Influenciadores digitais

Influenciadores e saúde mental: criadores de conteúdo pernambucanos refletem sobre exposição

A funkeira MC Thammy, o dançarino Júnior Lins e a influenciadora Glendha detalharam como lidam com contato com ódio, ansiedade e necessidade de estar sempre presente nas redes sociais

MC Thammy (@mcthammy), Júnior Lins (@junioorlins) e Glendha (@oiglendha) - Cortesia

O mês de julho está sendo marcado pelo reforço da necessidade de cuidar da saúde mental para as pessoas que trabalham com a internet.

O debate foi puxado, inicialmente, pelo desabafo da cantora Ana Castela, em um show em Minas Gerais. A reportagem da Folha de Pernambuco abordou o tema com influenciadores digitais que moram no Recife. 

Os altos números de seguidores e engajamento, que trazem a remuneração desejada por quem trabalha com esse tipo de conteúdo, também trazem ódio e exposição da vida para a opinião pública. 

Contato com ódio 
A funkeira Thammy Caroline, conhecida como MC Thammy, acumula mais de 1,8 milhão de seguidores apenas no Instagram. 

Além da parte artística, ela também trabalha com criação de conteúdo nas redes sociais. MC Thammy começou a produzir esses materiais em 2018, publicando fotos e vídeos no Instagram e YouTube. 

De acordo com a funkeira, a internet é repleta de pessoas diferentes, sendo impossível agradar todas. 

"Eu já me acostumei com ondas de hate [ódio] e comentários dignos de pena a meu respeito, mas tento me blindar porque sei que há muitas pessoas maldosas que às vezes só comentam para querer depositar em você suas próprias frustrações", avaliou.

MC Thammy também acredita que o trabalho realizado por influenciadores nas redes sociais tem o ônus e bônus, destacando que essa foi uma forma de mudança de vida para ela. 

"Você tem que estar realmente disposta e saber que nem todas as pessoas aguentam a pressão psicológica que existe quando você compartilha a sua vida nas redes", iniciou.

"Mas claro que também tem muitas partes boas, a internet mudou minha vida e eu sempre agradeço pela oportunidade que tive de poder trabalhar com o que amo, sempre tentando me manter com a cabeça equilibrada e emocionalmente estável apesar das dificuldades", completou.

"Trabalhar com a própria imagem é bonito, mas também é pesado”
Com quase meio milhão de seguidores no Instagram, o dançarino Júnior Lins produz conteúdos de dança e humor nas redes sociais. 

"Eu sempre fui esse menino agitado, que gosta de dançar, brincar e fazer graça. A internet entrou na minha vida como uma forma de extravasar tudo isso", relatou.

Natural de Arcoverde, no Sertão pernambucano, Júnior declarou que houve momentos em que se perdeu no meio do ambiente digital. 

"Trabalhar com a própria imagem é bonito, mas também é pesado. Às vezes, parece que a gente tem que estar feliz o tempo todo, criativo, disponível, entregando conteúdo como se não tivesse dias ruins. E teve um ponto em que eu percebi que estava publicando mais por medo de sumir do que por vontade real de me comunicar". 

Se em algum momento a ausência das redes sociais era algo que trazia uma certa culpa, Júnior Lins entende, atualmente, a importância de se desconectar. 

"Desconectar também é parte do meu trabalho. Porque se eu não paro, eu não crio. Se eu não vivo, eu não tenho o que mostrar. Então impor limite digital para mim não é só cuidado pessoal, é estratégia profissional. É o que me mantém saudável, criativo e verdadeiro no que eu compartilho".

Sinais de ansiedade
A ansiedade é um tópico bastante levantado pelos criadores de conteúdo na internet. A influenciadora Glendha, de 18 anos, está neste ambiente virtual desde os 7 anos de idade. 

Inspirada em temas relacionados ao humor e em artistas como Whindersson Nunes, ela tem 752 mil seguidores no Instagram e quase 1 milhão no Tiktok. 

"Quando eu comecei a ganhar visibilidade, ficava muito ansiosa e preocupada em entregar o quanto antes vídeos, tudo tinha que ser conteúdo. E isso começou a me afetar bastante nos estudos, em questão de me socializar, e comecei a ter sinais fortes de ansiedade", relatou a criadora de conteúdo.

Sobre os impactos negativos em sua vida, Glendha argumenta que iniciar o processo de terapia foi fundamental para lidar melhor com a vida digital. 

“Iniciar uma terapia é um ótimo primeiro passo. Querendo ou não, lidar com pessoas, não apenas na área de influenciadores, mas sim em geral, requer muita estabilidade emocional, e para não se deixar abalar, conversar com um profissional sempre vai lhe ajudar, da mesma forma que me ajudou”.