Sob risco de prisão, Bolsonaro planeja 'agenda parlamentar' com participações em comissões da Câmara
Visita à Câmara, onde exibiu tornozeleira e fez críticas a restrições impostas a ele, motivou ordem de Moraes para que explique conduta, sob pena de prisão
Com restrições que incluem uso de tornozeleira eletrõnica e a divulgação de declarações em redes sociais, mesmo que indiretamente, o ex-presidente Jair Bolsonaro planeja seguir uma "agenda parlamentar" nos próximos dias. Mesmo durante o recesso legislativo, a ideia é participar de reuniões de comissões convocadas por aliados.
Nesta terça-feira, ele deve voltar à Casa para sessões dos colegiados de Segurança Pública e Relações Exteriores da Câmara. A movimentação visa manter sua projeção entre os parlamentares da base bolsonarista e reforçar o discurso de perseguição por parte do Judiciário.
Durante o encontro com os deputados na segunda-feira, Bolsonaro insistiu para que a pauta da anistia seja tratada como prioridade. O projeto, que prevê o perdão a condenados e investigados pelos ataques às sedes dos Três Poderes, é visto por setores da oposição como um “gesto humanitário” diante das sentenças consideradas duras.
O texto, no entanto, enfrenta resistência expressiva tanto no Congresso quanto no governo, que alerta para o risco de enfraquecer a responsabilização pelos atos antidemocráticos.
Além disso, Bolsonaro voltou a estimular a apresentação de novos pedidos de impeachment contra ministros do STF, com foco principal em Alexandre de Moraes. Mesmo cientes de que não há clima político para o avanço dessas iniciativas, aliados avaliam que o gesto tem valor simbólico e serve para alimentar a base conservadora nas redes sociais, além de manter a tensão entre os Poderes em evidência.
A avaliação entre parlamentares próximos é de que Bolsonaro pretende capitalizar politicamente as restrições judiciais para fortalecer sua narrativa de vítima e mobilizar sua base.
Durante a visita à Cãmara nessa segunda-feira, o ex-presidente exibiu sua tornozeleira e deu declarações com críticas às restrições impostas a ele por Moraes. Em decisão horas após a visita, o ministro do STF mandou que sua defesa preste esclarecimentos sobre o descumprimento das medidas cautelares.
Segundo o magistrado, os atos do ex-presidente durante a visita à Câmara configuram burla às determinações judiciais de não utilizar redes sociais, ainda que indiretamente.
No despacho, o ministro alertou que, caso a defesa não justifique adequadamente a conduta, poderá decretar a prisão imediata do ex-presidente.