Embraer, produtores de laranja e frigoríficos: veja quem é mais afetado pelo tarifaço de Trump
Entidades criticam fato de fator geopolítico ter se sobreposto à diplomacia na decisão do presidente americano
Setores da economia que exportam para os EUA lamentaram a decisão de Trump de impor tarifa de 50% aos produtos brasileiros, e criticam o fato de questões geopolíticas terem se sobreposto à diplomacia. No caso do suco de laranja, por exemplo, a entidade que representa o setor vê até mesmo a inviabilidade de manter as vendas ao mercado americano.
Carne
No setor de carne bovina, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que representa 43 empresas do setor, defendeu em nota que questões geopolíticas não devem se transformar em barreiras aos abastecimento global e á segurança alimentar.
A entidade afirma que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina.
"A associação segue à disposição para contribuir com o diálogo, de modo que medidas dessa natureza não gerem impactos para os setores produtivos brasileiros nem para os consumidores americanos, que recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis", diz o texto.
A venda de carne bovina para os EUA cresceu 102% em receita e 112,6% em volume. Entre janeiro e junho, deste ano foram exportadas 181.477 toneladas de carne, frente às 85.365 toneladas exportadas no mesmo período do ano passado. A receita obtida este ano, até agora, foi de US$ 1,04 bilhão, com preço médio de US$ 5,7 mil por tonelada. Os Estados Unidos responderam por 12,33% do total das exportações brasileiras do produto no primeiro semestre.
Suco de Laranja
Entre os exportadores de suco de laranja, a CitrusBR, entidade que representa o setor, explica que da safra 2024/25, encerrada em 30 de junho, os Estados Unidos representaram 41,7% das exportações brasileiras do produto, somando US$ 1,31 bilhão em faturamento, conforme dados da Secex.
A CitrusBR explica que uma tarifa de 50% sobre o produto representa um aumento de 533% sobre os US$ 415 em tributos cobrados sobre a tonelada do suco brasileiro. Considerando a cotação da Bolsa de Nova Iorque de 9 de julho (US$ 3.600 por tonelada de suco concentrado), cerca de US$ 2.600 — ou 72% do valor total do produto — passariam a ser recolhidos em tributos, inviabilizando as exportações para aquele mercado com prejuízos para toda a cadeia.
"Trata-se de uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto. A medida também afeta empresas americanas que têm no Brasil o seu principal fornecedor de suco de laranja", explica a CitrusBR em nota.
Entre as consequências da tarifa, a entidade aponta oa interrupção de colheitas, desorganização do fluxo de fábricas e paralisação do comércio diante de um cenário de incerteza. As consequências são graves: colheitas são interrompidas, o fluxo das fábricas é desorganizado, e o comércio é paralisado diante da incerteza, explica a entidade.
"As consequências sobre a produção nacional, os empregos e a competitividade do setor seriam imediatas. A CitrusBR reitera a necessidade de que o Brasil exerça plenamente sua tradição diplomática, mobilizando todos os recursos do Estado brasileiro para lidar na proteção dos interesses dos seus cidadãos, do emprego e da renda", diz o texto.
Café
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) vê impactos negativos em toda a cadeia produtiva do café brasileiro, comprometendo a competitividade e pressionado custos operacionais em um momento de reorganização do mercado global. A entidade lembra que os Estados Unidos é o maior consumidor de café no mundo , com cerca de 24 milhões de sacas por ano, e dependem dos países produtores de café, como o Brasil (maior exportador do mundo, que fornece 30% do café consumido por lá), para abastecer seu mercado interno. Os contratos futuros de café, com vencimento em setembro deste ano, sobem 1,2% na Bolsa de Nova York.
Embraer, Weg e Minerva
Entre empresas que podem ser atingidas pela medida de Trump, está a Embraer, fabricante nacional de aviões. Os Estados Unidos representam 60% das vendas de jatos executivos da empresa. A Embraer tem fábrica nos Estados Unidos, com 500 funcionários, e atua localmente há 45 anos. As aeronaves fabricadas em território americano têm grande conteúdo de produtos dos EUA. Procurada, a empresa não quis comentar potenciais impactos da nova tarifa.
Relatório dos analistas do Citi aponta que, no setor de transporte, a Embraer é a empresa mais afetada pela tarifa de Trump. O Citi lembra que, no segmento de aviação comercial, 55% da carteira de pedidos firmes da Embraer é encomendada por companhias aéreas dos EUA, com os jatos E175-E1 representando cerca de 97% desses pedidos. As ações da Embraer operam em queda de mais de 7% na B3, enquanto as ADRs despencam mais de 9% na Bolsa de Nova York.
"No entanto, é importante lembrar que cerca de 50% a 60% dos componentes desses jatos são fabricados nos EUA, permitindo deduções proporcionais de impostos sobre essas entregas, o que poderia mitigar o efeito tarifário sobre as margens", afirmam os analistas do Citi.
Entre outras empresas afetadas, diz o Citi, estão a Weg, do setor de bens de capital, que tem receita líquida de 7 a 8% exportada do Brasil para os EUA. Procurada, a empresa ainda não comentou possíveis impactos. as ações da Weg caem perto de 1% na B3.