Parlamento de Israel fracassa em destituir deputado árabe-israelense
Primeiro-ministro pode ficar em posição de maior vulnerabilidade desde o início da guerra se siglas ultraortodoxas confirmarem saída do governo
O Parlamento de Israel bloqueou uma tentativa liderada pelo partido do premier Benjamin Netanyahu de destituir o deputado árabe-israelense Ayman Odeh, líder do partido Hadash-Ta’al, após partidos da oposição e siglas ultraortodoxas boicotarem a votação realizada na segunda-feira. A derrota para os governistas ocorre em um momento em que legendas religiosas anunciaram que vão deixar a coalizão — o que coloca Netanyahu na posição de maior fragilidade desde o começo da guerra na Faixa de Gaza.
A moção para destituição de Odeh foi proposta por um deputado do Likud, partido de Netanyahu, que alegou que o parlamentar de origem palestina seria um "apoiador do terrorismo", fazendo comentários "nojentos" sobre o conflito.
A polêmica começou quando, durante o cessar-fogo costurado em janeiro, Odeh fez uma publicação nas redes sociais se dizendo feliz "pela libertação dos reféns [israelenses] e dos prisioneiros [palestinos]". A petição obteve o número necessário de assinaturas depois que Odeh afirmou, em um protesto antiguerra em Haifa, em maio, que "Gaza venceu e Gaza vencerá".
Na votação de segunda-feira, 73 deputados votaram pela destituição, 15 votaram contra e 32 não se apresentaram para a votação. Eram necessários 90 votos a favor (três quartos do total de assentos) para que houvesse o afastamento definitivo.
Apesar da medida contar com o voto favorável de cinco parlamentares do Yesh Atid, sigla da oposição liderada pelo ex-premier Yair Lapid — que votou contra —, a moção não progrediu ao ser bloqueada por deputados do Partido Azul e Branco, do opositor Benny Gantz, e do Judaísmo da Torá Unida, legenda ultraortodoxa que anunciou na noite de segunda-feira que estava deixando a coalizão de Netanyahu.
Rompimento ultraortodoxo
O motivo do rompimento, segundo lideranças do partido citadas pela imprensa israelense, seria o apoio do governo a um projeto de lei que busca diminuir as isenções de alistamento militar a jovens estudantes de escolas talmúdicas, excluídos das obrigações militares desde a fundação do Estado de Israel.
Lideranças ultraortodoxas, incluindo o ministro de Assuntos de Jerusalém, Meir Porush, o vice-ministro da Cultura, Yaakov Tessler, e o chefe da Comissão de Trabalho e Bem-Estar da Knesset, israel Eichler, apresentaram suas cartas de renúncia aos cargos do governo nesta terça-feira. Caso não haja uma reversão por parte da coalizão, a saída será confirmada em 48 horas.
Sem os sete parlamentares do Judaísmo da Torá Unida, a coalizão de Netanyahu ficaria com apenas 61 das 120 cadeiras no parlamento, deixando o governo com a margem mínima para sobreviver a uma eventual tentativa de removê-lo do poder. A crise governista pode ser ainda mais grave se outra sigla ultraortodoxa, o Shas, seguir o mesmo caminho — Fontes do partido ouvidos pelo jornal israelense Times of Israel anunciaram que aguardariam as renúncias do Judaísmo da Torá Unida entrarem em vigor para decidir se anunciariam sua própria saída do governo. Caso se confirme, o primeiro-ministro perderia a maioria na Knesset.
É provável que Netanyahu use as 48 horas antes da demissão para tentar apaziguar os ultraortodoxos e trazê-los de volta à coalizão. O porta-voz do premier, Topaz Luk, minimizou a probabilidade de que a medida possa alterar o equilíbrio de poder no gabinete — apesar da margem menor de parlamentares forçar o governo a se apoiar nos partidos nacionalistas de extrema direita, que se opõem ao plano de cessar-fogo em Gaza proposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
— Não estou preocupado — disse Luk à Rádio do Exército de Israel na segunda-feira. — No momento em que o acordo certo estiver na mesa, o primeiro-ministro conseguirá aprová-lo. Tenho certeza disso.
O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, principais lideranças da extrema direita no país, disseram que se oporiam a uma trégua em Gaza. (Com Bloomberg e AFP)