Banco Central publica carta para justificar inflação acima da meta
Em meio ao debate sobre a taxa básica de juros, hoje em 15% ao ano, Galípolo respondeu às críticas que sugerem que o BC deveria flexibilizar a meta para permitir cortes mais rápidos na Selic
O Banco Central publicou nesta quinta-feira uma carta aberta para justificar oficialmente o descumprimento da meta de inflação. A medida ocorre após o IPCA acumulado em 12 meses atingir 5,35% em junho, ultrapassando o teto da meta — de 4,5% — por seis meses consecutivos.
Com isso, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, é obrigado por lei a enviar uma explicação formal ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhando as causas da inflação fora da meta e as providências em curso.
Essa é a segunda vez que Galípolo precisa redigir uma carta do tipo em menos de seis meses. A primeira foi no início do ano, referente ao estouro da meta em 2024, ainda sob a regra antiga.
A nova sistemática, da “meta contínua”, passou a valer em janeiro de 2025 e considera como descumprimento o desvio por seis meses seguidores do intervalo de tolerância — que vai de 1,5% a 4,5%, com centro em 3%.
— Nós todos do Copom estamos bastante incomodados. Eu que já tenho esse começo que me incomoda demais na minha gestão de, em seis meses, ter que escrever a segunda carta de descumprimento da meta — afirmou Galípolo na quarta-feira, durante audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
Desde 1999, a inflação ficou acima da meta oito vezes e uma vez abaixo, em 2017. Veja a seguir:
Defesa da meta e da credibilidade
Em meio ao debate sobre a taxa básica de juros, hoje em 15% ao ano, Galípolo respondeu às críticas que sugerem que o BC deveria flexibilizar a meta para permitir cortes mais rápidos na Selic.
O presidente do BC foi categórico ao afirmar que a meta de 3% com margem de 1,5 ponto percentual “não é uma sugestão” e não pode ser alterada conforme conveniências conjunturais.
— Tenho visto que a maior parte das críticas a elevada taxa de juros está associada a uma sugestão de que não se devia cumprir a meta. Mas a meta é 3%. O Banco Central não vai se desviar nenhum milímetro disso — disse. — Nenhum presidente do BC tem satisfação pessoal em ver o Brasil exibir taxas de juros mais altas. Nosso papel é colocar a taxa num patamar restritivo o suficiente, pelo tempo necessário, para trazer a inflação de volta à meta.