ESPETÁCULO

Antonio Nóbrega e Rosane Almeida apresentam "Mestiço Florilégio" no Teatro do Parque

Mais recente espetáculo do multiartista pernambucano, em parceria com sua companheira de vida e arte, é uma espécie de antologia da cultura popular brasileira e da própria trajetória do casal

Antonio Nóbrega e Rosane Almeida apresentam "Mestiço Florilégio" pela primeira vez no Recife - Fabio Alcover/Divulgação

Com base na já longeva pesquisa da linguagem da cultura popular brasileira, fruto da profunda miscigenação que configurou nossa identidade enquanto nação, o multiartista Antonio Nóbrega traz ao Recife, pela primeira vez, o espetáculo “Mestiço Florilégio”, com apresentações nestes sábado (9) e domingo (10), no Teatro do Parque.

Criação de Nóbrega e de sua parceira de vida e arte, Rosane Almeida, a montagem reúne canções, peças instrumentais, teatro, dança e cinematografia, e costura as diversas criações da dupla ao longo de mais de 40 anos de trajetória artística comum.

Mestiço Florilégio
O espetáculo “Mestiço Florilégio” estreou em Coimbra (Portugal), há cerca de dois anos. No fim de 2024, começou a circular em algumas cidades brasileiras.

O termo “florilégio” era comumente usado pelos poetas românticos para se referir a “antologia” ou “coletânea de poemas”. E “mestiço” refere-se à mistura étnica que, no Brasil, ensejou uma cultura atravessada, principalmente, pelas identidades indígena, negra e portuguesa.

“É uma antologia no sentido dos nossos espetáculos, dos espetáculos que eu e Rosane fizemos juntos, mas, também, de espetáculos que fizemos independentemente um do outro”, explica Nóbrega sobre “Mestiço Florilégio”, que sintetiza outras obras suas, como “Lunário Perpétuo”, “Rima”, “O Marco do Meio-Dia”, entre outros, tendo como espinha dorsal “Brincante” (1992), que também se transformou em filme, em 2014, dirigido por Walter Carvalho.

“Somos, no palco, somente eu e Rosane… e nossas habilidades. O espetáculo viaja pela dança, pelo teatro, pela canção e também por cenas, projeções audiovisuais. Praticamente o espetáculo todo conversa com com essas projeções”, conta.

Riqueza cultural brasileira
Antonio Nóbrega tem 73 anos de idade e 53 de trajetória artística, contando do seu início no Quinteto Armorial, na década de 1970, a convite de Ariano Suassuna. O jovem instrumentista, que havia estudado violino clássico na Escola de Belas Artes do Recife, passa, então, a se debruçar sobre a cultura popular tradicional.

“A partir desse momento, comecei a me interessar justamente pelas manifestações cênicas, onde estavam a dança, o teatro, a música, populares”, rememora Nóbrega.

“Comecei a visitar os morros, as periferias de Recife, os caboclinhos, os maracatus, as cantorias. Tudo isso me trouxe elementos simbólicos, representações e formas simbólicas, que fui trazendo para o meu trabalho, mas, o meu interesse não era repeti-las, eu não tinha um interesse ‘folclorizante’”.

Mestiçagem
A fonte de inspiração e matéria-prima do trabalho desenvolvido por Antonio Nóbrega, e que ganha ênfase em “Mestiço Florilégio”, é justamente essa cultura mestiça, “cujas bases e matrizes se fundaram e se desenvolveram no estrato sociocultural de classes subalternizadas brasileiras, onde se encontravam os negros, os indígenas, os brancos das classes desarrendadas portuguesas, mestiços e pobres de toda ordem”, esmiúça Nóbrega. 

“A cultura dos portugueses, desse pessoal que ficava dentro do estrato marginal da sociedade, das classes empobrecidas, que vieram para o Brasil por livre vontade ou quase obrigadas, que vai se juntar aos negros e aos indígenas, e vão constituir uma cultura mestiça (...). Ou seja, toda a oralidade, toda poética é ibérica, mas, a rítmica já tem uma presença indígena e afro-brasileira muito fortes”, observa Nóbrega.

SERVIÇO
“Mestiço Florilégio”
Quando: sábado (9), às 20h; e domingo (10), às 18h
Onde: Teatro do Parque - Rua do Hospício, 81, Boa Vista - Recife-PE
Ingressos: a partir de R$ 30, no Sympla
Instagram: @teatrodoparqueoficial / @brincantenobrega