É preciso segurança que Trump não vai repetir com Lula o que fez com Zelensky, diz Haddad
Governo brasileiro trabalha para esgotar todas as possibilidades de negociação
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que o governo precisa ter segurança de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não irá repetir o comportamento com o ucraniano Volodymyr Zelensky com o presidente Lula, em uma eventual conversa entre os dois.
— Se houver uma reunião entre os presidentes, temos que ter uma segurança que não vai acontecer com o presidente Lula o que aconteceu com o Zelensky, que passou um papelão na Casa Branca — disse o ministro, à CNN Brasil. — Ou você se dá algum respeito ou vai virar motivo de chacota
Como mostrou O Globo nesta terça, a possibilidade de Lula telefonar para Trump, existe, mas não há uma decisão, afirmam interlocutores do governo brasileiro.
Segundo auxiliares do Palácio do Planalto, Lula só tomaria uma iniciativa nesse sentido após esgotadas todas as possibilidades de negociação para que as exportações do Brasil sejam poupadas da sobretaxa de 50% que entrará em vigor nesta sexta-feira.
Existe o temor de que Lula seja tratado de forma desrespeitosa, afirmam integrantes do governo brasileiro. Trump humilhou líderes de outros países em audiências transmitidas ao vivo, como os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
O ministro das Relações Exteriores se encontra em Nova York, aguardando um contato de autoridades americanas para uma conversa de alto nível em Washington. Mauro Vieira participou de uma reunião da ONU sobre a situação na Palestina e retorna na tarde desta terça-feira a Brasília.
Diferentemente do que ocorre com outros países que são alvos do "tarifaço" dos EUA, no caso do Brasil, Trump citou como motivo da taxação o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
A hipótese de incluir uma discussão sobre ação, em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nas negociações, é rechaçada pelo Brasil.
O tratamento dado pelo Judiciário brasileiro a Bolsonaro não está em discussão, afirmam interlocutores a par do assunto.
Integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty afirmam ainda que estão dispostos a discutir as tarifas no comércio bilateral e admitem que os EUA colocarão na mesa de negociações seus interesses sobre a aquisição dos chamados minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras, e a regulação das big techs. No entanto, as conversas estão travadas.
Auxiliares de Lula avaliam que, três dias antes da vigência da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, o cenário está cada vez mais confuso não apenas em relação ao que acontecerá com o Brasil, mas com outros países que buscaram acordos com os EUA.
Um fato novo foi a repercussão negativa de alguns países da União Europeia (UE) após o acerto feito entre o bloco e a Casa Branca.