MINISTRA DO PLANEJAMENTO

"Brics é solução para o Brasil", diz Tebet

Ministra afirma que bloco não estará na mesa de negociação com EUA e defende fortalecer laços com América do Sul e Ásia frente à taxação de 50% sobre produtos brasileiros

Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Simone Tebet - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse nesta quarta-feira que os planos do Brasil junto aos Brics, bloco formado também por Rússia, Índia, China, África do Sul e outros, não estarão na mesa de negociação do governo com os Estados Unidos para reduzir a taxa de 50% sobre produtos brasileiros, que entra em vigor no dia 1º de agosto. Em evento organizado pelo jornal Valor Econômico em São Paulo, ela disse que o Brics é "solução para o país".

— Não é uma questão de colocar na mesa os Brics. O Brics é solução para nós, não é problema. Então diante desse cenário algumas coisas são inegociáveis [...] Nós não vivemos sem os fertilizantes da Ucrânia e da Rússia. E nós não vivemos sem exportar as nossas commodities e (produtos da) agroindústria para os países da Ásia. Então, colocar isso na balança é um complicador, é algo inegociável.

Simone disse que o Brasil depende tanto dos Estados Unidos quanto dos países do Brics, da Europa e do Mercosul. Por isso, considera essencial avançar em agendas de comércio e cooperação com esses parceiros.

Ela defendeu maior integração com a América do Sul para ampliar o comércio regional e disse que tanto os Estados Unidos quanto a Europa têm priorizado fornecedores mais próximos. A ministra também mencionou a China como exemplo recente, por sua estratégia de aproximação com países da África.

Em relação à redução da tarifa sobre o etanol brasileiro vendido aos Estados Unidos, Simone afirmou que o tema pode ser discutido, desde que os americanos também estejam dispostos a rever os subsídios ao etanol de milho, predominante no mercado local.

Segundo a ministra, há um esforço conjunto do setor privado, do Congresso, do Executivo e do Itamaraty para manter o diálogo com os EUA. Ela lembrou que o Brasil representa apenas 2% a 3% das importações americanas. Ainda assim, há um complicador nas negociações: a pauta ideológica.

Ela se referia às críticas americanas sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

— Aqui se vive uma democracia, onde a imprensa é livre, há independência entre poderes, e mais, o Poder Executivo não tem absolutamente nenhuma interferência, nenhum poder, numa decisão judicial de qualquer juiz de primeira instância ou do Supremo Tribunal Federal.

Apesar desse complicador político estar atrasando as conversas, Simone afirmou que o governo brasileiro não pretende adotar medidas retaliatórias, exceto em temas que envolvem diretamente a proteção da democracia e da soberania nacional.

Ela também reforçou que retaliar com aumento de tarifas de importação não é uma opção no momento, porque isso encareceria produtos no mercado interno e pressionaria a inflação.

— Então, se gerar inflação no Brasil, nós não vamos devolver na mesma moeda [...] Então, o que significa soberania nacional? Proteger os nossos mercados internos, proteger os nossos setores produtivos que vão ser, ou que, de alguma forma, estão sendo impactados, nós vamos ter medidas de contingência. Essas medidas de contingência não passam, neste momento, por uma retaliação tarifária.

Medidas de apoio devem ter baixo impacto fiscal
A ministra afirmou que o plano do governo para apoiar os setores afetados pela tarifa americana deve ter impacto fiscal limitado. Ela acredita que os EUA podem retirar alguns produtos da lista de sobretaxados, o que reduziria o alcance da medida. Hoje, oito dos dez produtos que o Brasil importa dos EUA já têm tarifa zero, diz.

Só depois dessa definição, o governo deve mapear os setores realmente afetados e, nesses casos, propor medidas como reforço no capital de giro, prorrogação de financiamentos e possível flexibilização da jornada de trabalho para evitar demissões.

— Tudo isso não necessariamente passa para o fiscal. Alguma coisa sim, a maioria não. Vejo o fiscal mais como suporte a essas medidas de contingência, com toda a responsabilidade, porque nós temos metas para cumprir, mas é determinação do presidente não deixar ninguém para trás.