Redução de imposto sobre kits de veículos chineses põe em risco empregos, dizem montadoras
Empresas enviaram carta do presidente Lula pedindo que pleito da chinesa BYD não seja atendido
Entidades que representam o setor automotivo, além de montadoras instaladas no país como Volkswagen, Stellantis (dona das marcas Fiat, Peugeot, Citroën, Jeep), Toyota e General Motors, enviaram carta ao presidente Lula afirmando que se o governo atender o pleito da BYD em reduzir o imposto de importação dos kits de veículos que serão montados na fábrica de Camaçari (BA)pela empresa chinesa haverá impacto no emprego.
A BYD pediu uma redução das tarifas de importação dos chamados CKD (Completely Knocked Down) e SKD (Semi Knocked Down) de 35% para 10% e o assunto pode entrar na pauta da Câmara de Comércio Exterior (Camex), nesta quarta-feira.
A disputa na indústria automotiva nacional acontece em meio a um contexto de tarifaço de 50% imposto pelo presidente Donald Trump junto aos produtos nacionais, que deve trazer prejuízo a toda a indústria brasileira se a medida for implementada. A nova tarifa entra em vigor na próxima sexta-feira, dia 1º de agosto, se os governos do Brasil e dos EUA não chegarem a um entendimento.
De acordo com a carta das quatro montadoras enviada a Lula, o ciclo de investimentos que prevê investimentos de R$ 180 bilhões no setor, até 2030 está sendo colocado em risco se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados, colocando empregos de qualidade em risco.
Segundo as montadoras, o setor gera 1,3 milhão de empregos (diretos e indiretos), forma uma cadeia produtiva responsável por 2,5% do PIB brasileiro, 20% do PIB industrial de transformação, e por um faturamento anual de US$ 74,7 bilhões.
"Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e o nível de geração de empregos", diz a carta, que defende a busca de isonomia entre as montadoras que atuam no país.
O texto foi assinado pelos CEOs da Volks, Ciro Possobom; Emanuelle Cappellano (Stellantis), Santiago Chamorro (GM) e Evandro Maggio (Toyota). O governo ainda não respondeu ao pedido das montadoras.
Importação de veículos cresceu quase 60%
Além das montadoras, enviaram cartas com o mesmo pedido ao presidente Lula, ao vice-presidente Geraldo Alckmin e ao ministro da casa Civil, Rui Costa, a própria Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa a montadoras, sindicatos de metalúrgicos de São Caetano do Sul (SP), de Gravataí (RS), da Grande Cuiritba (PR), de Catalão e Anápolis (Goiás), Taubaté (SP), Caxias do Sul (RS), além da Abipeças e Sindipeças, representantes do setor de autopeças.
Os sindicatos e representantes de metalúrgicos lembraram na carta que as importações de veículos cresceram quase 60% entre 2022 e 2024, e que se o pedido da BYD for aceito, haverá risco para o processo de reindustrialização do país e para os empregos. Os sindicatos e confederações de metalúrgicos também se posicionam contra a redução do imposto para os kits de veículos chineses importados.
A Abipeças e o Sindipeças, do setor de peças, engrossam o coro contra a redução da alíquota de importação dos kits chineses e pedem que o imposto sobre carros importados seja elevado já para 35%. O imposto sobre veículos prontos está subindo gradativamente, mas só deve chegar a 35% em 2026.
Durante a apresentação de sua unidade baiana, em junho, representantes da BYD confirmaram que esperam que o imposto de importação de kits SKDs seja reduzido. O presidente da BYD no Brasil, Alexandre Baldy, afirmou durante o evento, que não faz sentido pagar o mesmo imposto por um veículo montado e por um kit SKD que, para ser montado aqui, demandou investimentos e geração de empregos.
Ele disse que a redução do imposto sobre os kits, entretanto, seria provisória já que o plano é evoluir em 12 meses para a produção local. A empresa informou que já começou a credenciar fornecedores de peças para a unidade em Camaçari.