Hora de serenar
“Mas o sol de Austerlitz em meu ombro, fúria de glória e pó que me atravessa, lembra que o fim é nada, o puro assombro só devido a tudo o que começa”.
Carlos Pena Filho, Napoleão, dedicado a Syleno Ribeiro
O Brasil enfrenta uma encruzilhada. Após o encontro entre Trumpismo e Bolsonarismo. Trumpismo é realidade condicionada por espírito dominador. Reconhecendo poucos limites. Por sua vez, Bolsonarismo é vertente de ultra direita. Que acentua populismo. Daí resultou um tipo de negócio mau ajambrado. A troca de um processo judicial no Brasil por uma decisão fiscal de governo nos Estados Unidos. Esconso. Feio. Abrindo ferida no tecido nacional.
Ocorre que, da forma como foi colocada, mostrou uma lógica de imposição. O que não é coerente com a soberania nacional. De uns tempos para cá, ofensas, inclusive, covardemente, a ministras, corrói a fraternidade dos brasileiros. Espalhando a divisão no canto sagrado do afeto: a coesão. Para começar, a anistia não tem legitimidade. Nem nos fatos, nem na lei. A agonia dos aflitos busca lá fora o que não é aplicável aqui dentro.
Coisas mal feitas exibem deformidades. Do fazer. E do pensar. De si, autor. E de outros, mendigos de poder. Ávidos pelo espólio. Governantes. Candidatos a mais não poder. A dignidade de uma governança não se dá. Nem se troca. Pois já disse um ex-governador de Pernambuco: “Ninguém governa governador”. Se não sabe, dê uma passadinha por aqui.
Política se faz em três direções: direita, centro e esquerda. Se falta uma delas, não temos democracia. Porque cada uma dessas direções representa valores humanos. Tendências sociais. Aspirações políticas. Legítimas. Portanto, é essencial que os três destinos estejam presentes no cenário político. Devem ser respeitadas. Em esperada convivência. Sem propósito de fechar instituições.
A extrema direita desvirtua a política brasileira de dois modos: primeiro, seu principal objetivo é o culto à personalidade. É alçar o mito. O poeta Fernando Pessoa já alertou: o mito é tudo que é nada. Em segundo lugar, associou a política brasileira a uma ideologia estrangeira de plutocratas. Que só enxergam o Brasil como fonte de lucro. Sem visão correta do perfil cultural de um povo. Que gosta de dançar. E sabe sorrir.
O Brasil já teve competentes Partidos de direita. Que ajudaram a manter a democracia. Durante as décadas de 40 e 50. Partidos de classe média. Que representavam interesses legítimos de parcelas da sociedade. O Partido Social Democrático – PSD, ligado ao mundo rural. E a União Democrática Nacional – UDN, vinculada ao universo urbano. Nunca precisaram ameaçar. Ou ofender.
Não temos o que pedir. Nem o que aprender com a nação amiga do Norte. O povo brasileiro acabou de oferecer uma lição de constitucionalismo. Cívico. Não precisamos de permutas. A não ser aquelas reguladas pela Organização Mundial do Comércio. Liberais, é hora de serenarmos. E avançar com a direita. Agindo com lucidez.
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