Reunião de Tarcísio com empresários acontece a portas fechadas
Governador e Skaf, que organizou a reunião, evitaram a imprensa nesta terça, enquanto filho de Bolsonaro escala a crise nas redes sociais
A reunião do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) com empresários paulistas e o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, nesta terça-feira, 15, ocorreu a portas fechadas no Palácio dos Bandeirantes e não teve sequer a lista de presenças divulgada.
O ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Paulo Skaf, que organizou a reunião junto com o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jorge Lima, também saiu sem falar com a imprensa.
O encontro também não constava na agenda oficial de Tarcísio até pouco antes de se efetivar, próximo das 10h, apesar de amplamente noticiado ontem. A postura destoa da visibilidade recente que Tarcísio deu ao encontro com Escobar em Brasília, que resultou na ira do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), licenciado nos EUA.
Bolsonaristas dizem que Tarcísio, ao adotar a postura de diálogo com autoridades norte-americanas pela reversão do “tarifaço”, joga a culpa no grupo e trabalha contra a pressão de Trump sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). O filho de Bolsonaro escalou hoje a crise ao afirmar nas redes que o governador atua com "subserviência servil às elites".
O grupo de empresários da indústria e do agronegócio procuraram o governador, desde semana passada, para articular um encontro com o representante americano a fim de discutir os prejuízos mútuos da medida anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a partir de 1º de agosto.
Fontes do governo paulista disseram ter abastecido Tarcísio com relatórios enviados e que um estudo próprio está em andamento considerando o impacto da sobretaxa de 50% não apenas em termos de volume de exportação, mas em toda a cadeia produtiva e na arrecadação de impostos.
Informações extraoficiais dão conta, contudo, que algumas entidades deram preferência ao encontro com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), em Brasília, no mesmo dia, de forma a tentar influenciar mais diretamente o governo federal sobre a importância de reverter a medida por meio da diplomacia do Itamaraty.
O atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, por exemplo, foi ao encontro de Alckmin, e não de Tarcísio. Entidades do agronegócio também enviaram os seus principais representantes ao Planalto, ainda que tenham prestigiado o governador com representantes de segundo escalão.
Eles estão preocupados ainda com declarações recentes do presidente Lula (PT) de que o Brasil responderia ao “tarifaço” com a Lei de Reciprocidade Econômica, aumentando o imposto também sobre os produtos americanos, o que também pesaria pelo lado dos custos de produção.
O discurso predominante é que a hora seria de distensionar as relações, e não dobrar a aposta, convencendo tecnicamente a Casa Branca de que o prejuízo econômico nas relações bilaterais não compensa a bravata política de Trump.
Em nota encaminhada a jornalistas, Skaf disse que existe uma “sólida integração de cadeias produtivas entre os dois países” e que o grupo de cerca de 20 empresários dos setores de aviação, suco de laranja, café, máquinas, madeira e etanol defendem “esforços no campo diplomático para superar os impactos das novas tarifas”.
“O momento exige maturidade, firmeza e cooperação: é fundamental que se esgotem todas as medidas de negociação e que o diálogo prevaleça, sempre com base nos interesses da economia real e da competitividade da indústria brasileira”, afirma o documento.
Nos bastidores, interlocutores do grupo de empresários paulistas alegam que eles não querem “envolvimento político-partidário” e que as conversas não envolvem Bolsonaro, anistia aos envolvidos no 8 de janeiro ou as eleições de 2026.
Uma fonte disse ainda que Skaf procurou capitalizar em cima da reunião com Tarcísio e, apesar de ser um dos protagonistas do movimento, não era o único canal aberto com o governo do estado.