Cepe anuncia vencedores dos prêmios nacionais de literatura
Romance mineiro, poesia sobre tragédia no RS e conto paulista estão entre os destaques da oitava edição do prêmio literário
A Cepe Editora divulgou nesta quarta-feira (23) os vencedores do 8º Prêmio Cepe Nacional de Literatura e do 5º Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Infantojuvenil. Cada ganhador receberá R$ 20 mil, além da publicação e lançamento da obra pela editora pernambucana.
Na categoria Romance, o premiado foi o mineiro Roberto Marcos, com a obra Os escritos de Blanca Mares, ficção inspirada em personagens reais da cidade de Teófilo Otoni.
O livro acompanha Timóteo, o velho Tussa, e sua relação com a Estrada de Ferro Bahia-Minas, marcada pelo luto e pela loucura após a morte da esposa. Escrita ao longo de dez anos, a obra é, segundo o autor, um mergulho no “Brasil profundo”.
O paulista Daniel Keichi venceu a categoria Conto com Atemoia, que chamou atenção do júri pela construção de personagens oriundos de contextos socialmente invisibilizados, sem perder complexidade e humanidade.
A obra foi elogiada por manter o ritmo e o interesse ao longo dos relatos.
Na categoria Poesia, o destaque foi Cicatrizes na paisagem, de Felipe Julius, autor gaúcho que atualmente vive em Florianópolis (SC).
O livro traz uma espécie de “road novel poética” inspirada na tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024.
A narrativa acompanha uma mulher grávida que cruza o estado em meio às enchentes, acompanhada da companheira Maria e de desconhecidos com quem divide um carro e um destino.
Escrito na primeira semana de janeiro, o livro surgiu como uma reação imediata do autor ao desastre.
No segmento infantil e infantojuvenil, Ernani Ssó venceu na categoria Infantil com A morte e o estagiário da morte, história que trata o tema da finitude com leveza e humor.
O autor, natural da Serra Gaúcha, tem mais de 30 livros publicados e mais de 50 traduções, incluindo obras de Miguel de Cervantes e Isabel Allende.
A mineira Lisa Alves foi premiada na categoria Infantojuvenil com A menina que não queria ver Deus, narrativa sobre Maria Antônia, uma garota de 11 anos que tenta compreender o mundo adulto a partir da filosofia, das histórias da avó e de orações nas quais pede para não ver Deus, mas ser ouvida por ele.
A autora afirmou que a obra foi escrita pensando em crianças que ainda têm tempo de fazer perguntas, “porque tantas outras têm sido silenciadas”.
O editor da Cepe, Diogo Guedes, destacou que os prêmios contribuem para renovar o catálogo da editora com obras já reconhecidas por júris especializados, além de impulsionar carreiras literárias, tanto de autores iniciantes quanto de nomes veteranos.
“Não é por acaso que vencedores de edições anteriores tiveram boas trajetórias em outras premiações literárias nacionais”, comentou.
A oitava edição do Prêmio Cepe Nacional de Literatura recebeu 1.740 inscrições, sendo 1.075 nas categorias adultas e 665 no segmento infantil e infantojuvenil, um aumento de 19,7% em relação à edição de 2022.
São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia concentraram o maior número de inscritos. Em termos de gênero, houve equilíbrio: 52,9% das inscrições vieram de pessoas que se identificaram como homens e 47,1%, como mulheres.
A seleção das obras foi feita em duas etapas. O júri inicial contou com Clarissa Galvão e Igor Gomes (Romance), Marina Moura (Conto), Floresta e Júlia Côrtes Rodrigues (Poesia).
A avaliação final ficou a cargo das escritoras Cidinha da Silva, Jussara Salazar e Nara Vidal. Já a premiação infantil e infantojuvenil foi julgada por Ana Estaregui, Nina Rizzi e Thiago Corrêa.
Segundo a editora-assistente Gianni Gianni, a curadoria buscou diversidade entre os jurados, priorizando pessoas com trajetória reconhecida no campo literário.
“O processo é anônimo, então o que determina o vencedor é a qualidade do texto e como ele dialoga com os repertórios diversos do júri”, explicou.