Economia

Tarifa dos EUA afeta mais o Sudeste, diz presidente de agência brasileira para exportação

Jorge Viana se reuniu com Lula nesta tarde no Palácio do Planalto e elogiou a disposição do presidente em conversar com os empresários

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos - Saul Loeb / AFP

O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, afirmou nesta quinta-feira que a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros deve impactar com mais força a região Sudeste.

Em entrevista à impresa, logo após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio da Alvorada, Viana elogiou a postura do governo diante da medida e defendeu uma resposta “ponderada e unificada”.

— O momento é de muita tensão. Era só com outros países, agora é só com o Brasil. Se essa tarifa se consolidar, o principal prejudicado será o Sudeste, onde estão concentrados setores fortemente exportadores, como o aço e a indústria aeronáutica. O presidente foi muito ponderado na resposta que deu, foi uma carta de estadista — afirmou Viana, em referência ao comunicado publicado por Lula horas após o anúncio das tarifas.

Na avaliação do presidente da Apex, o documento enviado pelo governo norte-americano tem um “teor ideológico” e fere a autonomia do Brasil, ao propor mudanças em políticas internas, inclusive em temas ligados ao uso de redes sociais, como condição para manter relações comerciais.

— Precisamos separar o que, na carta de Trump, é ideológico e fere o Brasil, do que é estritamente comercial. A parte econômica não tem justificativa: desde 2009 o Brasil tem superávit com os Estados Unidos. Não há razão objetiva para o país ser submetido a uma tarifa de 50%. A carta fala em equilíbrio comercial, mas temos uma política de ganha-ganha que deve ser preservada — disse.

Viana também criticou a politização do tema por parte de lideranças da oposição, e fez um apelo à união federativa diante da crise, citando diretamente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

— Uma medida como essa atinge o Brasil e afeta diretamente os estados. Precisamos de união, entre o governo federal e os governadores, acima das diferenças ideológicas. Espero que o governador de São Paulo reflita e perceba que o estado será diretamente prejudicado. Esse não é momento para disputa — afirmou.

Segundo Viana, Lula demonstrou disposição em ouvir os setores impactados pelas tarifas e deve ampliar o diálogo com empresários nos próximos dias. Entre os segmentos mais afetados estão o da siderurgia e o da aviação, incluindo empresas como a Embraer.

Viana também destacou que a ApexBrasil está conduzindo estudos técnicos para embasar as próximas ações do governo, considerando inclusive a possibilidade de reorganizar as rotas e destinos da pauta exportadora brasileira.

— Estamos trabalhando na construção de cenários e apostamos em um entendimento via diálogo, independentemente de quem esteja na Casa Branca. O certo é que o Brasil não vai parar de vender seus produtos. Se for necessário, poderemos redesenhar a geografia econômica das exportações — afirmou.