Trump ataca base descontente sobre transparência no caso Epstein: "Apoiadores do passado"
Presidente afirmou que a indignação com a decisão do Departamento de Justiça de não divulgar informações adicionais e encerrar a investigação foi o mais recente 'golpe' inventado por democratas
Em uma publicação contundente nas redes sociais na manhã desta quarta-feira (16), o presidente americano, Donald Trump, criticou seus apoiadores que estão descontentes com a forma como o governo lida com os arquivos relacionados à investigação de Jeffrey Epstein, o criminoso sexual condenado cujas conexões com figuras ricas têm sido objeto de intenso interesse entre setores expressivos de sua base.
Trump se distanciou daqueles que o criticaram, chamando-os de "apoiadores do PASSADO" que "acreditaram nessa 'besteira', linha, anzol e chumbada". Também afirmou que a indignação com a decisão do Departamento de Justiça de não divulgar informações adicionais e encerrar a investigação foi apenas o mais recente "golpe" inventado pelos democratas.
"Deixem esses fracotes seguirem em frente e fazerem o trabalho dos democratas", ele escreveu, "nem pensem em falar do nosso sucesso incrível e sem precedentes, porque eu não quero mais o apoio deles!".
Ao fazer isso, Trump recorreu a um velho truque: tentar reformular questões politicamente desfavoráveis como sendo obra dos democratas e de seus oponentes políticos.
Anteriormente, ele tentou culpar os democratas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, pelas más notícias econômicas durante seu mandato e agora pela decisão de seu governo de reter alguns documentos na investigação do governo sobre Epstein.
Mas o descontentamento com a forma como o governo Trump lidou com os chamados arquivos Epstein veio da direita, e os democratas simplesmente entraram na briga depois de ver uma fragmentação dos apoiadores do MAGA ("Make America Great Again") de Trump, muitos dos quais se sentem traídos.
A postagem também destaca a crença de longa data de Trump de que ele pode convencer seus seguidores de quase tudo sem perder seu apoio.
O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, distanciou-se de Trump na terça-feira e instou a secretária de Justiça Pam Bondi a tornar públicos todos os documentos relacionados a Epstein.
Os democratas exigem que o governo Trump publique integralmente os materiais em posse dos promotores no âmbito da investigação.
Entenda o caso
Epstein, um rico financista americano, foi acusado pela primeira vez em 2006, depois que os pais de uma adolescente de 14 anos denunciaram à polícia que ele havia agredido sexualmente sua filha em sua casa na Flórida. Ele evitou então acusações federais — que poderiam ter lhe custado prisão perpétua — graças a um polêmico acordo judicial com promotores. No total, cumpriu menos de 13 meses de detenção.
Em julho de 2019, Epstein foi preso novamente em Nova York, acusado de tráfico sexual de dezenas de adolescentes, com quem teria mantido relações sexuais em troca de dinheiro. Promotores afirmam que alguns de seus funcionários agiram como cúmplices para garantir um "fluxo constante de menores para exploração".
Epstein se declarou inocente. Em 10 de agosto de 2019, enquanto aguardava julgamento em prisão preventiva, foi encontrado morto em sua cela. As autoridades concluíram que foi suicídio por enforcamento.
O julgamento de sua ex-companheira Ghislaine Maxwell, condenada em 2022 por ajudar Epstein a abusar de jovens, destacou os vínculos do financista com personalidades como o príncipe Andrew do Reino Unido e o ex-presidente Bill Clinton. Ambos negam envolvimento.
Teorias da conspiração
Muitos americanos acreditam que as autoridades ocultam informações para proteger membros da elite ligados a Epstein — inclusive Trump. Mas os apelos por mais transparência vão além de divisões políticas.
A teoria central dessa suposta conspiração gira em torno da existência de uma lista de clientes envolvidos em crimes sexuais com Epstein. O governo Trump afirma agora que tal lista nunca existiu.
Céticos também levantam dúvidas sobre as circunstâncias da morte de Epstein, devido à falha nas câmeras de segurança próximas à cela na noite do ocorrido e outras irregularidades.
Trump, que era próximo de Epstein quando era magnata imobiliário em Nova York — como mostram inúmeros vídeos e fotos — declarou, durante a última campanha presidencial, que se voltasse ao poder não teria "nenhum problema" em divulgar a suposta lista de clientes, embora tenha indicado duvidar de sua existência.
Mas desde que retornou à Casa Branca, parte de seus apoiadores se diz decepcionada por considerar que ele não cumpriu a promessa. Ele próprio acabou envolvido nas teorias depois que Elon Musk, afirmou em junho, em uma postagem excluída da rede X, que Trump "figura no dossiê Epstein".
Uma série de documentos divulgados em fevereiro com o objetivo de esclarecer o caso trouxe poucas novidades. Além disso, um vídeo de quase 11 horas divulgado este mês para refutar as suspeitas de assassinato não convenceu.
As imagens mostram parte da prisão de Nova York onde Epstein morreu, mas parece faltar um minuto da gravação, o que alimentou ainda mais as especulações.
Um memorando publicado na semana passada pelo Departamento de Justiça e pelo FBI, afirmando que o "dossiê Epstein" não contém provas que justifiquem novas investigações, gerou forte reação.
Com New York Times e AFP.