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IA e o futuro da mobilidade: o carro que vem até você

Imagine uma tecnologia capaz de prever quando você vai comprar um novo carro, qual modelo se encaixa na sua rotina, negocia o preço ideal e, depois de tudo concluído, o veículo dirige de forma autônoma até o ponto onde você está para ser entregue. Parece ficção científica, mas essa já é uma realidade em teste - e, em alguns países, em operação.

A inteligência artificial (IA) está redesenhando o setor automotivo em uma velocidade sem precedentes. Nos Estados Unidos, em 2023, mais de 20% das interações de compra de veículos novos foram iniciadas por sistemas automatizados de recomendação. São algoritmos que cruzam dados como histórico de navegação, geolocalização e hábitos de consumo para prever qual carro você provavelmente vai comprar, e quando.

Essa inteligência preditiva torna o processo mais eficiente para todos os lados. Montadoras conseguem prever demanda e reduzir estoques; consumidores recebem ofertas mais assertivas, com base em contexto real, como estilo de vida e comportamento de mobilidade. Famílias com filhos pequenos podem ser direcionadas para modelos SUV, enquanto usuários com rotinas urbanas e sustentáveis recebem sugestões de elétricos compactos.

Outra aplicação transformadora está na negociação. Plataformas baseadas em IA já são capazes de ajustar preços em tempo real, considerando fatores como estoque, demanda e poder de compra individual. Um relatório da McKinsey mostrou que empresas que utilizam esses sistemas tiveram aumento médio de 23% na conversão de leads em vendas. A compra pode ser totalmente digital, sem contato humano.

Na outra ponta, a entrega também evolui. A China já ultrapassou a marca de um milhão de passageiros transportados por táxis 100% autônomos da Baidu, sem motoristas. Carros inteligentes operam com autonomia parcial ou total, e já podem ser enviados para buscar o comprador em um ponto específico, sem a necessidade de um condutor. Tesla, Xiaomi e BYD lideram essa inovação em escala comercial.

Um exemplo notável é o da Carvana, nos Estados Unidos, que automatizou toda a jornada de compra. A empresa utiliza algoritmos para recomendar veículos, permite que toda a negociação aconteça de forma digital e realiza a entrega do carro diretamente na porta do cliente - tudo sem interação humana. Isso mostra como a IA pode ocupar, ao mesmo tempo, os papéis de vendedora, consultora e motorista.

Segundo dados da Statista, os investimentos globais em soluções de IA voltadas à mobilidade já ultrapassam US$ 16 bilhões por ano. No Brasil, apesar de limitações regulatórias e de infraestrutura, iniciativas com IA começam a ganhar espaço em plataformas de venda, logística de frotas e experiências personalizadas para o usuário final.

O impacto vai além da conveniência. Para as montadoras, há ganhos operacionais e estratégicos; para os consumidores, uma jornada de compra mais curta, personalizada e sem fricções. Segundo estudo da Accenture, 78% dos consumidores preferem esse tipo de experiência.

Mas essa transformação não é apenas sobre tecnologia. É sobre redefinir o papel do carro na sociedade. A posse dá lugar ao uso inteligente. A vitrine física cede espaço para a recomendação preditiva. E o motorista pode se tornar, em breve, um espectador. Não estamos falando de um futuro distante. Estamos falando do presente sendo reprogramado em tempo real por dados, comportamento e inteligência artificial.

 

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