Considerada extinta, ave mutum retorna ao seu habitat nesta sexta
Espécie rara será reintroduzida na Mata Atlântica em uma área cedida pela Usina Utinga Leão, em Alagoas
Marco da preservação da fauna brasileira, o mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) será reintroduzido na natureza nesta sexta-feira (22), em uma área de Mata Atlântica em Alagoas. A ação também tem como ponto positivo o fato de não ser isolada em si mesma. Pelo contrário, desencadeará uma série de outras atividades voltadas à educação ambiental de comunidades do entorno e à preservação dessa e de outras espécies, como um exemplo exitoso que inspirará reações.
A ave, vista pela última vez na natureza há 30 anos e considerada oficialmente extinta em seu ambiente natural em 2001, só existia em cativeiro. Agora, voltará ao seu habitat natural em uma área cedida pela Usina Utinga Leão, do Grupo EQM, do qual também faz parte a Folha de Pernambuco. O acontecimento será prestigiado pelo governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), o prefeito de Rio Largo, Gilberto Gonçalves (PP), o diretor adjunto operacional da usina, Eduardo Cunha, além de empresários e ambientalistas em solenidade para 250 convidados às 9h, em Rio Largo.
A área cedida tem mais de meio hectare. Nela foi construído o Centro de Educação Ambiental Pedro Nardelli, em alusão ao homem que, nos anos 1980, salvou três espécimes de mutum da caça e da devastação da floresta. Eles passaram a ficar em criatórios e a se reproduzir. Hoje, existem 230 animais em cativeiro.
Um casal criado pela Crax Brasil, organização não governamental que acolhe aves ameaçadas, foi transportado de Minas Gerais para Alagoas. Os mutuns ficarão num viveiro de 390 metros quadrados, que também será inaugurado hoje. O evento marcará as celebrações dos 200 anos de emancipação política daquele estado.
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A ave foi escolhida como símbolo de Alagoas por ser endêmica lá, ou seja, só ocorre naquela região. Seu regresso teve direito a contagem regressiva nas redes sociais e até a slogan: “Vamos trazer esse alagoano de volta”.
Na visão do presidente do Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), Fernando Pinto, a reinserção do mutum-de-alagoas em seu habitat é um exemplo de como esforços conjuntos podem dar bons resultados e replicados na conservação de outras espécies.
“Além da concretização de um sonho e de possibilitar o retorno de uma ave extinta da natureza, isso propicia a possibilidade de conhecer ao vivo e em cores essa magnífica ave. Receber o mutum-de-alagoas de volta estabelece um modelo de cooperação entre pessoas e instituições imbuídas de um sentimento nobre, que possibilitará que outras espécies ameaçadas possam ter a mesma chance que o mutum está tendo”, afirma.
O IPMA foi criado pela Utinga Leão juntamente com outras usinas há 21 anos e vem desenvolvendo o programa para reintrodução do mutum em seu habitat. O casal transportado de Minas Gerais tem quatro anos de idade e será o primeiro a participar do projeto. A ideia é que, nos próximos seis meses, mais três machos e três fêmeas sejam levados para o viveiro.
O espaço poderá ser visitado por grupos de até cinco pessoas, numa espécie de imersão aliada à educação ambiental voltada à Mata Atlântica. Será a oportunidade para que pessoas que nunca ouviram falar do mutum-de-alagoas o conheçam, sendo estimuladas à preservação. A soltura na natureza só deve ocorrer num segundo momento, em áreas já identificadas e protegidas com a colaboração do Instituto do Meio Ambiente (IMA), órgão do Governo do Estado envolvido no processo.
A analista ambiental da Usina Utinga Leão, Michelle Cardoso, explica que um marco como esse deve ser decisivo para inspirar outras iniciativas de preservação. “Nenhum outro estado teve um projeto como este. A ave mais rara do mundo, uma espécie endêmica, sendo trazida de volta. Fazendo isso, nós, como empresa, levantamos uma bandeira, a bandeira pela preservação dessa e de outras espécies também”, destaca.