ECONOMIA

Lula admite negociar minerais críticos com outros países, em meio a interesse dos EUA

Brasil possui maior reserva de nióbio do mundo, a segunda maior de grafite e terras-raras e a terceira maior de níquel

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva - Ricardo Stuckert / PR

Em meio a interesse dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou nesta quarta-feira que o Brasil pode negociar parcerias de exploração de minerais críticos e terras raras com outros países.

Em entrevista à Reuters, Lula disse que o governo ainda está mapeando esses minérios em solo brasileiro.

— Nós vamos começar a fazer, estou criando um conselho que será ligado à presidência e será tratado como questão de soberania nacional. Isso não significa que a gente não pode negociar com outros países do mundo, que a gente possa fazer parceria de empresas estrangeiras virem para o Brasil explorar minerais críticos — disse Lula.

Lula, no entanto, sinalizou que o país também deve investir na produção de itens criados por minerais críticos, que são essenciais para baterias elétricas e indústria de inteligência artificial.

— Mas nós não vamos permitir acontecer o que já aconteceu no século passado. O Brasil exportar minério e comprar produtos com valor agregado muito alto, nós queremos que tenha valor agregado aqui no Brasil.

Como antecipou o Globo, no fim de julho, o encarregado de negócio dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, manifestou interesse em ampliar o acesso americano a minerais como terras raras e nióbio.

Trunfo na negociação
Os recursos naturais podem servir como nas negociações do governo brasileiro sobre o tarifaço de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A ordem executiva do presidente Donald Trump, que entrou em vigor nesta quarta-feira, isenta da tarifa adicional cerca de 75% dos minérios exportados ao mercado americano — como ferro, nióbio, ouro e rochas ornamentais.

O diálogo incluiu a proposta de uma missão empresarial brasileiras aos EUA ainda neste ano para aprofundar as conversas e identificar áreas de cooperação.

O interesse americano tem um pano de fundo estratégico: a China domina o refino de 19 dos 20 minerais considerados críticos no mercado global, com cerca de 70% de participação.

Para Washington, diversificar fornecedores é prioridade para reduzir vulnerabilidades em cadeias industriais sensíveis.

Para o Brasil, que possui a maior reserva de nióbio do mundo, a segunda maior de grafite e terras-raras e a terceira maior de níquel, o momento pode abrir portas para obter contrapartidas comerciais, acesso a novas tecnologias e investimentos em beneficiamento, etapa na qual ainda depende de processamento externo.