudo muda e o filme vira bruscamente para a alegoria, para o fantástico. É a festa de lançamento de um novo livro d'Ele, mas é também uma guerra, o fim de tudo, a celebração e o fanatismo, a adoração de ídolos e a perversão de ideais.
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É um filme confuso e também cansativo, um roteiro que esconde seus temas intrigantes em uma grande quantidade de cenas que parecem se mover através da agressão e do excesso. A câmera de Aronofsky acompanha Mãe em sua tragédia, repetindo closes em Jennifer Lawrence para apresentar em seu rosto o impacto das injustiças que ela sofre. A atriz parece se abrir para essa experiência tenebrosa, genuinamente tentando dar carga dramática a um enredo em que a ideia de drama e emoção parece ajustada para um nível abstrato e experimental.
Darren Aronofsky tem filmes bons e desafiadores, como "O lutador" (2008) e "Cisne negro" (2010), obras que têm força nos personagens, na maneira como suas emoções indicam delicadeza e humanidade, e outros em que o diretor parece ceder às pretensões, interessado por metáforas e abstrações, como "Pi" (1998) e agora "Mãe!".
É possível entender uma preferência pelo cinema de ideias grandiosas e exageradas, com imagens e enredos que parecem feitos para indicar alegorias; é uma estratégia reconhecível enquanto marca de autor, mas que neste filme falha desagradavelmente.
Cotação: ruim