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Planalto tenta reduzir danos na CPI do INSS

Aliados emplacaram o senador governista Omar Aziz na presidência da comissão, mas tentam influenciar relatoria, que deve ficar com nome ligado ao deputado Hugo Motta

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, já sinalizou que não escolherá alguém da base para relatoria da CPI - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Com o fim do recesso parlamentar e o requerimento de instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS já lido pelo presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP), os partidos devem concluir as indicações dos integrantes do colegiado a partir desta semana. Visto como principal alvo do colegiado, o governo tenta se preparar para conter os desgastes.

Aliados do Palácio do Planalto já ganharam fôlego ao emplacar um governista, o senador Omar Aziz (PSD-AM), na presidência da comissão. A batalha agora é para influenciar na relatoria, posto que é considerado até mais relevante, porque vai controlar os pedidos de indiciamento.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já sinalizou que não vai escolher um deputado da base para o cargo, mas também tem resistido a escolher um bolsonarista. O nome do relator deve vir de algum partido do Centrão e ser ligado ao próprio Motta, o que vai forçar o governo a negociar com o chefe da Casa. Ele sinalizou que deve definir o relator após reunir consenso entre os líderes partidários e que a indicação deve ser formalizada este mês.

Governistas já dão como certas as convocações à CPI do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, do atual ocupante do cargo, Wolney Queiroz, além do presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, e do ex-chefe do instituto Alessandro Stefanutto.

— Eu tenho pedido que nossos técnicos preparem todos os documentos, dados, informações para disponibilizar — disse ao GLOBO Wolney Queiroz, que dá como a certa a presença e já começou a preparação.

Há também uma pressão de bolsonaristas para mirar em um dos irmãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Frei Chico, que é ligado ao Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), uma das entidades citadas em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) que apontou possíveis fraudes nos descontos de aposentados. Frei Chico não é investigado, e o sindicato nega qualquer irregularidade.

O deputado Alencar Santana (PT-SP), um dos vice-líderes do governo e futuro integrante da CPI, minimizou o impacto negativo para o governo e declarou que as irregularidades já apareciam antes da gestão de Lula, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

— É só demonstrar a verdade, de quando começou e quem são os envolvidos.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), que também vai participar da comissão e é da base do governo, adotou um discurso que de que a apuração deverá ser ampla:

— Tem que investigar profundamente, sem excluir ninguém, nem do primeiro escalão da época nem os responsáveis pelas associações. E, de acordo com as provas, fazer o relatório e aprovar.

Depois de se posicionar inicialmente contra a CPI, o governo reviu a estratégia em junho e passou participar das articulações para a criação dela, com o objetivo de ter influência sobre os rumos. A estratégia funcionou e a sinalização é que bolsonaristas fiquem fora da relatoria e da presidência da comissão.

Apesar disso, parlamentares de partidos de centro, inclusive aqueles aliados do governo, têm pregado que a vice-presidência da CPI fique com um nome da oposição. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), uma das autoras do requerimento que criou a comissão, é apontada como nome para vice, mas ainda não há um martelo batido.

Fraude bilionária
A crise começou quando a Polícia Federal e a CGU deflagraram no fim de abril uma megaoperação para combater descontos não autorizados em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS. Ou seja: os valores eram retirados dos contracheques como se os beneficiários tivessem se tornado membros de associações que, muitas vezes, sequer conheciam. As investigações apontam que a soma das verbas desviadas chega a R$ 6,3 bilhões, entre 2019 e 2024.

O chefe do órgão, Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo por decisão judicial e depois demitido pelo presidente Lula. Poucos dias depois, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, pediu demissão.

Formação da cúpula e depoimentos

Colegiado da CPI
Serão definidos o relator, que deve ser alguém ligado a Hugo Motta, e a vice-presidência, que tem a oposicionista Damares Alves como cotada.

Convocações
Governistas já dão como certos o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi; o atual, Wolney Queiroz; o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior; e o ex-chefe do instituto Alessandro Stefanutto. Bolsonaristas miram no irmão do presidente Lula, o sindicalista Frei Chico.