BRASÍLIA

Senador Efraim Filho: "Brasileiro quer respostas, e não discurso arcaico"

Senador Efraim Filho foi o entrevistado no podcast Direto de Brasília e criticou a narrativa do rico contra o pobre e falou no possível desembarque do centrão

Senador Efraim Filho (União Brasil)

Presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional e líder do União Brasil no Senado, o paraibano Efraim Filho cobra uma mudança radical de postura do governo Lula. Em entrevista ao podcast Direto de Brasília, apresentado por Magno Martins, o parlamentar disse que a narrativa não pode ser a do rico contra o pobre, e que o governo precisa criar um discurso que se encaixe na nova realidade brasileira. Ele também avisou que as cobranças do governo por fidelidade de aliados podem resultar no desembarque do centrão, já no segundo semestre. 

Na sua atuação como presidente da CMO, como avalia o debate sobre o orçamento brasileiro?

O Brasil já paga imposto demais e não aguenta mais depositar uma carga tributária ainda mais pesada sobre os ombros de quem produz. Está faltando ao governo entender que ele não se faz apenas pelo lado da receita, aumentando impostos e alíquotas. Também se faz eliminando gasto público e reduzindo excessos. Na feira de casa é assim. O Brasil está fazendo ao contrário, diz que quer gastar o que não pode e depois vai arrumar como pagar essa conta. Esse é o cenário posto hoje. Na CMO estamos muito atentos para esse esforço arrecadatório que o Brasil tem feito. Não tem crise de receita, mas de gestão. Os dados são públicos. O Brasil arrecada 10% mais que ano passado, e se não consegue fechar a conta é porque aumentou gastos acima. Esse esforço hercúleo para arrecadar mais não deve ser para que o governo arque custos eleitorais, visando a eleição 2026 e isso penalize quem mais precisa, que são o produtor e o consumidor final.

Há uma discussão sobre o Congresso ter tirado poderes do Executivo quanto ao orçamento, e que isso tem produzido escândalos como o orçamento secreto. Como enxerga essa discussão?

Escândalos existiam independente do orçamento ser do Executivo ou do Legislativo. Vários episódios mostram que a corrupção já existia. O que temos que avançar são meios de fiscalização e transparência. Quem faz destinação equivocada deve ser punido. Você tem diversos exemplos de emendas para fazer o bem, como postos de saúde, reformas de creches e escolas. O desvio é sempre ruim, mas tem gente que faz bom uso.

Afinal, o que mudou na questão de orçamento?

Durante muito tempo a CMO que presido era nicho de atuação de parlamentares que gostavam de números, economia, e isso não tomava conta da agenda legislativa. O mundo virou, a pauta da política agora é o orçamento. Isso traz o conceito de cidadania fiscal, que as pessoas se aproximam da decisão política que faz diferença nas suas vidas. Acredito que o orçamento impositivo foi um avanço, e voltar atrás seria um retrocesso, para o tempo do toma lá dá cá, do balcão de negócios, onde o governo aprovava projetos e só liberava emendas para quem votasse com ele. Orçamento impositivo significa transparência na relação, e o governo precisa de argumentos para convencer o Congresso a aprovar, e não na base do toma lá dá cá.

Hoje há uma polarização na sociedade. O senhor está mais para o Lula ou para o Bolsonaro?

O ambiente de polarização está posto, mas esse não é o único cenário. Pode haver um caminho de equilíbrio, da serenidade, do bom senso. Em 2022, derrotei os candidatos de Lula e de Bolsonaro na Paraíba. Eu seria a terceira via, mas fui a primeira porque ganhei a eleição e não estava com nenhum deles. Então, acho que vai continuar havendo polarização, mas as pessoas têm liberdade de fazer suas escolhas, independente de qualquer vinculação.

Uma eventual condenação de Bolsonaro surpreende?

Surpreender não. Considero injusta, porque tem penas desproporcionais, não só do Bolsonaro, mas de pais de família que estavam numa manifestação. Minha sensação é que muitos foram levados no efeito manada. Quem fez depredação de patrimônio público, vandalismo, esses têm que pagar com rigor. Mas pena de 14 anos para quem passou batom e saiu numa lavada? Isso é excessivo.

E quanto a pena, que se fala de 43 anos?

Considero demasiado, excessivo, acredito que seria uma injustiça essa condenação.

Essa fala é como membro de seu partido ou apenas seu ponto?

Como cidadão brasileiro. Não vejo naquela manifestação, sem armas... Se houve vandalismo, que se puna e julgue. Mas muitas famílias ali, gente que não pegou em armas, ser condenado a 17 anos, é demais.

E a questão da minuta do golpe?

Será que se houvesse um golpe, o líder não teria que estar à frente? Faço a leitura de que há crimes que devem ser punidos, mas não acredito que golpe era o que faziam que pessoas que estavam lá. Tem traficante, homicidas e estupradores que não têm 17 anos de cadeia. Dizer que essa deve ser a pena dada a uma mãe que escreveu com batom na estátua é excessivo.

Lideranças da federação entre União Brasil e PP começaram a defender o desembarque imediato do governo Lula. Qual a sua avaliação?

Os partidos foram consultados sobre a reforma ministerial. O governo queria um compromisso eleitoral para 2026. Os partidos não toparam. A palavra foi governabilidade. Veja, PSD, União, PP e MDB. O que tem sido entregue é uma agenda econômica, onde boa parte foi aprovada. Taxação de offshores, arcabouço fiscal, reforma tributária, mudança das regras do ICMS... Toda uma agenda para dar governabilidade a um projeto. A partir do momento que essa agenda virar para eleitoral, é decisão para 2026. A federação hoje está muito mais próxima de uma candidatura da oposição, da direita, do que de uma candidatura do PT. Se anteciparem essa cobrança, haverá o desembarque. Sou líder da bancada do União, que vai de Davi Alcolumbre a Sérgio Moro. como ponto de equilíbrio e a bancada não tem dado sinais de tensionamento, porque a palavra de ordem é governabilidade. Decisões políticas ficarão para 2026.

Mas no anúncio da federação, a maioria dos presentes eram bolsonaristas e os sinais eram claros de rompimento com o governo...

Os dois presidentes, Antônio Rueda (União) e Ciro Nogueira (PP), têm tido esse caminho. Volto a dizer, antecipar essa discussão é ruim para o governo. O ideal é trabalhar com o cenário de governabilidade, de agenda. Deixa a eleição pra 2026.

E o presidente não tem como exigir esse compromisso, como já houve no passado?

Ele não tem como impor uma maioria, porque não tem base sólida. A votação do IOF mostrou isso. Quando do governo resolveu peitar uma decisão do congresso, teve 98 votos. Se tirar o ministro André Fufuca ou Celso Sabino, por exemplo, vai entregar a quem? Quem vai dar mais votos? O governo já perdeu a condição do PT de 20 anos atrás, que podia impor uma agenda e tinha 400 votos no Congresso. 

Quem seria o candidato para a direita lançar?

Tarcísio de Freitas é uma boa opção, porque consegue furar a bolha da direita e trazer o eleitor de centro, que pode ser decisivo para levar a vitória. Em 2022, tivemos praticamente 51% a 49%. Se o centro reverter votos e vier para Tarcísio, pode ser o caminho da vitória. Sou fã de Ronaldo Caiado, acho que daria uma grande composição. Gosto da bandeira de segurança pública, acho que seria o tema das eleições. Ele tende a crescer se não houver alinhamento das forças, é um dos políticos com melhor ponto equilíbrio, habilidade política e destaques de gestão.

Mas a família Bolsonaro tem um comportamento estranho com Tarcísio...

O que vejo é que Bolsonaro tem e alimenta a tentativa de recuperar sua elegibilidade, como Lula conseguiu recuperar. Acho que ele não quer entregar os pontos, jogar a toalha agora, mas existe um prazo e tempo para construir a sucessão. Se talvez fosse combinado, seria a decisão correta. São Paulo já mostrou que não gosta de ter governador dedicado ao Brasil e esquecendo temas do estado, como foi com José Serra, Geraldo Alckmin e João Dória. Mas esse cenário de linhas tortas tem ajudado para que Tarcísio se notabilize,

Do outro lado, o presidente Lula tem criado ânimo com as pesquisas recentes...

Lula será sempre competitivo. Achar que ele sendo candidato à reeleição não seria competitivo é ilusão. Faz parte do cenário hoje. Acredito que tem que tomar cuidado com as narrativas. A volta do rico contra o pobre é uma leitura que não se demonstra na realidade. Muita gente virou MEI, está na economia precarizada, não quer mais imposto. Hoje tem milhões de MEI, tem advogados fazendo Uber para complementar a renda. Esse pessoal quer resposta, oportunidade, e não discurso de empregado ou rico. Porque quem era empregado virou patrão, as narrativas vão e voltam, e acho que essa não será vencedora. Hoje o brasileiro é empreendedor, rala e quer respostas e não discurso arcaico, obsoleto que ficou no passado.