BRICS

No último do Brics, Lula afirma que negacionismo e o unilateralismo estão "sabotando o futuro"

Reunião discute a adoção de declaração com medidas para o clima e a promoção de iniciativas de saúde; presidente faz defesa do papel da OMS

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula do Brics - Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira, último dia da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro, que o negacionismo e o unilateralismo estão “corroendo os avanços do passado e sabotando nosso futuro”. As declarações foram feitas na abertura de uma plenária destinada a discutir planos para enfrentar as mudanças climáticas e ampliar o acesso à saúde, especialmente em nações em desenvolvimento, duas bandeiras da presidência brasileira do grupo.

Em uma tônica que acompanhou outras falas do presidente na reunião, Lula saudou ações multilaterais como bases para avanços no clima e na promoção da saúde, obtidas nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que apontou retrocessos: o aquecimento do planeta, citou o presidente, ocorre em ritmo mais acelerado do que o previsto, ao mesmo tempo em que os investimentos em combustíveis fósseis seguem elevados.

— Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeias de valor. 80% das emissões de carbono são produzidas por menos de 60 empresas. A maioria atua nos setores de petróleo, gás e cimento — disse Lula. — Os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade.

Ele defendeu maiores investimentos em ações para o enfrentamento e adaptação às mudanças climáticas, tema que estava presente na declaração final dos líderes do Brics, emitida na véspera, e que se fará presente em uma declaração específica, a ser divulgada nesta terça-feira. O texto também deve tratar de compromissos, ou tentativas de compromissos, para a COP30, que será realizada em novembro, em Belém, e é uma das prioridades do atual mandato do presidente.

— Uma década após o Acordo de Paris, faltam recursos para a transição justa e planejada, essencial para a construção de um novo ciclo de prosperidade. Os países em desenvolvimento serão os mais impactados por perdas e danos — afirmou. — São também os que menos dispõem de meios para arcar com mitigação e adaptação. Justiça climática é apostar em ações comprometidas com o combate à fome e às desigualdades socioambientais.

Lula destinou críticas ao discurso que questiona as mudanças climáticas, hoje prevalente em governos como o dos EUA, ao mesmo tempo em que atacou o desprezo às instituições multilaterais: para ele, “o negacionismo e o unilateralismo estão corroendo avanços do passado e sabotando nosso futuro”. Não apenas sobre o clima.

— Apesar de ser um direito humano, bem público e motor de desenvolvimento, a saúde global também é profundamente afetada pela pobreza e pelo unilateralismo — destacou Lula.

Em janeiro, os Estados Unidos deixaram a Organização Mundial da Saúde ( OMS), em meio a críticas sobre a forma como a organização enfrentou a pandemia da Covid-19, uma decisão que especialistas viram com espanto e receio, uma vez que eliminaria boa parte da capacidade de financiamento da instituição. Em maio, durante uma visita do secretário de Saúde dos EUA (e notório antivacina), Robert Kennedy Jr., a Buenos Aires, a Argentina também ratificou sua saída da OMS. Lula não mencionou os dois países em seu discurso, mas defendeu a organização.

— Recuperar o protagonismo da Organização Mundial da Saúde como foro legítimo para o enfrentamento às pandemias e na defesa da saúde dos povos é urgente.

O presidente concluiu a fala com uma defesa de maiores gastos com cuidado médico e também em melhores condições de vida para as populações, incluindo saneamento básico e moradia digna. E deixou no ar uma crítica direta aos países desenvolvidos.

— No Brasil e no mundo, a renda, a escolaridade, o gênero, a raça e o local de nascimento determinam quem adoece e quem morre. Muitas das doenças que matam milhares em nossos países, como o mal de Chagas e a cólera, já teriam sido erradicadas se atingissem o Norte Global — destacou.