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Temor sobre ofensiva maior dos EUA após STF restringir Bolsonaro eleva taxas

Nova investigação da PF contra Bolsonaro concluiu que ele estimulou iniciativas do governo dos EUA para impor sanções ao Brasil, em represália à ação da qual é réu no STF

Ex-presidente Jair Bolsonaro fala sobre uso da tornozeleira eletrônica - Evaristo Sa/AFP

A curva de juros mostrou alta em praticamente todos os vencimentos nesta sexta (18) tendência que ganhou força ao longo do dia, à medida que investidores ampliaram temores a respeito de uma ofensiva mais intensa dos Estados Unidos contra o Brasil. O gatilho para a piora foi a crise política instaurada pelo novo inquérito da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Encerrados os negócios, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) que vence em janeiro de 2026 ficou em 14,965%, vindo de 14,943% no ajuste de ontem. O DI de janeiro de 2027 passou de 14,339% no ajuste da véspera para 14,365%. O DI de janeiro de 2028 avançou de 13,687% no ajuste antecedente a 13,735%, e o contrato do primeiro mês de 2029 marcou 13,655%, ante 13,593% no ajuste de quinta.

Por volta das 13h30, as taxas chegaram a tocar as máximas intradia em vários vértices. O fôlego adicional ocorreu após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ter formado maioria para manter as medidas restritivas impostas a Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes.

Nova investigação da PF contra Bolsonaro concluiu que ele estimulou iniciativas do governo dos EUA para impor sanções ao Brasil, em represália à ação da qual é réu no STF. O ex-presidente está usando tornozeleira eletrônica, proibido de acessar redes sociais e incomunicável com outros réus. O presidente dos EUA, Donald Trump, publicou ontem uma carta em sua rede Truth Social endereçada ao ex-presidente, na qual voltou a afirmar que o político recebe "tratamento injusto" por aqui e a pedir que o STF encerre o julgamento do ex-líder.
 

Paulo Henrique Oliveira, estrategista de renda fixa da Daycoval Corretora, destaca que, a despeito do ambiente de maior cautela, os vencimentos mais curtos da curva praticamente não se moveram nesta sexta. A estabilidade evidencia que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) foi bem-sucedido na tarefa de ancorar as expectativas sobre a Selic, uma vez que o mercado segue precificando que a taxa permanecerá em 15% até ao menos o primeiro trimestre de 2026, diz Oliveira.

O estrategista aponta dois vetores de pressão sobre os juros futuros no pregão desta sexta: a falta de consenso sobre uma candidatura de direita ao pleito presidencial de 2026, o que aumentaria as chances de reeleição do presidente Lula e, consequentemente, de continuidade de uma política fiscal pró-gastos, e, também, a maior tensão comercial com os EUA, reforçada após os acontecimentos de hoje. "Depois do que houve com Bolsonaro, o receio é que Trump dobre a aposta e eleve ainda mais as tarifas contra o Brasil".

As eleições ainda estão longe, mas parece que quanto mais a disputa se aproxima, há menos consenso sobre qual será o candidato de oposição à Lula, diz Oliveira, acrescentando que as reações ao episódio de Bolsonaro sinalizaram que a direita está muito dividida.

No balanço da semana, também houve elevação das taxas futuras, com ganho de inclinação da curva, destaca a equipe econômica do Santander. A ascensão, segundo os economistas, teve como influência a alta nos juros dos títulos americanos e, do lado interno, desdobramentos que aumentaram a percepção de risco sobre o quadro fiscal. "Além disso, a incerteza em torno das tarifas anunciadas pelos EUA contra o Brasil, somada ao risco de retaliação e falta de clareza na resposta do governo, ainda sustenta prêmios elevados em todos os vértices", comenta o banco