Embraer já sente impacto na receita da tarifa de Trump
Produtos da companhia ficaram isentos do tarifaço de 50% e pagam 10%; empresa continua negociando alíquota zero
Mesmo tendo ficado isenta do tarifaço de 50%, a Embraer já começou a sentir os efeitos da tarifa de 10%, alíquota mínima imposta pelo presidente Donald Trump ao Brasil, em abril. O presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, disse que os números deste segundo trimestre já refletem um impacto de 20% dessa tarifa, ponderando que esse "impacto ainda não é significativo".
— O impacto total na receita previsto é de US$ 65 milhões neste ano, com tarifa de 10%. Até agora, já foram 20% (US$ 13 milhões) — disse Francisco Neto, durante apresentação dos resultados da empresa nesta terça-feira, afirmando que os 80% restantes virão até o final do quarto trimestre, se a tarifa for mantida em 10%. Ele disse que a empresa conseguiu mitigar um impacto ainda maior reduzindo outros custos em diversas áreas.
A fabricante de aviões reportou prejuízo de R$ 53,4 milhões entre abril e junho deste ano, revertendo ganho de R$ 415,7 milhões no mesmo período do ano passado.
Ainda assim, a empresa manteve a expectativa de faturamento para este ano, entre US$ 7 bilhões e US$ 7,5 bilhões. A fabricante de aviões também reiterou previsões de entregas para este ano, com expectativa de 77 a 85 aeronaves comerciais e entre 145 e 155 jatos executivos. Esses números também já incluem o impacto de 10% da tarifa, disse Gomes.
A Embraer teve receita de R$ 10,3 bilhões no segundo trimestre, uma alta de 30,9% na comparação com o mesmo período de 2024, o que representa um “recorde histórico” para o período, disse o presidente da empresa. Ele destacou que a carteira de pedidos, no período, também registrou recorde com US$ 29,7 bilhões.
A Embraer destacou que Portugal confirmou a compra de sua sexta aeronave KC-390, incluindo 10 opções adicionais que podem ser utilizadas por outros países europeus, facilitando aquisições futuras. A Lituânia também se tornou o sétimo país da OTAN a selecionar aeronave.
Caso econômico robusto
Gomes disse que a empresa continua trabalhando em duas frentes para reduzir a tarifa a zero: com o governo brasileiro, via autoridades, e com seus próprios negociadores, incluindo o próprio Francisco Gomes Neto, que esteve nos EUA para divulgar os números positivos que a Embraer oferece aos EUA.
— Levantamos com cuidado toda a contribuição que podemos dar aos Estados Unidos, empregos, não só na Embraer, mas dos fornededores, incluimos investimentos, a importância dos nossos aviões na aviação regional daquele país. Levamos para as pessoas certas terem essa visibilidade. É um caso econômico muito robusto — explicou.
Gomes não comentou o pedido do governo americano para que o judiciário brasileiro ofereça anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, processado no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
— A parte política a gente não tem como comentar. Focamos no campo econômico — afirmou.
Entre os números apresentados às autoridades dos EUA, mostrou Gomes, ele destacou que as aeronaves em operação naquele país transportam aproximadamente 100 milhões de passageiros a cada ano. Os negócios da fabricante brasileira de aviões sustentam 13 mil empregos no país e devem gerar outros 5.500 empregos até 2030, com uma balança comercial favorável aos EUA de US$ 8 bilhões, no mesmo período.
— A Embraer também planeja investir mais de US$ 500 milhões de dólares nos Estados Unidos nos próximos 3 a 5 anos, que devem gerar outros 2.500 empregos no país. Uma possibilidade que oferecemos é montar nos EUA o KC-390, caso o avião seja escolhido pela Força Aérea americana. Estamos em conversas avançadas com um parceiro relevante nos Estados Unidos para esse projeto. Continuamos acreditando e defendendo firmemente o retorno à política de tarifa zero para a indústria espacial global, que foi o padrão nos últimos mais de 45 anos — garantiu.