Relação entre Brasil e Rússia pode gerar nova tensão com EUA, dizem senadores que foram a Washington
Grupo foi recebido por nove parlamentares, sendo oito democratas e um republicano, do partido de Trump
Integrantes da comitiva de senadores brasileiros que foi à Washington dialogar a respeito do tarifaço sobre produtos brasileiros, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disseram ter ouvido de parlamentares americanos que há uma preocupação das relações comerciais estabelecidas entre Brasil e Rússia.
Os parlamentares afirmaram que a relação com o mercado russo, rival dos EUA, é vista como um dos fatores de desgaste com o país comandado por Trump. O Brasil tem um fluxo intenso de compras de óleo e fertilizantes da Rússia.
No início de julho, Trump enviou uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciando que taxaria em 50%, a partir do dia 1º de agosto, as mercadorias brasileiras. Ele ligou essas taxas à condução do Supremo Tribunal Federal (STF) na ação penal que processa o ex-presidente Jair Bolsonaro por articular uma trama golpista para mantê-lo no poder.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), uma das principais representantes da bancada ruralista do Congresso e ex-ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro, disse que o assunto é “um tema sensível” para os americanos e que há uma articulação para que seja aprovada uma lei que puna aqueles que compram da Rússia. Em tramitação no Congresso americano, o projeto pune com tarifas de até 500% aqueles que comprarem petróleo, gás e urânio do país.
A parlamentar também disse que a relação com a Rússia será citada no relatório que a comitiva de senadores brasileiros irá elaborar sobre a viagem feita aos EUA.
— Esse assunto de compra de óleo e fertilizantes da Rússia é um assunto sensível e ele tem que estar no nosso relatório sim quando voltarmos ao Brasil. É um assunto que ouvimos não só de parlamentares, mas da iniciativa privada. Os senadores com quem conversamos, tanto o republicano, quanto os democratas, tocaram nesse assunto – declarou.
– Eles estão preocupados em acabar com a guerra (com a Ucrânia) e acham que quem compra da Rússia dá munição para ela continuar tendo recursos para continuar a guerra, tanto é que estão tentando fazer uma lei que seja lida ainda antes do recesso aqui nos Estados Unidos – também disse a senadora.
Por sua vez, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), avaliou como improvável que o Brasil pare o fluxo comercial que possui com o país.
– Temos um agronegócio potentíssimo e nós temos dependência praticamente de 100% de fertilizante, fertilizante faltam no mundo inteiro. Isso foi dito para eles, ninguém faz o que quer, faz o que precisa. Não está sobrando por aí, não tem como deixar de comprar. E no negócio do combustível quem compra não é o governo brasileiro, são empresas que importam para revender no mercado interno.
O petista também descartou que uma conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump aconteça até o dia 1º de agosto. Wagner declarou que uma reunião presencial entre os dois chefes de Estado seria o melhor caminho e que, nesse encontro, a questão da Rússia pode ser discutida:
— A compra da Rússia, é uma questão que pode ser debatida no encontro bilateral. Só não vou dizer que vamos debater a questão do Judiciário porque no nosso país as coisas são independentes. A gente pode até conversar, mas a gente não manda no Judiciário.
O líder da comitiva o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, avaliou o trabalho do grupo, que volta hoje ao Brasil, como positivo.
– Fomos recebidos por nove parlamentares, sendo oito democratas e um republicano. Conseguimos passar para eles a necessidade de manter esse canal de diálogo diante do caminho que vamos ter pela frente. O que de concreto a gente está levando para o Brasil em relação à nossa prerrogativa, porque não temos como negociar, a gente não é do Executivo, a gente é do Legislativo, foi abrir canais, caminhos para que essa relação pudesse ser azeitada e com isso facilitar na frente novas tratativas de diálogo.
Da mesma forma, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) disse que os parlamentares americanos demostraram apoiar o comércio brasileiro.
– Nós ouvimos ontem dos senadores americanos que taxar o Brasil nesses setores, café, grãos e outras áreas que eles têm dependência seria um gol contra.