LEITURA

Mercado editorial brasileiro encolheu 44% desde 2006, aponta pesquisa

Mau desempenho dos livros didáticos foi responsável por retração do setor no ano passado; venda de e-books e audiolivros segue em alta

Pessoas folheiam publicações em uma livraria em Damasco em 26 de janeiro de 2025 - Louai Beshara/AFP

O mercado editorial brasileiro encolheu 44% entre 2006 e 2024, informa a série histórica da “Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, divulgada nesta terça-feira (8). A pesquisa é coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e realizada pela Nielsen BookData.

Também foram divulgados números relativos ao desempenho da indústria do livro no ano passado: descontada a inflação, o faturamento do setor caiu 1%. O levantamento desconsidera as compras governamentais e inclui somente as vendas ao mercado.

Nessas quase duas décadas, os segmentos que mais sofreram foram os de livros científicos, técnicos e profissionais (CTP) e didáticos. Os dois subsetores registraram quedas de 61% e 51%, respectivamente. Em 2024, o subsetor de livros técnicos apresentou seu melhor desempenho em uma década: retração de 2%. Nos últimos 10 anos, a queda foi de 27%. Entre 2011 e 2013, essas obras chegaram a representar 26% do faturamento do setor editorial. Nos últimos dois anos, porém, estacionaram em 15%.

Em 2024, pela primeira vez em 19 anos, o número de livros didáticos comercializados foi inferior a 30 milhões. A queda de 10% no ano passado foi responsável pelo desempenho negativo do mercado editorial. Entre 2016 e 2018, o subsetor representava 37% do faturamento da indústria do livro. Em 2024, caiu para 29% (o menor desde o início das medições, em 2006).

As obras gerais, por sua vez, que entre 2011 e 2018 corresponderam a menos de 30% do mercado, atingiram 39% de participação no faturamento de 2024. No entanto, o subsetor encolheu 5% no ano passado. A recuperação das obras gerais tem se baseado principalmente no reajuste dos preços. Ainda assim, descontada a inflação, o preço está 27% abaixo dos valores registrados em 2006. Em 19 anos, o subsetor encolheu 37%.

Já os títulos religiosos tiveram o melhor desempenho de todos os subsetores: queda de 10% entre 2006 e 2024. No ano passado, houve crescimento de 4%. Apesar da variação positiva, a média de vendas nesta década permanece 22% inferior à observada na década anterior. O preço médio das obras religiosas aumentou proporcionalmente à inflação do período, mas continua 29% menor que o registrado no início da série histórica.

Em nota, a presidente da CBL, Sevani Matos, disse que “os dados refletem um alerta que o setor já vem sinalizando: a urgência de políticas públicas consistentes para o fomento à leitura, à produção editorial e à valorização do livro no Brasil”.

“O encolhimento de quase metade do mercado em duas décadas impacta diretamente na formação de leitores, no acesso ao conhecimento e na sustentabilidade de toda a cadeia produtiva. Precisamos, mais do que nunca, de um pacto nacional em defesa do livro, da leitura e da educação de qualidade”, completou.

Também em nota, Dante Cid, presidente do Snel, afirmou que o mau desempenho dos livros didáticos e CTP no período é “preocupante em um país que precisaria aumentar o índice de leitura para reduzir suas desigualdades sociais através da educação”.

A economista Mariana Bueno, coordenadora de pesquisas na Nielsen BookData, ressaltou “os inúmeros desafios e transformações” da última década, na qual o setor enfrentou a quebra da Saraiva e da Cultura (as duas maiores redes de livrarias do país), a entrada da Amazon no mercado brasileiro, a popularização dos smartphones e a pandemia. Mariana afirmou que a pesquisa “reforça a importância de analisarmos o mercado com foco em cada um dos subsetores, já que o impacto dessas turbulências variou significativamente entre eles”.

O mercado de livros didáticos, diz ela, “passa por uma profunda transformação, algo semelhante ao que observamos em CTP, onde a estratégia voltada para o digital tem se mostrado acertada”.

Já o nicho religioso “foi menos afetado pelas crises, mas enfrenta dificuldades para recuperar os preços, que permanecem estagnados desde 2013”. “O segmento de obras gerais tem obtido bons resultados, mesmo com a queda no número de exemplares vendidos, graças à recuperação dos preços, que hoje se aproximam dos níveis de 2010”, destacou a economista.

Conteúdo digital em alta
Também nesta terça foi divulgada a “Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro”, realizada pelas mesmas instituições. Desde 2019, o levantamento mede a participação de e-books e audiolivros no mercado editorial.

No ano passado, o faturamento com conteúdo digital a la carte (venda unitária de e-books e audiolivros) cresceu 0,6%, e já corresponde a 2,9% do total. Já o faturamento outras modalidades de comercialização (bibliotecas virtuais, assinaturas, cursos on-line e plataformas educacionais) subiu 30%.

Desde 2019, o preço médio dos e-books caiu 30% e o faturamento do setor com conteúdo digital aumentou 200%.