SaGRAMA celebra 30 anos de carreira com show especial no Teatro do Parque
Grupo pernambucano reúne poesia, memória e convidados em espetáculo que revisita trajetória marcada por mistura entre erudito e popular
A trilha sonora de “O Auto da Compadecida” está no imaginário de boa parte dos brasileiros, mesmo que muitos não saibam quem a criou.
É do grupo instrumental pernambucano SaGRAMA a autoria das músicas que embalam as aventuras de Chicó e João Grilo nas telas.
Com três décadas de história e uma identidade sonora reconhecível desde os primeiros acordes, o grupo celebra sua trajetória com o espetáculo “SaGRAMA 30 anos: Poesia e Música”, nos dias 16 e 17 de agosto, no Teatro do Parque, no Recife.
O show é parte do projeto “Na trilha dos 30”, que vem marcando as comemorações do aniversário desde novembro passado.
“Começamos com um espetáculo no Teatro do Parque com participação de Martins, Spok, Isadora Melo, Rafael Marques… Foi um momento muito bonito, uma abertura dos novos projetos que encerramos comemorando agora em agosto, mês que o SaGRAMA faz 30 anos de carreira”, lembra Sérgio Campelo, flautista, diretor artístico e um dos fundadores do grupo.
A apresentação reúne um roteiro costurado com faixas dos dez álbuns lançados pelo grupo ao longo da carreira. Algumas dessas composições estão há muito tempo fora dos palcos. “Vamos mostrar uma linha de trabalho bem diferente, com peças da trilha sonora de O Auto da Compadecida e outras que fazem parte da nossa história”, adianta Sérgio.
Entre elas, estão “Presepada”, “Rói-couro”, “Mutalambô”, “Tábua de pirulito” e a suíte “Aspectos de uma feira”, de Dimas Sedícias. O repertório também inclui o frevo inédito “Para sempre folião”, de Beto Hortis, com arranjo de Campelo.
As duas noites terão participações especiais de artistas com os quais o grupo mantém laços afetivos e musicais: Petrúcio Amorim, Jessier Quirino, Beto Hortis, Sarah Leandro e Laila Campelo.
Cada um fará uma apresentação ao lado do grupo, culminando em um pot-pourri coletivo de composições de Petrúcio.
A formação do SaGRAMA hoje inclui dez músicos. Além dos fundadores Sérgio Campelo, Cláudio Moura e Antônio Barreto, o grupo é composto por Crisóstomo Santos, Ingrid Guerra, Aristide Rosa, João Pimenta, Dannielly Yohanna, Isaac Souza e Tarcísio Resende.
A estrutura instrumental do grupo, com sopros, cordas e percussão, é mantida desde o início , uma escolha estética e conceitual que, segundo Cláudio, garante a coesão sonora e a identidade do SaGRAMA: "quem ouve, reconhece”.
A entrada de novos integrantes ao longo do tempo reforçou, em vez de diluir, essa essência. “Sou admiradora do SaGRAMA desde que entrei no Conservatório. O grupo fez parte da minha formação como flautista, mas sempre de longe. Desde que entrei oficialmente, em 2021, é só alegria. Estamos apegados nos trabalhos de apresentação e de revisitar o material que já existe. Reviver essa história é um privilégio”, compartilha a flautista Ingrid Guerra, que atualmente divide sua rotina entre o grupo e a Orquestra Sinfônica do Recife.
O SaGRAMA nasceu como uma prática de conjunto dentro do Conservatório Pernambucano de Música, em 1995, com o objetivo de estudar e tocar música erudita brasileira.
Mas a vivência nordestina dos integrantes logo se impôs. “Começamos a incorporar a música nordestina naturalmente. Eu era apaixonado pela nossa cultura, e antes mesmo de oficializar o grupo, já estávamos transformando o repertório”, relembra Sérgio.
Com o tempo, essa fusão se consolidou. “Vejo isso com muita simplicidade, porque o erudito é baseado no popular. Villa-Lobos, por exemplo, tem composições inspiradas em cirandas e cantos de macumba. O SaGRAMA bebe desses dois lados: temos instrumentos e formações populares e eruditas, e isso se mistura também nas composições”, reflete o músico, que integrou a Orquestra Sinfônica por 37 anos.
A visibilidade nacional veio com a trilha sonora de O Auto da Compadecida, em 1999, que catapultou o grupo para palcos do Brasil inteiro.
“Tínhamos apenas um álbum lançado e, de repente, a gente ficou conhecido no país. Mudou tudo. Saímos de Pernambuco e começamos a dar entrevistas para jornais, programas de TV e rádio”, relembra Sérgio.
Desde então, vieram convites para trilhas de filmes, peças teatrais, gravações com maestros como Edson Rodrigues e Clóvis Pereira, e parcerias com nomes como Elba Ramalho, Alceu Valença, Hamilton de Holanda, Yamandu Costa, Maestro Spok, Antônio Nóbrega, Naná Vasconcellos, Marcelo Jeneci, Santanna, entre muitos outros.
O grupo também foi indicado ao Grammy Latino 2016 e venceu o Prêmio da Música Brasileira, na categoria Álbum Regional, com Cordas, Gonzaga e Afins.
Para Ingrid, os preparativos têm sido intensos. “Temos o nervosismo, claro, mas estamos ensaiando bastante. Vai ser muito especial porque gostamos de colaborar com os artistas e fazer essa troca”, diz a flautista.
O espetáculo no Teatro do Parque é apenas parte da celebração. A série de homenagens aos 30 anos inclui um documentário, uma biografia e outras produções futuras.
Serviço
Show "SaGRAMA 30 anos: Poesia e música", do SaGRAMA, com participações de Petrúcio Amorim, Jessier Quirino, Beto Hortis, Sarah Leandro e Laila Campelo
Quando: 16, às 19h30, e 17 de agosto, às 17h
Onde: Teatro do Parque (Rua do Hospício, 81, Boa Vista)
Quanto: R$ 120
Informações: www.instagram.com/sagrama.oficial