VACINA

Gripe aviária: candidata à vacina do Butantan é capaz de induzir resposta imune, mostra estudo

Análise em animais mostraram que outras candidatas avaliadas também tiveram resposta positiva, mas apenas uma seguiu no desenvolvimento

Vacina do Butantan: desenvolvimento leva em conta ovos para multiplicar vírus usado na vacina - Governo do Estado de SP/Divulgação

O Instituto Butantan publicou na revista Vaccines os resultados de análises iniciais, pré-clínicas, com candidatas à vacina de gripe aviária.

A instituição avaliou, inicialmente, opções com três grupos genéticos do vírus para identificar qual teria a melhor resposta diante da infecção por H5N1, quando usado na vacina. Todas as opções apresentaram resultados, mas uma em especial foi selecionada para avançar no processo de desenvolvimento.

A escolhida — e já autorizada pela Anvisa para estudos de fase 1/2 — foi a influenza A (H5N8/Astrakhan).

Trata-se da linhagem que ajudou a criar a melhor resposta imune à cepa responsável por causar um foco da infecção em Montenegro no Rio Grande do Sul e que atualmente circula nas Américas.

O estudo mostra que a vacina tem capacidade de gerar anticorpos sob o regime de duas doses.

"Esse vírus é desafiador, além de levar à alta letalidade, ele gera pouca defesa de reação de anticorpos nas pessoas que pegam. Percebemos que, realmente, comparada com outras vacinas, ele gera títulos (de anticorpos) menores, por isso que a gente precisa de duas doses e adjuvante, que é um componente que vai potencializar essa resposta imunológica", explica Carolina Barbieri, gestora médica de Desenvolvimento Clínico do Butantan.

O desenvolvimento dessa vacina se dá de maneira ímpar: trata-se de uma candidata "pré-pandêmica". Ou seja, um desenvolvimento feito antes mesmo do vírus circular entre a população, mas que mira justamente na atual falta de alternativas terapêuticas diante de um surto generalizado da doença.

"Para nós é um marco. Desenvolvemos todas as etapas no Butantan", afirma Carolina.

"Por ser um produto visando prevenção de pandemia, estamos tentando fazer um desenvolvimento um pouco mais acelerado do que o normal. Isso, é claro, sem influenciar de nenhuma maneira o rigor regulatório. Vamos trabalhar com a população saudável. Então a gente não está mirando focos de gripe aviária para fazer o estudo, uma vez que essa doença não está circulando entre a população. Escolhemos, ainda, cinco centros que têm expertise no desenvolvimentos de vacina (nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco)".

Viviane Botosso, virologista e diretora do Laboratório de Virologia do Butantan, explica que a vacina escolhida para seguir no teste do tem uma maior proximidade com o vírus que está circulando mundialmente, sobretudo nas Américas. A plataforma (o modo de desenvolvimento) da vacina utilizada para essa candidata à proteção para gripe aviária é a mesma que é usada no imunizante da Influenza humana, a vacina da gripe, distribuída anualmente pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Portanto, ambas são vacinas de vírus inativado, fragmentado, produzidas em plataforma de ovos embrionados.

"Dentro do raciocínio de uma preparação para a pandemia, a agilidade tem que estar à frente. A gente tem que ter um produto seguro, ágil, que possa responder rapidamente a uma situação possivelmente pandêmica. Neste caso, já temos uma fábrica montada além de pessoal treinado e gabaritado para trabalhar nesta parte. Conseguimos, assim, ter uma resposta mais rápida", afirma.

Paulo Lee Ho, principal autor do estudo — que também tem pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) — avalia que, caso fosse necessário, seria possível produzir rapidamente, algo como 60 dias, 1 milhão de doses da vacina (após ela avançar no ensaio clínico com humanos, é evidente). A resposta rápida diz respeito ao conhecimento adquirido pelo Butantan nos últimos anos no manejo nesse tipo de fármaco para influenza.

"Uma coisa que eu acho que é importante, que ilustra o esforço do Butantan em se preparar para situações pandêmicas, principalmente associadas com influenza, é que nos preparamos também para produzir um tipo de adjuvante (componente que potencializa o funcionamento dessa e outras vacinas). E vamos iniciar a produção para ter um estoque estratégico aqui no final do ano. A instituição se preparou, aprendeu uma nova tecnologia, em uma nova plataforma de produção", explica.