ENTREVISTA

"O Distrito Federal pode mais", afirma ex-interventor Ricardo Cappelli

Confira a entrevista do presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, ao podcast Direto de Brasília, apresentado por Magno Martins

Cappelli (D) foi entrevistado por Magno Martins - Reprodução/YouTube/Folha de Pernambuco

O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli (PSB), tem buscado abrir uma frente ampla para concorrer ao Governo do Distrito Federal. Em entrevista ao podcast Direto de Brasília, apresentado por Magno Martins, o ex-interventor de segurança pública acusou o governador Ibaneis Rocha (MDB) de abandonar a gestão e defendeu a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).


Presidente, que ações a ABDI tem articulado junto ao governo federal e ao setor produtivo para mitigar os impactos e melhorar a competitividade do país no mercado internacional, diante do tarifaço de Donald Trump?
A ABDI tem atuado com a indústria em várias frentes. A gente tem atuado com o programa Destrava Brasil, onde estamos fazendo parceria com agências reguladoras para auxiliar na modernização das suas gestões, dos processos, para simplificar e melhorar a gestão dessas agências, com inteligência artificial. É um choque de gestão, visando reduzir o tempo de análise dos processos das empresas que têm que passar nessas agências. Outra questão importante é a plataforma Recircula Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos, estão passando a exigir das empresas que elas tenham a comprovação de utilização de material reciclado no seu processo produtivo, forçando com isso a sustentabilidade dessas empresas. A ABDI desenvolveu uma plataforma onde a gente, através da Nota Fiscal Eletrônica, consegue bater esses dados na Receita Federal, confirmar a veracidade e atestar o volume, a massa, a quantidade de material reciclado que essa indústria está usando no processo produtivo. A gente entrega um certificado onde consegue comprovar isso.

O ministro Geraldo Alckmin tem conduzido bem as negociações?
Alckmin é um homem público experiente, calejado, muito sábio. Tem conduzido esse processo com muito equilíbrio, com muito pragmatismo, defendendo os interesses brasileiros e ouvindo as empresas brasileiras. Não é porque o outro agrediu que você tem que ter uma postura no mesmo tom. Alckmin tem sido peça chave nesse momento de turbulência com um parceiro comercial importante como os Estados Unidos. Acho que o Brasil tem conduzido bem, usando equilíbrio e firmeza. Equilíbrio para que esse atrito não escale, e firmeza para defender a soberania nacional e o interesse das empresas e dos trabalhadores brasileiros. Acho que esse é o segredo. Porque nos interessa a paz, a harmonia.

Por falar em equilíbrio e firmeza, tem faltado isso aos Bolsonaros? 
Trabalhei com segurança pública durante um ano. Quando vi aquele vídeo do Eduardo Bolsonaro falando que "ou vocês fazem isso, ou vai piorar, ou me dá isso ou vai piorar". Isso é papo de bandido, de sequestrador, uma situação lamentável, demonstra que eles não têm compromisso com o Brasil. O compromisso deles é com a ambição política desmedida e que não é razoável. É muito grave o que o Eduardo Bolsonaro fez e espero sinceramente que a Câmara dos Deputados tome providências com relação ao mandato dele.

E quanto ao presidente Trump colocar como condição para o tarifaço a salvação do Bolsonaro?
Isso é completamente fora de padrão. Os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil. Eles têm um saldo positivo nas relações comerciais com o Brasil. Então não há argumento técnico para isso. E o argumento político ideológico é insustentável, não fica de pé. Inadmissível.

Acredita na condenação dele?
Na minha opinião, há indícios suficientes para que Bolsonaro seja condenado. Tem que aguardar a decisão da Justiça, tem o devido processo legal, ele vai ter direito a apresentar a sua defesa, apresentar o contraditório. Agora, pelo conhecimento que tenho, há elementos de sobra para a sua condenação.

Seu nome foi colocado como pré-candidato a governador do Distrito Federal. Como estão as costuras para 2026?
Falta mais de um ano para as eleições e o que as pesquisas indicam é que quando se soma indeciso e não sei, dá mais de 80%. Então, mais de 80% não têm candidato ainda. As pessoas não estão pensando em eleição. O que as pesquisas estão medindo agora ainda é notoriedade e conhecimento. O governo do Distrito Federal abandonou a gestão da nossa capital federal. A saúde vive um colapso, toda semana tem gente morrendo nas unidades de saúde e a população está vendo isso e vai cobrar isso nas eleições. Tem muita coisa para acontecer ainda. A minha certeza é que estamos trabalhando para construir uma ampla frente democrática no Distrito Federal e que vamos ganhar as eleições no ano que vem.

O que tem feito nesse período para manter e viabilizar sua pré-candidatura?
Moro há 22 anos no Distrito Federal, mas nunca tive uma relação mais forte com Brasília. Até que veio o dia 8 de janeiro, acabei criando uma relação bem forte e comecei a receber estímulos das pessoas de que eu deveria participar mais da vida política no distrito Federal. Conversei também com o meu partido, o PSB, que me estimulou a participar. E desde janeiro tomei uma decisão de conhecer profundamente o Distrito Federal. Todo mês eu pego uma semana, saio de casa e vou morar numa das cidades satélites, na casa das pessoas que me oferecem para ficar. Dispenso carro, motorista, vou trabalhar de transporte público, de ônibus, de metrô, para conhecer efetivamente a realidade que a população passa no seu dia a dia. Estou aprendendo muito com o povo.

Isso seria um resgaste ao estilo populista do ex-governador Joaquim Roriz?
Não. O que estou fazendo é mergulhar na realidade das pessoas. Uma coisa é você fazer uma reunião e voltar para casa, outra coisa é passar a semana inteira lá, indo trabalhar, pegando ônibus, pegando metrô, chegando à noite, fazendo reunião, indo dormir tarde, andando pela cidade toda. Estou conhecendo um Distrito Federal profundo que tenho a certeza que a maioria dos políticos não conhece. É uma realidade completamente diferente. Estou ouvindo muito as pessoas, falando pouco e aprendendo muito com o povo do Distrito Federal.

Como foi a experiência como interventor da área de segurança pública?
Eu digo, sem medo de errar, que Brasília tem uma das melhores polícias do Brasil. O 8 de janeiro só aconteceu porque faltou comando. O problema não foi das polícias. Faltou polícia porque não tinha comando para liderar aquele plano de segurança para o dia 8. O padrão é montar um plano operacional, que diz quantos policiais, viaturas, munição química. E não tinha nada.


O governador Ibaneis Rocha (MDB) foi o culpado então?
O governador dizia o tempo inteiro que estava tudo sob controle. E não estava. Por isso que eu digo o problema não foram as polícias. O que faltou ali foi comando, gestão, liderança para chegar, olhar para o plano, ver que era insuficiente, mandar mais homens. Ele (Ibaneis) foi no mínimo negligente, por não ter comandado e liderado de perto tudo o que aconteceu.

Mas as pesquisas apontam a gestão dele como bem avaliada pela população...
O problema de Brasília não se resolve com obras viárias, e sim com transporte de massa. Não adianta ficar abrindo mais vias que vai entupir de novo. O governo do Distrito Federal paga R$ 2,5 bilhões por ano de subsídio para as cinco empresas de ônibus que operam aqui. O DF é um lugar maravilhoso para se viver, mas ele pode muito mais. Ele nasceu como vanguarda do Brasil. Mas se acomodou em ser a capital administrativa e burocrática do país, e a indústria que a gente vê aqui hoje é só da construção civil. Brasília tem potencial para ter uma indústria do século XXI, da inovação, da tecnologia. Agora, isso tudo se perdeu ao longo do tempo. Acho que é isso que pode ser resgatado.
 

O PSB atualmente ocupa a Vice-Presidência, mas há rumores de que Geraldo Alckmin seria rifado. Como avalia essa situação?
Não vejo o PT querendo rifá-lo, muito pelo contrário. Vejo sempre uma postura muito respeitosa com o nosso vice-presidente Geraldo Alckmin. O PSB defende a permanência dele na chapa com o presidente Lula por dois motivos. Em time que está ganhando não se mexe, e também porque é impossível achar um vice-presidente melhor que Alckmin, pela sua lealdade e capacidade de trabalho extraordinário.