BRASIL

Lula reage a taxação de Trump e diz que medida será respondida com reciprocidade

Em carta endereçada a Lula, publicada em sua rede social, presidente americano atribuiu a cobrança à postura do STF com o ex-presidente Jair Bolsonaro

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante plenária da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro - Pablo PORCIUNCULA / AFP

O presidente Lula reagiu ao anúncio de Donald Trump de taxar em 50% tarifas sobre importações do Brasil.

Lula disse que "qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica", em um post nas redes sociais.

O presidente disse que o "Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém".

"O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais", acrescentou.

Lula disse que a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática nas redes sociais.

 

"No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira", afirmou.

Ele também disse ser falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano.

"As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos", afirmou. "Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica", acrescentou.

O texto finaliza dizendo que a soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro "são os valores que orientam a nossa relação com o mundo".

Em uma carta publicada em sua conta nas redes sociais, Trump justificou a decisão “em parte pelos ataques insidiosos do Brasil contra as eleições livres e os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”.

Após praticamente não mencionar o Brasil nos primeiros meses de seu mandato, Trump saiu em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira, acusando o país sul-americano de perseguição política ao ex-mandatário de direita, que enfrenta um julgamento iminente por tentativa de golpe.

Na carta, Trump reiterou seu apelo para que as autoridades brasileiras retirem as acusações contra Bolsonaro relacionadas à tentativa de golpe.

Inicialmente, o Brasil estava previsto para enfrentar uma tarifa mínima de 10%, conforme o plano de tarifas “recíprocas” anunciado por Trump em abril. A nova carta representa a primeira revisão significativa de tarifas para cima desde os anúncios anteriores, e o primeiro aumento direcionado a um país que ainda não havia sido citado como alvo.

Mais cedo, durante um evento na Casa Branca, Trump declarou que o Brasil “não tem sido bom conosco.” Segundo ele, a decisão foi baseada em “fatos muito, muito substanciais, e também no histórico passado.”

De uma leva de tarifas que o presidente dos EUA anunciou nesta semana, esta é a mais alta até o momento.

O anúncio veio poucos dias após Donald Trump ameaçar impor tarifas adicionais aos países membros do Brics — grupo de nações emergentes — por suas supostas “políticas antiamericanas”, em meio à cúpula de líderes do grupo realizada no Rio de Janeiro.

Na declaração oficial do encontro, os líderes do BRICS, sob a presidência de Lula, criticaram as políticas tarifárias que distorcem o comércio e os ataques militares contra o Irã — posições que entraram em conflito com Trump, ainda que o grupo tenha evitado confrontos diretos com os Estados Unidos.

Leia a íntegra da carta enviada ao governo brasileiro:

“Conheci e me relacionei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeitei profundamente, assim como a maioria dos outros líderes mundiais. A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato — inclusive pelos Estados Unidos — é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!

Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como ilustrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS às plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Produtos transbordados para evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitos à tarifa mais alta.

Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que devemos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial engendrada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento tem sido, infelizmente, longe de ser recíproco.

Por favor, compreenda que a tarifa de 50% está muito aquém do necessário para garantir um campo de jogo nivelado entre nossos países. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do regime atual. Como você sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o que for possível para obter aprovações rapidamente, profissionalmente e rotineiramente — ou seja, em questão de semanas.”

EUA são um cliente VIP do Brasil
Diferentemente da relação comercial com outros países, os EUA tem com o Brasil um superávit. Ou seja, os brasileiros compram mais produtos dos EUA que os americanos do Brasil.

Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), trata-se de uma pauta bastante diversificada. São 51 itens industriais que integram 70% das exportações brasileiras aos EUA, de aviões a máquinas, passando por produtos químicos.

Nos casos da União Europeia e da China, maior parceiro comercial do Brasil, essa diversificação é bem menor: 22 e três produtos, respectivamente. Enquanto para a China prevalece a exportação de commodities, o Brasil exporta para os EUA produtos industrializados, de maior valor agregado, o que torna a relação comercial com a maior economia do mundo ainda mais importante para o Brasil.

No ano passado, o Brasil exportou cerca de US$ 40 bilhões para os EUA e comprou um pouco mais que isso dos americanos. A corrente de comércio de US$ 81 bilhões representou uma alta de 8,2% no ano passado, segundo números levantados pela FGV no mês passado.