BRASÍLIA

Oposição quer enfraquecer o governo Lula, diz líder da maioria

Senador Veneziano Vital do Rêgo afirmou que o acirramento entre governo e oposição continuará intenso no segundo semestre

Senador Veneziano Vital do Rêgo - Reprodução YouTube/Folha de Pernambuco

O acirramento entre governo e oposição seguirá intenso no segundo semestre, devido à proximidade com o calendário eleitoral. Essa é a previsão do líder da maioria no Senado Federal, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). Em entrevista ao podcast Direto de Brasília, apresentado por Magno Martins, o parlamentar vê um apetite “pela destruição” por parte dos opositores, mas acredita na reversão da baixa popularidade do governo a partir das entregas. “Quando os avanços possam ser absolvidos e compreendidos pela sociedade, esse recado haverá de chegar”, afirma.


O Congresso está prestes a entrar em recesso com um clima ruim com o Executivo. Avalia que a situação possa melhorar no segundo semestre?

Gostaria de dizer isso, como brasileiro e integrante do Parlamento, mas não sinto dessa forma. É muito claro que o grupo oposicionista, que é forte, deseja enfraquecer o governo para a disputa de 2026. Aqueles que em quatro anos não trouxeram respostas, que foram contra vacinação, foi contra investimentos públicos nas universidades, contra a ciência e a pesquisa. Quando mudamos e trazemos novos ares, ações efetivas, isso termina gerando esse desconforto. Eles querem se ver livres dessas sanções que lhes estão sendo impostas. Gostaria que após o recesso tivéssemos tranquilidade. Tomara que eu esteja enganado, mas penso que não.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS deverá ser instalada em agosto. O que espera desse instrumento?

A CPMI é um instrumento legitimo, previsto constitucionalmente, principalmente para as atividades de quem é oposição. Agora, esperar que ela não descambe em razão do desejo da oposição de fragilizar o governo… Penso que ela pode ter uso eminentemente político, o que não seria interessante. Não há nada a esconder, foi o próprio governo que enfrentou a situação. Não foi neste governo que se iniciaram os descalabros, os assaltos aos nossos aposentados, através de associações criadas para este fim. Isso vem de antes. O governo Lula fez as devidas apurações. Claro que se a CPMI vier a trazer contributos às investigações que estão sendo feitas, ótimo. Mas lamentaremos muito se ela for um palco político. Mas não há receio para o governo.

A situação piorou com a derrubada do IOF, e o governo entrando no Supremo Tribunal Federal (STF) e criticando o Congresso. É um erro?

Não vejo o governo atacando o Congresso. Tem a legitimidade de questionar o comportamento do Congresso. E vai recorrer a quem? Ao STF. Não é uma provocação ou acirramento. 

Mas isso certamente não ajuda na relação…

O governo nunca teve maioria na Câmara. Teve uma maioria não tão folgada no Senado, que hoje é até mais apertada, mas na Câmara sempre houve dependência de partidos que usam de estratagemas com as quais não concordo. Essa dependência vai se arrastar, porque estamos a um ano do processo eleitoral. O desejo da oposição é ver o governo se fragilizando, e o nosso é vê-lo administrando. Nossa disposição é mostrar as matérias. Mas a mim parece que os companheiros não querem se convencer disso.

Havia críticas ao ex-ministro de Articulação Política, Alexandre Padilha. O governo trocou pela ministra Gleisi Hoffman, mas parece que a situação também não está funcionando...

Não por responsabilidade da ministra. É uma situação de quem não conta com essa maioria. Não é a pessoa que esteja lá que fará, do dia para a noite, que tenhamos maioria. O governo tem na Esplanada dos ministérios a presença de partidos que não correspondem. Elas colaboram aqui e acolá, com matérias que são mais secundárias. Mas naquelas de maior relevo, eles assumem um papel. Falta fidelidade, porque nada justifica, após tantos resultados que o governo entrega. Crescemos quase 7%, o desemprego caiu para 6,2%, são dados. Mas muitas vezes quem está em Brasília não assume o papel de defender o governo nos seus estados. Quando chega na ponta, não faz essas menções. Isso é uma incorreção política desses que fazem parte do governo, mas não assumem.

E o que fazer para mudar isso?

Perseverar. Sabemos que esse é o cenário, não é novo, ele está posto desde o momento que o governo se instalou, elegendo o presidente, mas não fazendo a maioria. É um clima de uma oposição desejosa em atacar o governo com propósitos dos mais variados. Penso que o governo haverá de gozar de uma situação mais estável com os resultados. Creio que, quando essas entregas e avanços possam ser absolvidos e compreendidos pela sociedade, gerará uma pressão contra o Congresso. Esse recado haverá de chegar.

Notadamente os partidos do centrão não devem apoiar a reeleição do presidente Lula, por que eles continuam no governo?

Isso é sabido, não é fato novo. Qual a dúvida? É legítimo que cada partido busque seus espaços. Mas não é legítimo que façam opção de estar no governo e não sejam honestos em relação à defesa desse governo. Não tenho dúvidas de que o Republicanos não votará na reeleição do presidente Lula. O PP e o União Brasil também não votarão. Isso já está claramente exposto desde o ano passado. Essa é uma situação que o governo sabia. A correção de rumos é que não foi feita devidamente, no sentido de saber com quem você pode contar.

O seu partido, o MDB, só deve apoiar o governo caso fique com a vice, hoje ocupada por Geraldo Alckmin (PSB)?

Sejamos justos, Alckmin foi fundamental na eleição do presidente Lula. E tem sido um grande aliado, um grande colaborador, tem produzido resultados efetivos para a indústria no ministério. É digno de todo o nosso reconhecimento. Se mais adiante o MDB puder postular uma presença na chapa majoritária, caso surja essa situação, não vou negar que tenhamos nomes a sugerir. Mas não é um tema que vem sendo tratado.

Acredita na federação do MDB com o Republicanos?

Acho que não acontecerá, por uma razão bastante lógica. Existe no MDB uma participação majoritária de quem defende a continuação do governo atual. E a esmagadora maioria do Republicanos tem tendência de direita, sendo contrário ao presidente Lula. Logo, como se faria esse arranjo para a eleição nacional, e como ele se estenderia nas eleições estaduais? Por isso, não creio. Mas é uma condução que cabe ao presidente nacional Baleia Rossi.

Nem com outros partidos?

O MDB é um partido muito forte, tem suas realidades regionais, possui hoje 44 federais. Na Câmara, a federação União Brasil e PP terá cerca de 107 deputados, depois vem o PL com 101 e o PT perto disso. Ficaram apenas três partidos na faixa de 40 a 50 deputados, que são MDB, PSD e Republicanos. Para o MDB buscar outras parcerias, seria sugerível nessa faixa, mas não enxergo com o Republicanos. Penso que poderíamos ter feito antes, em relação ao PSDB e ao Podemos.

O governo tem adotado a tática de dar preferência à eleição de senadores do que de governadores, por exemplo. Acredita que dará certo?

Penso que na próxima eleição ainda será uma bancada com maioria de oposição na Câmara. No Senado, se tivermos dedicação, é possível fazer uma bancada mais favorável ao governo, já que serão 54 novos senadores. Então temos muito trabalho neste ano e no próximo.