Eleições 2026

Ministros de Lula antecipam 2026 e tentam colar em Tarcísio desgaste do tarifaço de Trump

Principais auxiliares do presidente lembraram episódio em que o governador de SP, visto como possível adversário ano que vem, comemorou a posse do presidente americano

Aliados de Lula tem discurso de que o Tarcídio de Freitas, governador de SP,teria uma parcela de culpa pela situação por já ter demonstrado apoio a Trump e também por ser aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro - Celso Silva/Governo de SP

Os principais auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicaram uma estratégia do governo de antecipar a eleição presidencial de 2026 e miraram críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em meio à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar o comércio brasileiro em 50% a partir de agosto.

Os chefes das pastas da Fazenda, Fernando Haddad, da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, além de outros ministros e parlamentares da base ecoaram o discurso de que o governador teria uma parcela de culpa pela situação por já ter demonstrado apoio a Trump e também por ser aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro está inelegível por ataques que tentaram descredibilizar o processo eleitoral, mas tem insistido em se apresentar como opção para a eleição presidencial de 2026.

A estratégia não é compartilhada por integrantes de partidos do Centrão, como PP, Republicanos, União Brasil e as alas mais oposicionistas do MDB e PSD, que têm sinalizado apoio a Tarcísio como candidato da direita ao Palácio do Planalto.

O movimento dos partidos já é observado por aliados do governo Lula, que atribuem isso ao clima ruim hoje vivido pelo Poder Executivo no Congresso.

Coube a Haddad, que enfrentou Tarcísio no segundo turno na eleição paulista de 2022, o papel de vocalizar com mais clareza o tom eleitoral dado pelo governo na reação ao tarifaço de Trump.

O ministro da Fazenda citou diretamente a possibilidade de Tarcísio ser adversário de Lula na eleição do ano que vem.

– O governador errou muito. Porque ou bem uma pessoa é candidata a presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem, desde 1822 isso acabou. O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico? – declarou o ministro em entrevista nesta quinta.

A fala de Haddad teve uma resposta rápida de Tarcísio, que disse que o ministro da Fazenda tem que “deixar de lado questões ideológicas, sentar à mesa e trabalhar” e que “cabe ao Haddad falar menos e trabalhar mais”.

O próprio governador de São Paulo tenta modular o discurso para não dar a impressão que comemora a decisão do governo americano. Tarcísio já classificou o tarifaço como deletério e disse que será preciso uma negociação para evitar isso.

Como O Globo mostrou, integrantes do PL, partido de Bolsonaro, reconhecem que as medidas são ruins para o país, mas tentam atribuir isso à relação ruim entre os governos Lula e Trump.

Por sua vez, Gleisi, que é responsável pela articulação política do governo, não citou 2026 diretamente, mas reclamou de Tarcísio.

“Quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil. Pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente do EUA, porque nunca se importaram de verdade com o país e o povo”, declarou em uma rede social.

Logo que a decisão de Trump foi anunciada, governistas, além de tentar associar isso ao ex-presidente Jair Bolsonaro, se movimentaram rápido para colar o assunto no governador de São Paulo.

Ontem à noite, momentos depois da decisão de Trump, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), lembrou do episódio em que Tarcísio comemorou a posse do presidente americano e publicou uma foto com os dizeres “Make America Great Again”, um dos lemas da campanha de Trump.

O ministro da Casa Civil foi outro a falar do governador. Rui Costa avaliou que é contraditório “liderar a maior economia do país e, ao mesmo tempo, apoiar medidas que encarecem produtos e prejudicam a economia nacional”.

“A atitude do presidente Trump mina a competitividade dos produtos que sustentam milhares de empregos em São Paulo. Liderança, governador, se exerce com coragem. É compreensível que queira agradar ao ex-presidente a quem serviu como ministro, mas quem valoriza São Paulo não apoia medidas absurdas, ilegais e imorais impostas por estrangeiros”, disse também Rui.

Antes mesmo de Trump ter anunciado a sobretaxa, o ministro da Casa Civil tinha dito na última segunda-feira que Tarcísio “está mais preocupado em defender o Trump do que em defender os empresários paulistas, do que em defender o emprego dos trabalhadores brasileiros”.

O presidente dos EUA anunciou ontem o aumento, que veio após duras críticas ao Brasil. Ele afirmou que, se o país retaliar os EUA, vai aumentar ainda mais a sobretaxa de produtos brasileiros em seu país. Apesar de o Brasil comprar mais do que vende aos EUA desde 2009, Trump fala em relação comercial injusta no texto.

Em uma carta publicada em sua conta nas redes sociais, Trump justificou a decisão “em parte pelos ataques insidiosos do Brasil contra as eleições livres e os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos.”

Após praticamente não mencionar o Brasil nos primeiros meses de seu mandato, Trump saiu em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro na última segunda-feira, acusando o país sul-americano de perseguição política ao ex-mandatário de direita, que enfrenta um julgamento iminente por tentativa de golpe.

Na carta divulgada na segunda, Trump reiterou seu apelo para que as autoridades brasileiras retirem as acusações contra Bolsonaro relacionadas à tentativa de golpe.

“Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caçada às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, escreveu.