China critica tarifaço de Trump ao Brasil: "EUA não podem usar tarifas como ferramenta de coerção"
Ministério de Relações Exteriores chinês lembra que igualdade de soberania e não-intervenção em assuntos domésticos são princípios da Carta da ONU e normas básicas nas relações internacionais
A China criticou nesta sexta-feira a decisão do governo de Donald Trump de elevar para 50% as tarifas sobre as exportações brasileiras, com vigência prevista para 1º de agosto, acrescentando que os Estados Unidos não deveriam usar as tarifas como uma ferramenta de coerção.
— A igualdade de soberania e a não-intervenção em assuntos domésticos são princípios importantes da Carta da ONU e normas básicas nas relações internacionais — disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, ao ser questionada sobre o que achava da tarifa de 50% anunciada por Trump sobre produtos brasileiros que entrarem nos EUA. — Tarifas não deveriam ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência — acrescentou a porta-voz.
O governo brasileiro acredita que o tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos vai aproximar ainda mais o Brasil da China, segundo interlocutores do governo brasileiro. A avaliação é que os ataques da gestão Trump reforçarão os laços políticos com Pequim e levarão o setor privado nacional para mais perto de outros parceiros internacionais, incluindo os chineses.
Foi a primeira manifestação de Pequim desde que Trump anunciou as novas tarifas ao Brasil, que abriu uma crise diplomática entre Washington e Brasilia, ressalta reportagem do G1, lembrando que o anúncio do presidente americano sobre o aumento da tarifa aos produtos brasileiros veio logo após o fim da cúpula do Brics, grupo do qual a China também faz parte, realizada na semana passada no Rio de Janeiro.
Depois do tarifaço: Exportadoras brasileiras vivem a incerteza do ‘próximo embarque’ para os EUA
Na ocasião, Trump afirmou que vai aplicar uma sobretaxa de 10% aos países do bloco e a todos que se alinharem ao Brics. O argumento do republicado foi o de que o grupo, segundo ele, estaria tentando enfraquecer os EUA e substituir o dólar como moeda padrão global. Em resposta, o presidente Lula criticou Trump e disse que intromissão no Brics não será aceita.
Nesta sexta-feira, antes de embarcar para um voo rumo ao Texas, o presidente americano disse que pode conversar com o Brasil “em algum momento” após a ameaça de impor tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para o seu país.
No início do ano, a China também travou uma batalha tarifária com os Estados Unidos que terminou em uma luta de forças entre Pequim e Washington no quadro geopolítico mundial. Em abril, quando Trump anunciou aumento de tarifas a produtos de uma série de países, os produtos chineses receberam uma das taxas mais altas, de 34%.
Ao contrário da maioria dos governos, que costuraram acordos com Washington, a China retaliou, aumentando impostos a produtos dos EUA. Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, iniciaram então uma "batalha" de retaliações, com aumentos mútuos de tarifas que chegaram a 145% para produtos chineses que entram nos EUA e 125% para os bens americanos importados pela China, lembra o G1.
Em maio, após o governo chinês dar a última cartada na guerra tarifária, Washington propôs negociações, e os dois países chegaram a um acordo, reduzindo as tarifas para 30% no caso de produtos chineses nos EUA, e 10% para produtos americanos na China.