Festa. Fraude e Fome. Enquanto a consciência desperta...
Enquanto a consciência crítica do tempo presente tenta cruzar dados, orçamentos, empenhos e transferências constitucionais, uma realidade desconcertante se impõe: os 184 municípios de Pernambuco — mais o distrito de Fernando de Noronha — celebraram com festas suntuosas o São João, São Pedro e as emancipações políticas, algumas com shows milionários que pouco ou nada dialogam com as verdadeiras urgências do povo.
Em paralelo, esses mesmos municípios recebiam, em média, algumas migalhas em emendas parlamentares, muitas delas com destinação marcada por interesses políticos imediatistas, distantes das reais prioridades. A pergunta que a razão impõe é simples: qual o custo real dessa alegria passageira?
A festa, que deveria ser a expressão da cultura e da resistência do povo nordestino, transforma-se — em muitos casos — em vitrine de desperdício, vaidade política e maquiagem da pobreza. Milhões são gastos em poucos dias, enquanto postos de saúde seguem sucateados, escolas carecem de estrutura básica, estradas esburacadas isolam comunidades inteiras, e o saneamento continua sendo promessa de palanque.
Sob os refletores e os fogos de artifício, prefeitos aplaudem artistas de fora que engordam suas contas bancárias às custas do erário, enquanto os talentos da terra tocam, se muito, no esquecimento. Emendas parlamentares são negociadas como moeda de troca, e os recursos públicos se evaporam como balões coloridos nos céus das festas.
A razão, quando se permite pensar com lucidez, revela a incoerência: dezenas de milhões de reais consumidos pela euforia de poucos dias, enquanto o povo clama por dignidade o ano inteiro. Talvez, um dia, o juízo coletivo desperte em meio ao silêncio que se segue aos fogos. E então, em vez de alegria comprada, o povo festeje saúde, educação, trabalho e respeito.
É chegada a hora de dar nome aos verdadeiros mercadores da miséria pública. Políticos que dilapidam o patrimônio do povo, mas se fazem de inocentes sob palanques enfeitados e discursos vazios, não são gestores: são comerciantes da esperança alheia. Fazem da prefeitura um mercado persa onde tudo se vende — da dignidade ao futuro.
É hora de erguer a voz e cobrar. Cobrar com lucidez, com memória, com coragem. Porque quem compra aplausos com dinheiro público hoje, amanhã cobra caro em abandono, silêncio e promessas não cumpridas.