Com ações em baixa, Apple enfrenta críticas e apelos por avanços em inteligência artificial
Decepção com o ritmo de implementação de recursos de IA em seu vasto ecossistema de dispositivos tem se tornado uma preocupação central para os investidores
A Apple está enfrentando pressão para reformular sua estratégia corporativa e revitalizar seus esforços enfraquecidos em inteligência artificial.
Alarmados com a queda nas ações — que já eliminou mais de US$ 640 bilhões em valor de mercado neste ano — e frustrados com os atrasos no lançamento de recursos de IA, investidores estão pedindo que a Apple rompa com suas tradições e faça uma grande aquisição, além de buscar talentos de forma mais agressiva.
"Historicamente, a Apple não realiza grandes fusões e aquisições", disse o analista Atif Malik, do Citigroup, observando que o último grande negócio foi a compra da Beats em 2014. Mas, segundo ele, “os investidores ficariam mais otimistas se a Apple adquirisse ou investisse uma participação significativa em uma fornecedora de IA já estabelecida”.
As ações da Apple caíram 16% neste ano, enquanto empresas como a Meta têm sido impulsionadas por grandes investimentos em IA. Embora a Apple enfrente outros desafios, como tarifas e questões regulatórias, a decepção com o ritmo de implementação de recursos de IA em seu vasto ecossistema de dispositivos tem se tornado uma preocupação central para os investidores.
A Apple não respondeu a um pedido de comentário. As ações caíram 1,3% na segunda-feira.
A empresa historicamente evitou aquisições, preferindo desenvolver seus próprios produtos. A maior aquisição da história da Apple foi a compra da fabricante de fones de ouvido Beats por US$ 3 bilhões, há mais de uma década.
Há sinais de que a Apple pode estar começando a considerar essa abordagem. A Bloomberg News informou no mês passado que executivos da empresa realizaram discussões internas sobre uma possível oferta pela startup de IA Perplexity AI, o que traria novos talentos e ajudaria a Apple a desenvolver um mecanismo de busca baseado em IA.
A startup recentemente concluiu uma rodada de investimentos que a avaliou em US$ 14 bilhões.
Dan Ives, analista da Wedbush e tradicional defensor da Apple, disse que comprar a Perplexity seria uma “decisão óbvia”, e que mesmo se a Apple pagasse US$ 30 bilhões, esse valor seria “uma gota no oceano, comparado à oportunidade de monetização que a Apple pode alcançar com IA”.
Desde que revelou sua visão para IA há mais de um ano, os lançamentos da Apple têm desapontado, como os apresentados na Worldwide Developers Conference no mês passado. A empresa estaria considerando usar tecnologia de IA de empresas terceirizadas, em vez de desenvolver modelos internos, para alimentar uma nova versão de sua assistente digital Siri.
Kevin Cook, estrategista sênior da Zacks Investment Research, quer que a Apple adote uma postura semelhante à da Meta na contratação de especialistas em IA, mas para por aí, dizendo que as preocupações sobre suas deficiências em IA estão sendo exageradas.
“O foco deve estar na atração de talentos em IA”, disse Cook. “A Apple certamente tem desafios, mas não está numa situação como a do Google, que poderia ser facilmente superado por concorrentes se ficasse para trás”, afirmou.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, não poupou gastos para alcançar seus objetivos com IA. A empresa recentemente contratou um engenheiro que liderava a equipe de modelos de IA da Apple, oferecendo um pacote salarial na casa das centenas de milhões de dólares ao longo de alguns anos — oferta que, segundo a Bloomberg News, a Apple nem tentou igualar.
Isso ocorreu após a Meta anunciar um investimento de US$ 14,3 bilhões na Scale AI, no mês passado.
Claro, a Apple tem amplos recursos para fazer movimentos semelhantes. A empresa possuía US$ 133 bilhões em caixa e títulos negociáveis no fim de março — quase o dobro do caixa da Meta.
Nos últimos tempos, houve mudanças notáveis na Apple. O diretor de operações, Jeff Williams, se aposentará após uma década no cargo. E Luca Maestri, o veterano diretor financeiro da empresa, deixou o cargo no ano passado.
No fim de semana, a Bloomberg News informou que o CEO Tim Cook permanecerá no comando, embora a empresa esteja se preparando para uma ampla reformulação na gestão.
Analistas da LightShed Partners afirmam que uma reestruturação é “exatamente o que a Apple precisa agora”, mesmo que isso signifique substituir Cook como CEO. “Fracassar em IA pode alterar fundamentalmente a trajetória de longo prazo da empresa e sua capacidade de crescer”, escreveram Walter Piecyk e Joe Galone em uma nota aos clientes, em 9 de julho.
Embora não defenda uma mudança de liderança no topo, Paul Meeks, analista sênior e diretor da Water Tower Research, concorda que a fabricante do iPhone precisa fazer “algo ousado”.
“Um acordo significativo não apenas ajudaria na IA, como mostraria que a empresa está comprometida com uma mudança cultural e com uma correção de rumo. Ela não conseguirá fazer IA sozinha”, disse.
O índice "Magnificent 7", da Bloomberg, subiu quase 40% desde a baixa de abril, impulsionado pelo desempenho de empresas como Nvidia, Meta e Microsoft. O índice ponderado igualmente — que também inclui Apple, Alphabet, Amazon.com e Tesla — está se aproximando da máxima histórica registrada em dezembro do ano passado.