Justiça

Testemunha vê "materialidade" em direcionamento de blitze da PRF na eleição de 2022

Outras testemunhas indicadas por Silvinei Vasques negaram que ex-diretor da PRF tenha direcionado policiamento para prejudicar voto em eleitores de Lula

Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF durante o governo de Jair Bolsonaro, é réu na ação penal da trama golpista - Reprodução

Testemunha arrolada pela defesa do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na ação da trama golpista, o agente Alexandre dos Santos Lopes afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira que havia "materialidade" quanto a um possível policiamento ilegal no padrão das blitze realizadas pela PRF no segundo turno das eleições.

Ele, porém, disse não ser possível atribuir essas operações a ordens de Vasques. Santos Lopes atuou na investigação instaurada pela PRF para apurar eventuais irregularidades no policiamento da corporação durante as eleições.

— A partir dessa análise e de depoimentos colhidos, identificamos inconsistências em relação aos números operacionais apresentados em cinco estados. Pará, Maranhão, Santa Catarina, Sergipe e algum outro do Nordeste. (...) Identificamos uma trilha de materialidade, mas não de autoria. Não havia elementos para apontar autoria com segurança, nem para afastar autoria de qualquer servidor — disse Santos Lopes. Ele diz ter parado de acompanhar o caso após a Controladoria-Geral da União ter chamado para si a investigação do caso.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra SIlvinei menciona uma ação coordenada entre a cúpula do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e a direção da PRF para dificultar o voto de eleitores em municípios em que Lula era favorito no segundo turno, em especial na região Nordeste.

Além de Santos Lopes, foram ouvidas na manhã desta segunda-feira outras 11 testemunhas arroladas pela defesa do ex-diretor-geral da PRF na gestão de Bolsonaro.

Em sua maioria, agentes da PRF que exerceram cargos de liderança durante a gestão de Vasques, dez testemunhas negaram que tenha havido direcionamento do policiamento para impedir o voto de eleitores de Lula no segundo turno das eleições de 2022.

A PGR afirma que uma reunião em 19 de outubro de 2022 com a participação de Vasques, integrantes do Ministério da Justiça e as cúpulas da PF e da PRF, foi feita "para tratar do policiamento direcionado, a ser posto em execução quando do segundo turno das eleições de 2022".

A denúncia cita os depoimentos de três policiais rodoviários federais, os quais relataram que durante a reunião Vasques "disse que 'era hora de escolherem um lado'" na disputa eleitoral.

Ao menos cinco das testemunhas arroladas pela defesa de Silvinei Vasques teriam participado da referida reunião e negaram que Vasques tenha solicitado um direcionamento da PRF. São eles: Anderson da Silva Costa, ex-chefe de operações da PRF no Rio Grande do Norte; Antonio Vital de Moraes Junior, ex-superintendente da PRF em Pernambuco; Antonio Ramirez Lorenzo, ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça; e Diego Joaquim de Moura Patriota, ex-superintendente da PRF no Pará.

Patriota, ex-superintententes da PRF no Pará, afirmou que vídeos sobre supostos direcionamentos de blitz policial referentes a um veículo não procedem. — O veículo foi abordado e liberado em menos de 15 minutos. Todos os passageiros seguiram — disse.

Ainda na manhã desta segunda-feira, o STF ouviu também o diplomata André Chermont, ex-chefe do cerimonial da Presidência em 2022. Chermont disse que Filipe Martins não estava na lista final de passageiros da delegação que acompanhou o ex-presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos e que não embarcou nessa viagem.

Martins chegou a ser preso preventivamente em razão da suspeita de ter fugido para os Estados Unidos. Sua defesa sempre negou que ele viajara aos EUA na comitiva de Bolsonaro e apresentou dados de geolocalização de seu celular, fornecidos pelo aplicativo Uber e pela operadora de telefonia celular Tim, mostrando que ele esteve no Paraná e em Brasília, no final de 2022.