Quinteto Pernambucano estreia com homenagem ao maestro Clóvis Pereira

Artistas resgatam música de concerto produzida durante o Movimento Armorial, no Teatro Barreto Júnior, mas também estão abertos a criações de compositores pernambucanos

Raquel Paz, Susan Hagar, Fernando Trigueiro (sentado) e Clóvis Pereira Filho, que tocam ao do violoncelista João Pimenta, ausente na foto - Maria Nilo/Folha de Pernambuco

Em uma noite de fúria, Clóvis Pereira Filho, ao observar a falta de grupos no Recife que tratem da música erudita clássica, decide montar o Quinteto Pernambucano, grupo de música clássica armorial. Com a ideia de fortalecer a música de concerto no estado, o Quinteto faz sua grande estreia às 19h desta quinta-feira (28), no Teatro Barreto Júnior, no Pina.

Usando os instrumentos tradicionais para transformar a música em uma linguagem popular, o grupo - formado por Clóvis Pereira Filho, Susan Hagar, Fernando Trigueiro, Raquel Paz e João Pimenta - traz com eles a proposta de um resgate à música de concerto produzida durante o Movimento Armorial.

“O Armorial foi um movimento forte porque pegou nossa raiz e trouxe uma música que pode ser apreciada dos leigos aos grandes historiadores”, comenta Clóvis Pereira Filho, responsável pela junção do Quinteto.

“Eu resolvi dedicar a Clóvis Pereira esse concerto, uma lembrança do movimento armorial, do qual ele foi um dos fundadores junto com Ariano Suassuna, e tentar incentivar novos compositores pernambucanos a fazerem música no nosso estilo regional e folclórico, tendo base o projeto inicial que é transformar a música regional em uma linguagem internacional - assim como fizeram Bartók, Mozart, Beethoven e vários outros”, completa.

Clóvis Pereira é o pai do fundador do grupo. Maestro, compositor e primeiro contrabaixista da Orquestra Sinfônica do Recife, ele completa, neste ano, 85 anos de idade.

Quase cinquenta anos depois do início do movimento, o Quinteto Pernambucano propõe revisitar obras que exprimem grande riqueza cultural e qualidade musical, trazendo em sua essência um grande significado histórico.

Parte dos integrantes do Quinteto Pernambucano - Crédito: Maria Nilo/Folha de Pernambuco


"O objetivo sempre foi propagar essa cultura clássica com a popular, essas células rítmicas que são tão ricas", diz Raquel Paz, que toca a viola.

“Grupos de câmara [música erudita composta por um pequeno grupo de instrumentos ou vozes] aqui no Recife são bem raros: a gente vê orquestra, apresentações solo, mas grupos menores são difíceis de ver. Eu quero que as pessoas conheçam a música armorial por essa formação, porque é uma música riquíssima: mistura células do maracatu, do baião, do frevo. “As pessoas vão se sentir muito representadas”, comenta Raquel Paz.

“E é uma música super acessível, porque a gente já conhece esses ritmos, são ritmos nossos. O movimento armorial ficou adormecido por um tempo, mas a gente pretende, de certa forma, reeducar os ouvintes e reensinar o que por um tempo ficou ali escondido, sem nenhum grupo tocar”, completa Fernando Trigueiro, o violoncelista.

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O importante, para Clóvis, é entender que o Quinteto busca fazer uma conexão entre as músicas clássicas, trazendo uma música recheada de pernambucanidade. “Nós estamos tentando fazer um elo entre essas duas - não existe um radicalismo de dizer que é só armorial ou só clássico. Por isso eu convido aos compositores pernambucanos - novos e velhos - que se proponham a escrever para nós, porque o nosso objetivo é divulgá-los", completa o violinista.

No dia do concerto de estreia, a plateia também poderá contar com uma conversa entre Clóvis Pereira e seu biógrafo, Carlos Eduardo Amaral, que irão comentar sobre a vida e obra do compositor.

O programa contará com dois momentos: o primeiro, uma viagem ao Barroco, cujos símbolos influenciaram fortemente o Movimento Armorial; em seguida, uma reverência ao Movimento Armorial, com peças como “Príncipe Alumioso” e “Suíte Nordestina”, ambas de autoria de Clóvis Pereira.

“É a nossa estreia, mas a gente também espera que o público consiga apreciar a música armorial e o nosso trabalho em si. Nós já somos conhecidos dentro do que a gente faz, mas o público ver a gente nessa nova formação será uma coisa interessante”, avalia Susan Hagar, segunda violinista do quinteto.

Com um CD à vista, o grupo já tem quatro concertos marcados no futuro e pretende continuar trabalhando em conjunto. “A gente foi amadurecendo e se conhecendo, porque isso é um casamento a cinco, é uma coisa bem moderna”, brinca Clóvis Filho.

“A gente tem que saber o que o outro pensa na hora de tocar, prever a reação de cada um, estar atento um ao outro. E existe um espaço no Recife e ao mesmo tempo um vazio - não existe nenhum grupo nesse modelo que a gente está fazendo de música erudita popular, clássico, armorial”, complementa.

Serviço:
Cncerto do Quinteto Pernambucano
Teatro Barreto Júnior (R. Est. Jeremias Bastos, Pina, Recife)
Nesta quinta-feira (28), às 19h
R$ 30, R$ 15 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-6398